“Passar algumas horas numa fila para me despedir não é nada comparado com o que ela fez por nós": os primeiros na fila para dizer adeus a Isabel II

Lina Santos , enviada especial a Londres
13 set 2022, 13:09
Vanessa, a primeira na fila para se despedir da rainha (Getty Imagens)

Vanessa é a primeira e quase por acaso. Ela e outros passaram a noite ao relento para serem os primeiros a entrar em Westminster Hall para se despedirem da rainha

Chegou às 23:30 de segunda-feira e foi a polícia, após várias perguntas, que a encaminhou para o local onde passou a noite e onde continuou na manhã desta terça-feira - e por ali vai ficar. Vanessa (que só quer ser chamada assim, Vanessa), 56 anos, vai esperar até quarta-feira para se poder despedir da rainha em Westminster Hall, Londres. E tinha mesmo de o fazer. 

Mas porquê? Porquê esperar 48 horas ao relento e, como a própria diz, “com um pouco frio”? A relação com a rainha vai até à infância. Tinha 10 anos quando no Sri Lanka, antigo Ceilão, o tio foi feito cavaleiro pelo rei George VI. Mais tarde, a filha esteve com a rainha nas Forças Armadas. Ou, simplesmente, como acaba a dizer à CNN Portugal: “Tinha mesmo de prestar o meu tributo à rainha”.

Vanessa, aliás, nunca planeou estar aqui agora, nem ser a primeira na fila. O que queria mesmo era vir na manhã de quarta-feira. Esta segunda-feira quis ver como tudo se ia passar e foi até à praça de Westminster para saber onde é que a fila ia começar. E foi depois de perguntar a um polícia que soube onde tudo teria início - do outro lado da ponte de Lambeth Bridge, a 10 minutos a pé de Westminster Hall. 

Durante a noite trouxeram-lhe cobertores. “Fiquei ali no banco e na cadeira”, diz apontando para o local onde agora está. Com o Tamisa do outro lado do muro e vista para as traseiras de Westminster. 

O sol da manhã desta terça-feira foi breve. Vanessa veste um casaco azul de chuva e cachecol fino. Quando as câmaras das televisões se afastam senta-se num banco pequeno dos que dobram. Também tem uma cadeira verde que agora está cheia de pequenos objetos. São tantas as solicitações que já está sem bateria. Um amigo aproxima-se, ela pede-lhe que o power bank. Dali não pode sair. 

Não é a primeira vez que faz algo assim. Em 1997 foi uma entre os milhares que esperaram para se poder despedir da princesa Diana. “Foi um dia de espera na fila.” 

Apesar de ter decidido sozinha ficar na fila, Vanessa e as outras quatro pessoas que estavam à espera esta terça-feira de manhã estão a receber “comida e bebidas quentes” da parte da Casa Real. 

Esta tarde, explicaram à CNN Portugal, vão libertar informação, nomeadamente como obter pulseiras que vão ser distribuídas, atribuindo um número na fila.

No segundo lugar estava um lugar vazio, marcado por uma cadeira e uma bandeira do País de Gales. No terceiro um colchão marca a ocupação. O seu proprietário regressa para contar que também ele passou a noite de segunda-feira neste sítio na margem do Tamisa.

“Adoro a minha rainha. Tenho de mostrar o meu respeito, por isso cheguei cedo, para garantir que fico à frente da fila. Se vier mais tarde tenho de esperar em pé, assim posso esperar sentado. A nossa rainha fez tanto por este país e pela Commonweatlh”, diz Roy Morrison, nascido na Jamaica há 50 anos, desde os 14 no Reino Unido. 

“Em tempos de crise sempre fez questão de nos acalmar e acho que tinha muito humor, apesar de nunca a ter conhecido”, continua. “Passar algumas horas numa fila para me despedir não é nada comparado com o que ela fez por nós. Tomou uma decisão com 21 anos e manteve-a. Que mulher extraordinária.”  

E agora que há um novo rei, como o vê? “Ele está a aprender há tanto tempo, de certeza que fará bem o lugar”, ri-se. “De certeza que a mãe o ensinou bem e vai deixar-nos orgulhosos. Temos de lhe dar uma oportunidade.” 

Westminster prepara-se para receber o corpo da rainha

Enquanto Vanessa, Roy e os demais esperam, junto a Westminster Hall está a ser montada toda a operação que culmina com o velório a partir das 17:00 desta quarta-feira. A polícia inspeciona todos os locais, há seguranças com a missão de controlar a multidão ao longo das principais avenidas em intervalos regulares e já estão montadas dezenas de casas de banho portáteis nas imediações. Alguns passeios já estão interditos e o número de polícias cresce hora para hora. 

Cerca de 10 mil agentes da polícia estão destacados para esta operação, parte deles oriundos de outras cidades inglesas. 

Para lá dos portões de Westminster, ainda fechados, já é possível ver o grande aparato policial que implica esta operação - muitos e armados. Todos os monumentos desta zona estão fechados. É o caso da Abadia de Westminster´, onde um funcionário à porta explica que as homenagens não vão decorrer neste lugar mas em frente, em Westminster Hall, aberto 23 horas por dia ao público. 

 

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