Parte de foguete poderá colidir com a Lua nas próximas semanas

CNN , Katie Hunt e Ashley Strickland
1 fev 2022, 12:44
A lua vista de Cannes, no sul de França. Foto: Laurent Emmanuel/AFP/Getty Images

Esta colisão poderá acontecer no dia 4 de março de 2022

Segundo os especialistas espaciais, uma secção do foguetão Falcon 9 descontrolada pode cair na Lua nas próximas semanas, um evento que pode deixar uma cratera no lado oculto do satélite natural.

O foguetão Falcon da SpaceX foi usado em 2015 para lançar para órbita o Deep Space Climate Observatory, ou DSCOVR, e tem andado a flutuar na zona externa do sistema Terra-Lua, desde então. 

Bill Gray, um investigador independente dedicado à dinâmica orbital que foi o primeiro a divulgar a colisão iminente, disse que, pelos seus cálculos, esta secção do foguete deve atingir a Lua a norte do seu equador “numa margem de um minuto” das 7h26 (hora na Costa Leste dos EUA) no dia 4 de março. A forma como o objeto se desloca dificulta uma localização exata, acrescentou, embora seja provável que varie apenas alguns quilómetros.

“Neste momento, não temos mais dados porque o objeto está muito próximo do Sol. A 7 e 8 de fevereiro, teremos uma breve oportunidade de examiná-lo e obter mais dados, e a hora e o local do impacto serão melhor determinados”, disse Gray por e-mail.

A NASA divulgou uma declaração na quinta-feira sobre o rastreamento do objeto.

“A NASA está a monitorizar a trajetória de uma segunda secção do Falcon9 da SpaceX, que apoiou a Força Aérea dos EUA (agora Força Espacial dos EUA) no lançamento da missão Deep Space Climate Observatory (DSCOVR) em 2015”, disse Karen Fox, Diretora de Comunicações Científicas da NASA.

“Essa missão é uma parceria entre a NASA, a NOAA e a Força Espacial dos EUA. Depois de completar o seu voo, a segunda secção foi colocada numa órbita propositada de eliminação heliocêntrica para longe da Terra”, acrescentou Fox.

“Na trajetória atual, espera-se que a segunda secção colida com o lado oculto da Lua a 4 de março de 2022."

Embora as naves espaciais sejam por vezes lançadas intencionalmente contra a Lua no final de uma missão lunar, por exemplo, é invulgar haver lixo espacial a colidir com a Lua, disse Holger Krag, chefe do Gabinete de Lixo Espacial da Agência Espacial Europeia (ESA).

É mais seguro que a secção do foguete, que tem 15 metros de comprimento, colida com a Lua do que faça uma entrada descontrolada na atmosfera da Terra, disse Krag. Estima-se que o propulsor pese entre 3 a 4 toneladas.

“A secção será permanentemente eliminada. De um ponto de vista de segurança, esta é realmente a forma mais segura de descartá-la. Deixá-la à deriva numa órbita à volta do Sol não garante que não será, um dia, capturada novamente pela Terra," disse ele.

"Gerir o regresso da secção e a sua entrada na atmosfera de uma forma controlada e segura é uma tarefa extremamente complexa. A eliminação na superfície lunar continua a ser o método mais seguro.”

Objetos do espaço profundo

Existem entre 30 a 50 objetos perdidos no espaço profundo, como o foguete da Falcon, que estão desaparecidos há anos, mas nenhuma agência espacial acompanhou de forma sistemática detritos espaciais que estão tão distantes da Terra, disse Jonathan McDowell, astrónomo do Centro de Astrofísica Harvard e Smithsonian.

“Esta é a primeira vez que vamos ver algo que não estava direcionado à Lua colidir acidentalmente com a mesma, mas isso deve-se principalmente ao facto de, até há pouco tempo, não estarmos a prestar atenção”, disse ele por e-mail.

As colisões não intencionais de secções de foguetes com a Lua podem acontecer com maior frequência no futuro, disse Krag, com cada vez mais missões a usar os pontos de Lagrange - pontos de equilíbrio a mais de 1 milhão de quilómetros da Terra, onde as forças gravitacionais do sol e da Terra estão mais ou menos equilibradas. As naves espaciais, como o recém-lançado Telescópio James Webb, são frequentemente colocadas nesses pontos, onde não precisam de usar muito impulso para permanecerem em órbita.

McDowell disse no seu blogue que a órbita da secção do foguete era “um pouco caótica”, pois foi afetada ao longo do tempo pelas gravidades lunar e solar, bem como pela gravidade da Terra.

Tanto Krag quanto McDowell disseram que as agências e as empresas ligadas ao espaço não têm diretrizes claras sobre como lidar com estas situações, e a eliminação destes foguetes, das naves espaciais e dos satélites é muito difícil.

“O tráfego no espaço profundo está a aumentar”, disse McDowell. “E não são apenas os EUA e a Rússia que enviam coisas para o espaço profundo. São muitos países e até empresas comerciais como a SpaceX. Acho que está na hora de o mundo pensar a sério em regular e catalogar a atividade no espaço profundo.”

“Não estamos a dizer que a ‘SpaceX fez uma coisa má.’ É uma prática perfeitamente comum abandonar as coisas na órbita profunda”, acrescentou.

A SpaceX não respondeu imediatamente quando pedimos um comentário por e-mail. Krag disse que a colisão pode ser uma oportunidade científica.

As nuvens de poeira resultantes de um impacto podem ser analisadas em busca de pistas sobre a composição da superfície lunar. Gray disse que missões como a Chandrayaan-2 da Índia também podem tirar imagens da cratera resultante, dando um vislumbre de um recém-exposto solo lunar a uma profundidade de um ou dois metros, uma rara oportunidade de ver o que se esconde sob a superfície da Lua.

O Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA, que orbita a Lua desde 2009, não estará em posição de observar o impacto, de acordo com a NASA.

“No entanto, a equipa da missão está a avaliar se podem ser feitas observações a quaisquer mudanças no ambiente lunar, associadas ao impacto e, posteriormente, identificar a cratera resultante do impacto”, disse Fox.

“Este evento invulgar representa uma oportunidade empolgante de investigação. Após o impacto, a missão pode usar as câmaras para identificar o local do impacto, comparando imagens antigas com imagens tiradas após o impacto. A busca pela cratera de impacto será um desafio e pode demorar semanas ou meses.”

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