O Maisfutebol consultou sete scouts, homens que fazem da observação de jogadores a sua profissão, para tentar antecipar quem poderá ser a jovem estrela do Qatar 2022. Houve três atletas que recolheram dois votos, mas há muito mais promessas que vai valer a pena seguir de perto durante o próximo mês.
Poucas reuniões de trabalho têm a magia de um Mundial de futebol: os melhores do mundo, colegas indicados pelo talento, encontram-se para a maior festa das nações.
Num Mundial há por isso uma mistura explosiva, que torna cada competição especial: há futebol, claro, há festa, há os países em confronto e há sobretudo genialidade à solta.
Nós, no nosso sofá, devorámos tudo com aquela sensação de que estamos a assistir à História, assim mesmo, em caixa alta, a ser escrita nos livros que vamos deixar aos nossos netos. Independentemente do desfecho, vai ser sempre épico e inesquecível.
Ora por isso, e porque vem aí um mês que nos torna mais felizes, a nós que amamos este jogo, o Maisfutebol pediu a sete analistas do jogo, homens que fazem do scouting e de observar jogadores uma forma de vida, que indicassem quem pode ser o jogador revelação do Mundial.
Enfim, para que não lhe falte nada.
Vale a pena dizer que houve apenas três jogadores que receberam mais do que um voto, pelo que serão, à partida, os maiores candidatos a terminarem a competição na mó de cima.
Foram eles Cody Gakpo, extremo de 23 anos do PSV que representa a seleção dos Países Baixos e já é pretendido por meio mundo. Foi também o avançado Jonathan David, de 22 anos, estrela da seleção do Canadá e do Lille, que já soma mais de 40 golos em três anos de Liga Francesa. E foi por fim Mohammed Kudus, médio ganês de 22 anos, que está a brilhar a grande altura este ano no Ajax, e que vai ser adversário de Portugal no Grupo H. Um jogador tecnicamente muito habilidoso e que convém conhecer quanto antes.
Depois, claro, há indicações óbvias. Nomes como Musiala, Xavi Simons, Jurrien Timber, enfim, nomes que o Mundo espera ver numa grande competição como esta.
Nas linhas que se seguem pode confirmar quais foram todos os nomes indicados para ganhar o prémio revelação, como no passado já fizeram, por exemplo, Podolski (em 2006), Muller (em 2010), Pogba (em 2014) ou Mbappé (em 2018).
De fora tentou deixar-se nomes demasiado óbvios, como Pedri, Gavi, Phil Foden ou Bellingham. Mas não houve limitações. Veja agora quais as escolhas de cada analista.
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FRANCESCO CAPOZIO (analista da WyScout)
Josko Gvadiol (2002), Croácia e RB Leipzig
«Nascido em 2002, defesa central, pé esquerdo, joga no Red Bull Leipzig. É o típico central moderno, pois, além de ter uma grande capacidade defensiva (sobretudo de cabeça), é um jogador agressivo, veloz, que gosta muito de carregar a bola e construir o jogo.»
Cody Gakpo (1999) – Países Baixos e PSV
«Nascido em 1999, extremo esquerdo que joga de pé direito. É atualmente o melhor marcador da Liga Neerlandesa, joga na ponnta esquerda e adora receber a bola perto da linha para fletir para o centro e rematar ou assistir. Jogador muito elegante apesar da sua altura (187 cm), não é muito rápido, mas tem um grande controlo da primeira bola.»
Jonathan David (2000) – Canadá e Lille
«Nascido em 2000, joga com pé direito e é um avançado centro de grandes recursos. Atacante muito rápido, ágil, com excelente técnica e um sentido de golo muito apurado. Curiosamente pode jogar em qualquer posição de ataque e tem sido determinante nesta seleção canadiana.»
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JOSÉ CHIEIRA (analista de mercado, ex-chief scout de Sporting e FC Porto)
Cody Gakpo (1999) – Países Baixos e PSV
«Encaixado numa seleção que tendencialmente faz muitos golos, o seu perfil vertical, descarado e incisivo deverá ter o espaço concordante com o seu rendimento no clube, e ascender finalmente ao patamar que merece.»
