Arguido protegeu o seu rosto dos fotógrafos durante o julgamento e a sentença
Um antigo guarda de um campo de concentração nazi, hoje com 101 anos de idade, foi condenado a cinco anos de prisão por um tribunal alemão por ter sido cúmplice do assassinato de 3.518 pessoas durante o Holocausto.
O homem tinha sido acusado em 2021 de "intencionalmente e com conhecimento de causa" ajudar e ser cúmplice no assassinato de prisioneiros no campo de concentração de Sachsenhausen, em Oranienburg, a norte de Berlim, de janeiro de 1942 a fevereiro de 1945, segundo o Ministério Público em Neuruppin, no estado de Brandenburg.
Foi condenado pelo Tribunal Regional de Neuruppin esta terça-feira, segundo disse a porta-voz do tribunal, Iris le Claire, à CNN.
Le Claire afirmou que o julgamento foi um processo complexo. "Foi extraordinariamente difícil encontrar uma punição apropriada porque os atos que tiveram lugar há muito tempo, e o perpetrador já é muito velho. Tudo isto teve um efeito atenuante sobre a sentença", disse.
O vasto número de pessoas que morreram sob a vigilância do guarda foi também tomado em consideração, sugeriu Le Claire. Segundo a lei alemã, as pessoas consideradas culpadas de homicídio são tipicamente condenadas a penas entre três e 15 anos de prisão.
"A sentença é uma reparação tardia para os familiares e um sinal muito importante da Alemanha", afirmou na terça-feira à CNN Christoph Heubner, da Comissão Internacional de Auschwitz.
Heubner, que acompanhou o julgamento, criticou o número de anos que os tribunais alemães demoraram a apresentar queixa. "Agora a ferida dos familiares pode ser tratada", declarou.
De acordo com Heubner, o condenado tinha sempre negado estar ativo no campo de concentração.
O Conselho Central dos Judeus na Alemanha reconheceu a decisão. "Mesmo que o réu provavelmente não cumpra integralmente a pena de prisão devido à sua idade avançada, o veredicto é de saudar", disse Josef Schuster, presidente do conselho, à CNN.
"Os milhares de pessoas que trabalharam nos campos de concentração mantiveram a máquina de matar a funcionar. Faziam parte do sistema, pelo que também deveriam assumir a responsabilidade por ele", disse Schuster. "É amargo que o réu tenha negado as suas atividades nessa altura até ao fim e não tenha mostrado remorsos".
O nome do homem não foi tornado público, de acordo com as leis de privacidade da Alemanha. As acusações incluíam o envolvimento em tiroteios contra prisioneiros de guerra soviéticos em 1942, e a ajuda e cumplicidade no assassinato de prisioneiros através da utilização de gás venenoso, bem como outras execuções a tiro e o assassinato de prisioneiros através da criação e manutenção de condições hostis no campo de Sachsenhausen.
Sachsenhausen foi construído por prisioneiros e inaugurado em 1936. Dos cerca de 200 mil prisioneiros que por ali passaram, pensa-se que cerca de 100 mil tenham morrido. Durante a Segunda Guerra Mundial, a população prisional do campo flutuou entre cerca de 11 mil e 48 mil pessoas.
Estima-se que seis milhões de judeus tenham sido mortos em campos de concentração nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Também foram mortos centenas de milhares de pessoas ciganas, opositores políticos, homossexuais e pessoas com deficiências físicas ou de aprendizagem.