Cientistas registam pela primeira vez orcas a caçar e a matar uma baleia-azul adulta

CNN , Sana Noor Haq
12 fev 2022, 18:00
Quase todas as orcas que participaram da primeira caçada eram fêmeas adultas

Um grupo de orcas a caçar e a matar uma baleia-azul adulta foi registado pela primeira vez, dizem os cientistas

O episódio aconteceu em março de 2019, em Bremer Bay, na Austrália Ocidental, segundo uma pesquisa publicada na mais recente edição da revista científica “Marine Mammal Science”.

Duas outras mortes de crias de baleia-azul foram registadas na mesma zona, em 2019 e 2021.

Embora haja relatos de orcas a atacar esporadicamente baleias-azuis e a causar ferimentos graves, não havia qualquer morte confirmada de um adulto ou de uma cria até agora, acrescentou a pesquisa.

Quando os cientistas avistaram o primeiro ataque, em março de 2019, entre 12 a 14 orcas estavam já a atacar a baleia-azul adulta, que tinha uma ferida exposta profunda no focinho. Marcas de dentadas indicavam que a maior parte da barbatana dorsal também já tinha sido arrancada.

As orcas - referidas no estudo como “baleias assassinas” - continuaram a atacar a presa durante 20 minutos, enquanto a baleia-azul adulta "batia e agitava a cauda”, como mecanismo de defesa, de acordo com a pesquisa.

O grupo matou a baleia no espaço de uma hora depois de ter sido avistado. Mais orcas começaram a juntar-se ao bando, enquanto se alimentavam da carcaça, perfazendo um total de 50 animais. Arrancaram pedaços de carne e dispersaram em grupos de alimentação, com quase 30 orcas ainda a alimentar-se quando a equipa deixou o local.

No segundo ataque, que aconteceu 16 dias depois, a cria de baleia-azul parecia estar morta passados 15 minutos do início da observação por parte da equipa. Os cientistas identificaram 26 baleias que também participaram do terceiro episódio de caça.

O episódio final de caça durou quase três horas, e o número de orcas presentes variou entre as 50 e as 75.

Pelo menos 16 orcas foram comuns nos três ataques.

As baleias assassinas fêmeas são mais propensas a iniciar ataques porque têm crias para alimentar e, portanto, mais vezes do que os machos, precisam de comida.

O primeiro ataque atraiu várias aves marinhas, incluindo pardelas-de-patas-rosadas, painhos-casquilho, calca-mares e pelo menos um albatroz-de-sobrancelha.

“As orcas são ferozes e têm uma preferência por lulas, peixe e baleias-bicudas-de-cuvier. Nos últimos anos, aumentou o registo do número de baleias-bicudas-de-cuvier apanhadas e, nesta região, as orcas são também conhecidas por apanharem baleias-de-bossas e baleias-anãs”, disse John Totterdell, investigador do Centro de Investigação de Cetáceos que esteve envolvido na pesquisa.

“Sugere-se que a predação por parte das orcas tenha prejudicado a recuperação da população de baleias cinzentas no noroeste do Pacífico, mas na Austrália, com muitas espécies de baleias conhecidas por serem alvo das orcas, o impacto desta predação nas populações é ainda desconhecido.”

“Este estudo, combinado com a nossa investigação recente, destaca a necessidade de uma maior compreensão da ecologia da população de orcas para que possamos determinar melhor o impacto que têm no ecossistema marinho das águas australianas.”

As orcas são o maior membro da família dos golfinhos, mas foram apelidadas de “baleias assassinas” por antigos marinheiros que viam grupos de orcas a atacar espécies maiores de baleias, segundo a Whale and Dolphin Conservation, uma organização sem fins lucrativos.

As baleias-azuis são os maiores animais da Terra e podem pesar até 33 toneladas, cerca de 33 elefantes, segundo a World Wildlife Fund. Sendo uma espécie ameaçada, as principais ameaças à sua sobrevivência incluem a crise climática e a perda de habitat, bem como ficarem presas em material de pesca.
 

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