Mohammed Kudus (2000) - Gana e Ajax
«O Gana é sempre desconcertante, para o bem e para o mal: mostra alguma instabilidade defensiva, mas ofensivamente é perigosa: é aí que Kudus se destaca. Fruto dum projeto africano com selo de qualidade europeu (Academia Right To Dream), a sua evolução só não foi mais rápida devido a algumas lesões que comprometeram uma precocidade mais notória.»
Tajon Buchanan (1999) – Canadá e Club Brugge
«Tem uma dimensão física acima da média e uma versatilidade que resulta dum processo cognitivo do jogo muito interessante. A identidade do Canadá passa também por uma proposta ofensiva dominante, onde Buchanan tem sido determinante, varrendo o seu corredor e assegurando um volume de jogo que poderá levá-lo a entrar pelos olhos mais desatentos.»
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RAFAEL SILVA (analista da ProScout)
Jurrien Timber (2001) – Países Baixos e Ajax
«Costuma jogar na seleção como central pelo lado direito numa defesa a três e tem muita liberdade de movimentos, aparecendo muitas vezes na zona dos médios de forma a criar superioridade. Tem boa capacidade drible e associa a isso a capacidade de efetuar diferentes tipos de passe. Defensivamente é agressivo e com ótima leitura para se antecipar.»
Jamal Musiala (2003) – Alemanha e Bayern Munique
«Aos 18 anos é um dos jogadores mais entusiasmantes da Bundesliga. Pode jogar como médio de ligação, médio ofensivo ou extremo em espaços interiores. No aspeto ofensivo é um jogador de drible e de passe, com capacidade para dar variabilidade ao jogo e inteligência na leitura. Defensivamente é solidário, forte na reação à perda e pressionante sobre o adversário.»
Moisés Caicedo (2001) – Equador e Brighton
«Formado no Independiente del Valle, joga numa das equipas mais interessantes da Premier League, o Brighton. É um médio de ligação, com uma boa leitura de jogo, habilidade para efetuar vários tipos de passe e capacidade para pautar os ritmos de jogo. Defensivamente mostra boa capacidade de pressionar, agressividade e bom sentido posicional.»
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PEDRO BOUÇAS (treinador e analista de futebol)
Yunus Musah (2002) – Estados Unidos e Valencia
«É o terceiro ano que está na equipa principal do Valencia, apesar de ter 19 anos, e é muito forte física e tecnicamente. O perfil de jogador que ele é dá muitas nas vistas, porque acelera em condução, é forte no drible no corredor central e é muito importante nos momentos de transição ofensiva: quando a equipa ganha a bola ele acelera e é difícil de travar.»
Luka Sucic (2002) – Croácia e RB Salzburgo
«Ainda não é titular indiscutível, mas acredito que vai sobressair. É um canhoto com grande nível técnico. Costuma jogar como interior, embora também já o tenha visto a partir de uma ala. Tem uma habilidade motora incrível, é muito ágil, pensa bem o jogo, conduz com a bola juntinho ao pé e recorda-me em muitos momentos o Bernardo Silva de há uns anos.»
Andreas Skov Olsen (1999) – Dinamarca e Club Brugge
«Já é um jogador feito. É um desequilibrador, muito forte no um contra um, um driblador nato e de qualidade inegável. Mas para além dessa capacidade de drible, é um jogador que define bem no último terço, tem muita facilidade em fazer golos e em assistir. Na própria seleção da Dinamarca ele marca a cada três jogos. Por isso acaba por juntar o melhor de dois mundos.»
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FRANCISCO GOMES DA SILVA (scout e analista de futebol)
Nicola Zalewski (2002) – Polónia e Roma
«É orientado por Mourinho na Roma e em Itália tem dado nas vistas. Pode jogar a lateral e a extremo, mas deverá alinhar mais adiantado na seleção. A Polónia não é só Lewandowski e o jovem de 20 anos pode prová-lo através da velocidade, qualidade técnica e capacidade no cruzamento. Desequilibra com facilidade no 1x1 para depois servir a referência ofensiva.»
