Entrevista: Os Velhos e o carinho pelas imperfeições

6 jul 2011, 05:10
Os Velhos

Baterista Pedro Lucas falou sobre o disco de estreia, gravado numa sala de jantar, e sobre a abordagem «crua», «directa» e «pouco moderna» que a banda pratica

A história d'Os Velhos começou como a de tantas outras bandas. De amigos de escola na adolescência que «compraram instrumentos e começaram a tocar juntos» em 2006, até à gravação do primeiro EP, já sob o nome Os Velhos, passaram três anos de aprendizagem em conjunto.

«[Primeiro] começámos a aprender a tocar as músicas dos outros (...) e depois houve uma altura em que começou a fazer sentido experimentarmos fazer a nossas próprias músicas», recordou o baterista Pedro Lucas em entrevista ao IOL Música
.

A gravação de estreia, «imediata» e «pouco pensada», contrastou com o passo natural seguinte: o primeiro longa duração, que implicou um «maior sentido de responsabilidade e uma grande dedicação».

«No início do Verão [de 2010] fomos todos viver para uma casa em Lisboa. E depois o resto do Verão passámo-lo na zona de Évora. Fomos para uma casa num monte durante uns tempos onde ensaiámos as músicas (...) e gravámos o disco numa casa no centro de Évora. Na sala de jantar, mais propriamente. A regie
acabou por ser colocada na sala de estar», explicou o baterista.

A consolidação da convivência enquanto grupo de amigos e de músicos foi a aposta principal de uma banda que quis, acima de tudo, captar a sua própria essência da forma mais crua e directa possível. Para isso, Os Velhos contaram com os ouvidos e a experiência de José Fortes, engenheiro de som de 68 anos que já trabalhou, entre outros, com José Afonso, Sérgio Godinho, UHF e Mão Morta.

«Nós queremos que a gravação soe a nós a tocarmos naquela sala e com as imperfeições que isso tiver. E encontrámos, com muita sorte, o Zé Fortes, que simpatizou muito com essa nossa vontade.»

«Há pequenas imperfeições que nós acarinhamos. Vamos para sempre lembrar-nos que no "Maria Diz", a certa altura, a corda partiu-se e continuámos a tocar e ficou gravado assim», lembrou o músico com orgulho.

Manuel Fúria, vocalista d'Os Golpes e fundador da editora d'Os Velhos, a Amor Fúria, foi outra das peças fundamentais na gravação do disco, especialmente quando «ao 17º take
uma pessoa já não sabia se aquilo estava a soar bem ou não», confessou Lucas.

Agora, com o álbum nas lojas e com concertos para dar, Os Velhos querem mostrar o trabalho feito sem se preocuparem com quem os mete no mesmo saco com outras bandas de «roque enrole» cantado em português do eixo FlorCaveira - Amor Fúria.

«É muito fácil ter a visão mais superficial da coisa. "Agora estão aqui estes todos, estão nas mesmas editoras, cantam todos em português e é tudo a mesma coisa". Isso é injusto e não é verdade. Nós respondemos por aquilo que fazemos e gravamos. Fazemos as músicas que achamos que têm de ser feitas», defendeu o baterista d'Os Velhos.

Mais do que uma responsabilidade, o concerto desta quarta-feira no Palco Optimus Clubbing, no festival Optimus Alive'11, é uma «oportunidade muito feliz» para a banda apresentar a sua música a um público mais vasto. Nada que altere, porém, a forma d'Os Velhos actuarem ao vivo. «Vamos tocar como tocamos sempre», assegurou Lucas.

E já agora, porquê o nome Os Velhos? «Provavelmente é um nome que consegue condensar em si uma série de coisas das quais gostamos e com as quais nos preocupamos. Gostamos de todo o imaginário que a palavra evoca», esclareceu o músico, admitindo que o nome poderá também estar ligado à forma «pouco moderna» como a banda gosta de fazer as coisas.

«Estamos muito preocupados em fazermos as coisas de forma bastante crua e directa entre quem toca e quem ouve sem haver grandes truques e sem haver grandes perversões de estúdio. E isso é algo que não é muito deste tempo em que existem possibilidades de aperfeiçoar e polir as coisas, o que não nos interessa minimamente.»

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