O Natal pode ser bastante stressante. Mas vestir uma camisola feia pode aliviar a pressão

CNN , Marianna Cerini
24 dez 2022, 10:00
Uma história aconchegante sobre as camisolas feias de Natal (CNN Internacional)

As camisolas feias de Natal já fazem parte da cultura natalícia. Já tiveram altos e baixos, mas entraram definitivamente na tradição

Ponha de parte os pinheiros cintilantes, as grinaldas de flores, a gemada, as meias e o amigo secreto do local de trabalho. Chegou uma nova tendência que está muito em voga. Na última década, as camisolas feias de Natal tornaram-se parte integrante da cultura natalícia. 

Sabe do que se trata. Falamos das camisolas de lã, geralmente em diferentes tons de vermelho, branco e verde, feitas de um material duvidoso e com, pelo menos, uma alusão ao Natal. Pode ser um boneco de neve, fitas decorativas, uma rena ou bengalas de doces. Há pontos extra se as camisolas apresentarem pompons em relevo ou sinos. 

Este tipo de roupa tornou-se rapidamente uma parte essencial e universal das festas natalícias, a par das luzes de Natal e do papel de embrulho. Esta indumentária é feia e antiquada, mas, ao mesmo tempo, foi algo que se difundiu bastante. É o equivalente da moda a um filme de Natal da Hallmark, mas com uma boa dose de ironia. 

No entanto, foi preciso algum tempo até que esta peça encontrasse o seu lugar no panteão como um dos essenciais do Natal.  

As camisolas com temas de Natal começaram a aparecer na década de 1950, talvez devido à crescente comercialização associada a esta quadra festiva. Primeiro foram apelidadas de "Camisolas Natalícias", não eram tão extravagantes como as camisolas atuais e eram pouco populares no mercado, embora algumas personalidades da televisão - principalmente os cantores Val Doonican e Andy Williams – tenham, de facto, abraçado o lado mais feio desta quadra festiva. 

Val Doonican a atuar na série da ABC “The Val Doonican Show”. Créditos: Walt Disney Television Photo Arc/Walt Disney Television/Walt Disney Television via Getty (via CNN Internacional)

Mas apenas na década de 1980 é que este artigo atingiu o seu apogeu. A mudança ficou a dever-se à cultura pop e às comédias, com personagens patetas como Clark Griswold, personagem interpretada por Chevy Chase, em "Férias Frustradas de Natal". As camisolas passaram de uma roupa com uma conotação desagradável a algo cativante e símbolo de alegria. Camisolas estampadas com flocos de neve deixaram de ser consideradas uma indumentária que estava na moda, mas refletiam os temas de Natal e eram usadas em festas de trabalho, bem como no dia de Natal.

Chevy Chase em "Férias Frustradas de Natal" Crédito: Warner Bros (Via CNN Internacional)

O reaparecimento deste género de roupa não durou muito e na década de 1990 perderam popularidade. Passaram a ser algo que apenas os familiares mais velhos e fora de moda pensariam em usar ou oferecer. Na passagem para o novo milénio, este tipo de roupa foi considerado um incidente da indústria da moda. 

Pense no filme "Diário de Bridget Jones", de 2001, no qual Mark Darcy, personagem interpretada por Colin Firth, se vira para cumprimentar Bridget (Renée Zellweger) numa festa de família. Ele vestia uma camisola de malha nada atraente, com uma rena gigante de nariz vermelho. Bridget ficou horrorizada. Caso tenha visto o filme, muito provavelmente também ficou assim. No entanto, também sorriu, tal é o seu poder emotivo. 

Colin Firth no filme "O Diário de Bridget Jones". Crédito: Miramax/Everett Collection (via CNN Internacional)

O início dos anos 2000 também viu esta roupa ganhar uma nova vida na quadra natalícia. De acordo com o "Livro das camisolas feias de Natal: o guia para vestir a sua camisola feia", as festas das camisolas de Natal começaram a ganhar fulgor na época em que Bridget estava a recuar por causa da roupa de Darcy. 

Brian Miller, um dos autores do livro e fundador da loja “online” UglyChristmasSweaterParty.com, disse que o primeiro encontro temático ocorreu em Vancouver, Colúmbia Britânica, em 2002. "É difícil dizer o que desencadeou a mudança de perspetiva. No entanto, quando alguém vestiu as camisolas de maneira bem-humorada, as pessoas começaram a ver o lado cómico da roupa e pensaram que podia ser divertido usar essa peça que estava esquecida no armário, em vez de a verem como uma camisola horrível que ninguém queria”, sublinhou Miller, numa entrevista telefónica. 

Na década seguinte, as camisolas festivas evoluíram e tornaram-se "uma nova tradição natalícia", como Miller a descreveu. "Tornou-se o azevinho da nossa geração", acrescentou. "O que é bastante notável, quando pensamos sobre o assunto". 

Gigantes da moda rápida, como a Topshop, e revendedores sofisticados, tais como a Nordstrom, começaram a encher as suas prateleiras e os seus “sites” com “designs” apelativos a cada quadra festiva. As lojas “vintage” e o Exército de Salvação aproveitaram a tendência e aumentaram os seus stocks de bonecos de neve felpudos e camisolas com pais natais. Até os nomes proeminentes da moda se deixaram influenciar por esta peça de vestuário. Em 2007, Stella McCartney lançou uma camisola cujo tema eram os ursos polares. Seguiram-se-lhe, em 2010, a Givenchy e, no ano seguinte, a Dolce & Gabbana. 

Mas 2012 foi um ponto de maior afirmação para as camisolas feias. A instituição de caridade britânica Save the Children lançou o Dia da Camisola de Natal, um evento de angariação de fundos que incentiva as pessoas a vestirem as suas camisolas mais estranhas. O jornal britânico The Telegraph descreveu o artigo como "o item obrigatório desta temporada", ao passo que o New York Times escreveu sobre as corridas temáticas com camisolas feias de Natal, os ralis dos “pubs”, bem como sobre os revendedores “online” especializados nos Estados Unidos. Simultaneamente, as camisolas passaram a ter mais enfeites, sinos e detalhes malucos, atingindo o auge do mau gosto. 

Kanye West Crédito: John Shearer/WireImage/WireImage (via CNN Internacional)

Na verdade, a ascensão das redes sociais apenas aumentou o estatuto das camisolas feias. Hoje, competimos para mostrar o nosso amor pelas camisolas de Natal no Instagram, enquanto qualquer um, desde o revendedor em larga escala Target, até à cadeia de comida rápida Red Lobster, bem como outras marcas, oferecem as suas próprias versões desta roupa. West adotaram, de igual forma, a tendência. Jimmy Fallon, o apresentador de um “talk show” até começou a ter uma rubrica no seu programa chamada "12 Dias de Camisolas de Natal", que ainda hoje é exibida. 

"Quando participei na minha primeira Festa das Camisolas Feias, no início dos anos 2000, nunca tinha imaginado que esta peça de roupa teria este sucesso", disse Miller. "Embora seja fácil entender o porquê. As camisolas feias podem ser usadas por qualquer pessoa, desde a minha filha no concurso de camisolas feias na escola, até aos funcionários do escritório na sua festa de fim de ano. Elas são democráticas e muito divertidas. O Natal pode causar bastante stress. Por isso, vestir algo ridículo pode ajudar a aliviar a pressão." 

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