Escalada de violência em Myanmar "agrava a situação humanitária" no país

Agência Lusa , AM
26 out 2022, 07:51
Myanmar

Associação das Nações do Sudeste Asiático e ONU alertam que violência contraria o pacto alcançado entre a organização e a junta militar em abril de 2021 para resolver o conflito

A Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) manifestou "grande preocupação" com a recente escalada de violência em Myanmar (antiga Birmânia).

A posição tomada na terça-feira à noite surge na sequência de um atentado bombista contra a maior prisão do país e relatos de um ataque aéreo da junta militar que matou dezenas de civis.

"Registamos com alarme o último recrudescimento dos combates", disse a ASEAN, que integra Myanmar e nove outros países, observando que a atual violência "agrava a situação humanitária" e contraria o pacto alcançado entre a organização e a junta militar em abril de 2021 para resolver o conflito.

Embora o comunicado não nomeie explicitamente os militares, responsáveis pelo golpe de Estado a 1 de fevereiro de 2021, a ASEAN aponta para uma das partes envolvidas "com poder significativo no terreno".

"Apelamos urgentemente a todas as partes envolvidas, em particular a uma com poder significativo no terreno, para que tomem medidas concretas que permitam um processo de diálogo inclusivo e construtivo e procurem uma solução pacífica e a reconciliação nacional", pode ler-se na mesma nota.

Os opositores do regime militar e os meios de comunicação locais noticiaram um ataque aéreo no domingo por aviões do exército num festival organizado por um grupo rebelde no norte do país.

Segundo estas fontes, diz-se que o bombardeamento matou pelo menos 80 pessoas e feriu mais de uma centena, muitas delas civis.

O comunicado da ASEAN referiu-se também ao atentado à bomba na prisão Insein de Rangum - a maior prisão do país e onde se encontra a maioria dos presos políticos birmaneses - que matou oito pessoas - cinco das quais civis - e feriu 18, na passada semana.

Embora o ataque não tenha sido reivindicado, a junta militar acusou um desconhecido grupo chamado "The Special Task Agency of Burma", que descreve como "terrorista".

"Exortamos veementemente à máxima contenção e à cessação imediata da violência (...) em prol da paz, segurança e estabilidade na região", sublinhou a ASEAN.

Crise está a ter "custo castastrófico" para a população

A enviada especial da ONU a Myanmar avisou que a crise política, de direitos humanos e humanitária no país governado pelos militares está a aprofundar-se e a ter "um custo catastrófico para a população".

Noeleen Heyzer disse na terça-feira à comissão de direitos humanos da Assembleia Geral da ONU que mais de 13,2 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer em Myanmar (antiga Birmânia), 1,3 milhões estão deslocadas e que os militares continuam as operações usando força desproporcionada, incluindo bombardeamentos, casas e edifícios incendiados, e o assassínio de civis.

Este foi o primeiro balanço feito na ONU desde que Heyzer visitou Myanmar em agosto e se encontrou com o chefe do governo militar, o general Min Aung Hlaing.

Heyzer disse que fez seis pedidos durante a reunião com o comandante-chefe dos militares, incluindo o fim dos bombardeamentos e da destruição de infraestruturas civis; a entrega de ajuda humanitária sem discriminação; a libertação de todas as crianças e presos políticos; a instituição de uma moratória sobre as execuções; garantias sobre as visitas e o bem-estar da antiga líder do país Aung San Suu Kyi, atualmente detida; e a criação de condições para o regresso voluntário e seguro de mais de um milhão de refugiados rohingya que fugiram para o Bangladesh para escapar à repressão militar.

Os líderes do bloco do sudeste asiático deverão reunir-se no Camboja em novembro para discutir, entre outras questões, a situação no país, mais de 20 meses após a revolta militar.

O Camboja, que detém a presidência rotativa da ASEAN este ano, disse que o líder da junta militar, Min Aung Hlaing, não foi convidado para a cimeira dos líderes.

O golpe militar que derrubou o Governo eleito de Aung San Suu Kyi desencadeou uma violenta repressão militar e mergulhou Myanmar numa profunda crise política, social e económica.

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