Moeda inglesa: onde o rei Carlos III terá de esperar muitos anos para reinar sozinho

18 set 2022, 09:00
Libras de 2017 ao lado de um exemplar mais antigo (AP Photo/Kirsty Wigglesworth)

O rosto de Isabel II continuará a ser uma presença quotidiana por vários anos ou até mesmo décadas nas libras britânicas. E só exemplares raros de moedas e notas com a imagem da rainha vão tornar-se em peças valiosas, garante especialista inglês Dominic Chorney

Muda o hino "God Save The King", mudam documentos oficiais e mudará também o dinheiro no Reino Unido, após a morte de Isabel II. Mas não de um dia para o outro. As notas, mais frágeis, serão as primeiras a sair da rua. As moedas vão permanecer em circulação com o rosto de rainha, algumas datadas de 1971, ao mesmo tempo que aparece o primeiro exemplar com o rosto de Carlos IIITem sido assim nas últimas décadas, diz o especialista em moedas antigas Dominic Chorney, em entrevista à CNN Portugal.

“Entre pence e libras, devem existir 39 mil milhões de moedas da rainha Isabel II em circulação”, calcula o historiador. “Não vejo por que fariam qualquer esforço para as retirar de circulação”. E tão-pouco foi assim que se fez no passado: “Antes da rainha e até ainda da atual moeda corrente, houve moedas de múltiplos monarcas ao mesmo tempo até aos anos 70 - de George V, George VI, até a rainha Vitória”. Foi apenas em 1971, quando o sistema dos xelins saiu de cena que Isabel II ‘reinou’ sozinha no dinheiro do Reino Unido. “Claro que depois da coroação de Carlos vão emitir novas moedas de Carlos III e vão conviver com as da rainha durante algum tempo”. 

A declaração de pesar da CEO do equivalente britânico à Casa da Moeda, em Portugal, confirma-o. “A Royal Mint trabalhou com a rainha durante o seu reinado - detalhando o seu percurso como nova rainha até uma respeitada chefe de Estado através de cinco retratos e garantindo que cada nova moeda do Reino Unido recebia o seu selo de aprovação pessoal. O notável legado da monarca que mais tempo serviu aos britânicos viverá connosco por muitos anos ainda”, diz Anne Jessopp, CEO da fábrica de moedas dos britânicos.

Há outra tradição que se espera que a Royal Mint cumpra com Carlos III. Mostrando uma moeda do tempo de George VI, que morreu 1952, e outra de Isabel II, Dominic Chorney sublinha que o rei está virado para a esquerda e a rainha para a direita. Carlos III deverá aparecer, de novo, virado para a esquerda. “É uma tradição das moedas inglesas. Sempre que há um novo monarca, ele olha na direção oposta ao do anterior. Portanto, as próximas moedas vão, quase de certeza, olhar para a esquerda”. 

“A tradição remonta ao último rei Carlos que tivemos, no século XVII”, precisa Dominic Chorney. É o porquê que é ainda um mistério para os historiadores. Uma hipótese? “Isto acontece depois de [Richard] Cromwell, que tinha morrido recentemente levando à restauração da monarquia, e há a teoria de que o novo rei estaria com o rosto no sentido oposto para marcar o início de uma nova época e distanciar-se desse momento”. 

 

O momento de Carlos III 

Logo depois da coroação do rei Carlos III (apontada para o próximo verão), “a Royal Mint deverá emitir uma coleção do rei”, diz Chorney. E nessa ocasião será a primeira vez, em 50 anos, que voltarão a circular moedas com o rosto de dois monarcas.

O retrato escolhido para a moeda deverá resultar de um concurso. “O último projeto da rainha, em 2015, foi de Jody Clark e é interessante porque a rainha nunca realmente se sentou para um retrato desenhado. O design foi feito a partir de fotografias e depois digitalizado”, conta Chorney, deixando uma pergunta: “Irá Carlos III seguir por esta via ou optar por formas mais tradicionais e ter o retrato feito? Eu diria que ele seguirá métodos tradicionais, pois é um muito tradicional membro da família real”. 

Por essa altura, e seguindo o que tem acontecido até aqui, serão cunhadas edições especiais destas primeiras moedas que serão valiosas (e raras). Aconteceu também em 1953, quando Isabel II foi coroada, quando se produziram as primeiras moedas com o design da artista Mary Gillick, inovadora ao mostrar um poucos dos ombros da rainha. Não se sabe ao certo quantas coleções destas moedas foram emitidas, os dados apontam para dez, e quase todos estão em arquivos e museus, incluindo os arquivos reais e a própria Royal Mint, segundo Dominic Chorney. Um conjunto já foi vendido por 250 mil dólares pela A.H. Baldwin & Sons, onde o historiador trabalha.

No Reino Unido, outra ocasião tradicional para oferecer moedas especiais é a quinta-feira santa, conhecida como Maundy Day, nota o especialista. No lugar do lava-pés do século XVIII, ou dar roupa e comida do século XIX, impôs-se a tradição de oferecer dinheiro a tantas pessoas quantas o monarca em exercício tiver de anos e edições especiais da Royal Mint. 

Quanto aos pences e libras que circulam nos porta-moedas nos dias de hoje, está por provar que o seu valor venha a crescer. “As pessoas podem guardá-las, mas vai demorar muito tempo até terem valor, portanto até moedas do início do reinado da rainha não são assim tão valiosas. Pode aumentar o seu valor mas não vão ser uma mina de ouro”, diz Chorney. A não ser, claro, as tais edições limitadas, em ouro ou com uma história que as distinga das demais: “enganos, acidentes, não terem sido feitas em número suficiente”. 

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