Fatawu (2004) – Gana e Sporting
«O extremo do Sporting pode ter na seleção a oportunidade para brilhar. É considerado por muitos um dos maiores talentos africanos da sua geração e vamos poder vê-lo em ação contra Portugal. Irreverente, criativo e com capacidade para desequilibrar no último terço. O Gana conta com a sua qualidade técnica e imprevisibilidade para ser uma das sensações da prova.»
Jonathan David (2000) – Canadá e Lille
«Avançado completo aos 22 anos, já aponta a grandes palcos há algumas épocas. O jovem do Lille soma três épocas a grande nível na Liga Francesa e agora espera mostrar a sua qualidade ao mundo, levando o Canadá a ser uma das surpresas na prova.3 A mobilidade, força, velocidade e qualidade na finalização fazem com que seja um avançado muito cobiçado.»
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ALEXANDRE ARAÚJO (analista da ProScout)
Garang Kuol (2004) – Austrália e Newcaste
«A transferência para o Newcastle está a dar que falar e é com muita ilusão que adeptos de todo o mundo esperam para o ver no Mundial. Atua sobretudo pela ala direita do ataque, mas procura constantemente jogo interior. De Kuol podemos esperar velocidade com bola, drible e mudanças de direção que o tornam muito difícil de deter em situações de um contra um.»
Hannibal Mejbri (2003) – Tunísia e Man. United (cedido ao Birmingham)
«Apesar de ter nascido em França, o médio ofensivo (que atualmente joga mais como médio interior), representa a Tunísia. Os adeptos do Man United vêem-no como Paul Scholes e anseiam que este venha a ser a solução que falta. Tem uma visão de jogo acima da média e a qualidade nos passes progressivos são a sua maior virtude.»
Xavi Simons (2003) - Países Baixos e PSV
«Despertou atenções muito cedo, ele que foi formado no Barcelona e PSG, mas hoje é a referência do PSV. Tem 10 golos em 22 jogos e parece estar finalmente a provar o seu valor. Médio ofensivo, criativo, atua igualmente descaído pela direita e define muito bem em espaços curtos. É um ativo importante para criar desequilíbrios através de drible, velocidade e qualidade de passe.»
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BRUNO FIDALGO (analista e treinador)
Conor Gallagher (2000) – Inglaterra e Chelsea
«Não vai ser fácil entrar no onze, mas tem aparecido como titular do Chelsea e acredito que consiga espaço para se mostrar. Altamente comprometido e disciplinado taticamente, alia qualidades técnicas que lhe permitem jogar, quase sempre, em espaços reduzidos, por dentro do bloco adversário. De frente para o jogo é forte a conduzir e progredir com bola. Tem muita qualidade no remate exterior e não me surpreenderia que se estreasse a marcar.»
Hugo Guillamon (2000) – Espanha e Valencia
«Não é muito vistoso à primeira vista, mas faz muito para além do simples. Na seleção tem aparecido a central, mas é igualmente encantador a 6. Fortíssimo em todos os momentos de construção de jogo, usa o passe com enorme intencionalidade, disfarça ações, progride, cria espaços pela forma como guia toda a construção. De frente para o jogo é completíssimo. Vai ter uma boa luta para ser titular, mas acredito que recolha atenções.»
Mohammed Kudus (2000) - Gana e Ajax
«Um médio ofensivo feito para jogar em espaços centrais, quase sempre por dentro, em apoios frontais que permitem ligar a equipa. Ágil, rápido e com qualidade técnica para decidir bem mesmo quando pressionado, poderá ter menos visibilidade se a equipa não tiver tanta bola. Este ano está a jogar mais próximo da baliza, os golos têm surgido e acredito que poderão surgir também no Mundial.»