Já começou a maratona de jantares e almoços de Natal? Saiba como acalmar o estômago e evitar o inchaço e a azia

10 dez 2022, 08:00
Jantar de natal (Pexels)

Há estratégias que pode adotar à mesa ou após estas grandes refeições que lhe permitem passar ao lado destes sintomas digestivos que podem prolongar-se durante vários dias

Dezembro é sinónimo de jantares e almoços de Natal de mesa farta e longos menus que tornam difícil saber quando devemos parar de comer. Geralmente, esta sensação de impotência à mesa traduz-se depois num desconforto abdominal e numa sensação de azia e enfartamento que pode demorar horas e até dias a passar.

Se costuma sofrer com estes sintomas na quadra natalícia, saiba que não está sozinho. Na verdade, as queixas relacionadas com sensação de inchaço e azia são muito frequentes por esta altura, garantem dois gastroenterologistas e uma nutricionista contactados pela CNN Portugal, que enumeram vários conselhos sobre como evitar ou aliviar este desconforto.

Mas antes, importa perceber porque nos sentimos assim após estes jantares e almoços festivos. De acordo com José Pedro Rodrigues, gastroenterologista no Hospital Lusíadas, estes sintomas devem-se à "alteração do nosso padrão alimentar, quer pelo que se come, quer pela quantidade que se come".

Além disso, a nutricionista Margarida Vieira aponta que, muitas vezes, "o corpo dá sinais de que está satisfeito, mas a maioria das pessoas não está atenta" a esses sinais, daí que acabe por comer em excesso, o que provoca essa sensação de azia e inchaço.

Estes sintomas têm uma duração muito variável, podendo durar "de horas a dias", além de que "são geralmente flutuantes", ou seja, tanto pode melhorar como piorar num curto período, acrescenta o gastroenterologista Jorge Canena. Por isso, se os sintomas forem persistentes, prolongando-se "durante semanas ou meses", o médico aconselha que seja visto por um gastroenterologista, "quanto mais não seja para ter a certeza que esses sintomas não têm nenhum caráter patológico, isto é, que só estão associados ao mau funcionamento do tubo digestivo e, portanto, não tem nenhuma doença grave por trás".

O que fazer durante a refeição para evitar estes sintomas?

A nutricionista Margarida Vieira também salienta a importância de uma alimentação mais consciente que passa precisamente por uma mastigação adequada. "Deveríamos fazer entre a 15 a 30 mastigações a cada garfada", aponta. 

"Com a má mastigação, os alimentos não ficam bem triturados nem bem ensilvados, logo, estamos a dar mais trabalho a um órgão que não tem essa função - ao estômago - que acaba por não fazer uma boa digestão", explica a nutricionista.

Além disso, acrescenta, quem não faz uma mastigação correta e come muito rápido, "provavelmente come o dobro do que devia", uma vez que não está atento aos sinais de saciedade.

Limitar o consumo de certos alimentos. O cardápio dos jantares de Natal e Ano Novo costuma ser recheado de alimentos ricos em gordura e pratos muito condimentados, como os típicos fritos que dão cor à mesa de Natal, mas, segundo José Pedro Rodrigues, é necessário limitar o seu consumo.

"Os alimentos com muita gordura podem atrasar significativamente o esvaziamento do estômago, o que pode levar a sintomas de desconforto e inchaço", explica.

Por sua vez, o gastroenterologista Jorge Canena recomenda que se evitem alimentos muito ricos em lactose e glúten, "que geralmente são nocivos para o tubo digestivo".

Moderar o consumo de álcool. As bebidas alcoólicas também devem ser consumidas "com moderação", uma vez que o álcool "pode agravar os sintomas do estômago e aumentar a presença de refluxo", adverte o gastroenterologista José Pedro Rodrigues.

Beber água em detrimento do álcool ou alternar entre os dois durante uma grande refeição é um dos conselhos dos especialistas, que explicam que, se não beber água, o intestino vai buscar os fluídos necessários ao resto do corpo, deixando-o desidratado e fraco.

Tarde demais. Comi demasiado. O que faço agora?

Quando comemos em excesso, geralmente ocorre o chamado refluxo, que consiste no retorno do conteúdo do estômago para o esófago - uma consequência do ácido excessivo no estômago. É por isso que, depois de uma grande refeição, sentimos, por vezes, uma dor no peito, principalmente quando estamos deitados, e dificuldade em engolir.

Para evitar estes sintomas, os especialistas contactados pela CNN Portugal recomendam dois passos:

Fazer um exercício leve, como uma caminhada. Se depois do jantar ou almoço se sentir enfartado e indisposto, o pior que pode fazer é deitar-se. Por muito tentador que seja, deitar-se logo após uma grande refeição pode provocar azia, pelo que os médicos aconselham a fazer um exercício leve, como uma caminhada, que, garantem, "ajuda no processo digestivo e a minimizar os sintomas".

"Se tiver sintomas digestivos, principalmente enfartamento ou refluxo, afaste as refeições da hora de deitar para permitir um adequado esvaziamento gástrico", aconselha o gastroenterologista José Pedro Rodrigues.

Recorrer a ajuda farmacológica. O médico Jorge Canena recomenda ainda alguns medicamentos que podem ajudar a aliviar os sintomas de inchaço e que podem, aliás, ser tomados profilaticamente antes destes jantares ou almoços que sabemos que vão ser de excessos. 

"Geralmente aconselhamos dois tipos de medicamentos: um grupo de medicamentos que designamos por inibidores de bomba de protões, que diminuem a produção de ácido pelo estômago, e outro grupo conhecido por procinéticos, que aumentam a velocidade de esvaziamento do estômago. Aliás, se a pessoa estiver habituada a ter sintomas digestivos e não conseguir controlar os excessos, o ideal é que tome [estes medicamentos] profilaticamente", afirma o gastroenterologista, acrescentando que esta toma prévia "é muito comum".

Questionado sobre se essa estratégia é correta, o médico reconhece que "o ideal seria a pessoa ter uma alimentação mais regrada", mas, sendo "muito difícil" evitar excessos nestes jantares da quadra natalícia, considera que este método funciona quase como "uma bengala".

"Talvez não seja a melhor estratégia, mas é uma estratégia vencedora, porque a maior parte desses medicamentos disponíveis são totalmente desprovidos de efeitos secundários", garante.

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