Um Mundial por dia: 2014, a Alemanha é tetra e de caminho destrói o Brasil

9 dez 2022, 00:05
Mundial 2014: Brasil vs Alemanha (REUTERS)

Viagem à história do Campeonato do Mundo em histórias, imagens, figuras, números, frases e curiosidades

Enquanto se escreve nova história no Qatar, o Maisfutebol olha para o que está para trás. De 1930 a 2018, um Mundial por dia em pequenas histórias, figuras, números, frases, curiosidades ou o percurso de Portugal. Pistas para recordar do que falamos quando falamos do Campeonato do Mundo.

Brasil 2014

12 junho a 13 julho 2014

Campeão: Alemanha

2ª lugar: Argentina

3º lugar: Países Baixos. 4º lugar: Brasil

Jogos: 64

Golos: 171 (2,67 por jogo)

Melhor marcador: James Rodríguez (Colômbia), 6 golos

Portugal

O segundo lugar no grupo de qualificação, atrás da Rússia, obrigou Portugal a jogar outra vez o play-off, um duplo compromisso que Cristiano Ronaldo aproveitou para aumentar a sua lenda. Primeiro na Luz, onde marcou o golo que garantiu vantagem frente à Suécia de Ibrahimovic, e depois em Solna, a selar com um hat-trick um jogo épico. Portugal estava na fase final do Mundial, mas sete meses mais tarde teria pouco que celebrar. Paulo Bento cerrou fileiras em torno do seu grupo, levando ao Brasil a equipa mais veterana de Portugal num Mundial, com vários jogadores fisicamente limitados. A começar por Cristiano Ronaldo. O descalabro começou na goleada sofrida frente à futura campeã Alemanha (4-0) e seguiu com uma sucessão incrível de lesões. Ao segundo jogo, Varela segurou no final um empate com os Estados Unidos (2-2), mas apenas adiou a sentença. Só uma combinação improvável de circunstâncias evitaria o adeus de Portugal ao Brasil. Ela não aconteceu e a vitória sobre o Gana (2-1) na última jornada formalizou a despedida.

O Mundial

A Alemanha ganhou no fim e de caminho atropelou o Brasil, que voltou a chorar em casa, agora depois da maior derrota que alguma vez sofreu no Campeonato do Mundo. Um choque que também ganhou direito a nome próprio. Mineirazo. Na decisão estiveram frente a frente velhos conhecidos: Alemanha-Argentina é a final mais repetida em Mundiais.

A organização da competição foi atribulada e longe de consensual no Brasil, com os enormes custos a dividir opiniões no meio da instabilidade social e política no país. Mas mais uma vez quase tudo ficou para trás quando a bola começou a rolar, num Mundial que foi uma festa de golos, reviravoltas e surpresas.

Foi a primeira vez que uma seleção europeia venceu na América do Sul, mas este não foi um grande Campeonato do Mundo para algumas das seleções mais cotadas do Velho Continente. A campeã em título Espanha caiu com estrondo: já estava eliminada ao segundo jogo. Itália e Inglaterra caíram ambas no mesmo grupo e também não sobreviveram à primeira fase, tal como Portugal.

Em contrapartida, apurou-se a Grécia de… Fernando Santos, afastada nos oitavos pela Costa Rica, que disputou o título de equipa sensação com a Colômbia de James Rodriguez, que terminou como melhor marcador. Ambas as seleções atingiram os quartos de final, a sua melhor classificação de sempre. Apagou-se a Europa, destacaram-se as Américas: passaram aos oitavos cinco das seis seleções sul-americanas presentes – a exceção foi o Equador – e três dos quatro representantes da Concacaf – além da Costa Rica, México e Estados Unidos.

A final esteve empatada até aos 113 minutos. O quarto título mundial de uma Alemanha bem mais sedutora do que as suas predecessoras chegou num golo de Mario Götze, que parece ter levado a sério o que lhe disse Joachim Low quando o fez entrar em campo, em cima dos 90 minutos: «Vai e mostra ao mundo que és melhor que Messi.»

A Final

Alemanha-Argentina, 1-0 ap

Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro

Alemanha: Neuer, Lahm, Jérôme Boateng, Hummels, Höwedes; Schweinsteiger, Thomas Müller, Kramer (Schürrle, 32), Toni Kroos, Mesut Özil (Mertesacker, 120m), Klose (Götze, 88m). Treinador: Joachim Low

Argentina: Sergio Romero, Zabaleta, Demichelis, Garay, Marcos Rojo, Lavezzi (Aguero, 46m), Lucas Biglia, Mascherano, Enzo Pérez (Fernando Gago, 86m), Messi, Higuaín (Rodrigo Palacio, 78m)

Marcador: 1-0, Mario Götze (113m)

A final ao minuto no Maisfutebol

Figura

 

Lionel Messi

James Rodríguez foi o melhor marcador e destaque óbvio no Brasil, a mostrar ao mundo o potencial que Portugal já conhecia na caminhada da Colômbia até aos quartos de final. Mas este foi também o Mundial em que Lionel Messi esteve finalmente perto da felicidade com a camisola da Argentina, ele que viveu ao longo de toda a carreira a pressão de não conseguir atingir com a seleção o sucesso e a excelência que banalizou no Barcelona. Depois da estreia ainda adolescente em 2006 e da passagem também frustrante pela África do Sul em 2010, no Brasil Messi foi o farol da esperança da Argentina, que foi avançando e cantando na casa do rival de sempre. «Brasil, dicéme que se siente», cantavam eles, embalando a equipa e o seu capitão, que liderou a albiceleste em campo até à decisão. Messi marcou golos em todos os jogos da primeira fase, desatou o nó nos oitavos no passe para o golo tardio de Di Maria frente à Suíça, avançou para bater o primeiro penálti na meia-final com os Países Baixos e conduziu a Argentina à primeira final em 24 anos. Mas ainda não foi dessa. Como em 1990, quando ainda era Maradona o Deus argentino, a albiceleste não conseguiu levar a melhor sobre a Alemanha e ficou à porta da glória. Quatro anos mais tarde, já depois de ter anunciado a retirada da seleção e reconsiderado, Messi voltou, mas a Argentina não conseguiu ir além dos oitavos de final. A história não tinha acabado. Depois de conseguir vencer o primeiro título maior com a seleção, a Copa América de 2021, Messi preparou-se dar uma última oportunidade ao Mundial e ao mundo em 2022.

Frase

«Peço desculpa a todos os brasileiros» 

As lágrimas corriam pelo rosto de David Luiz, a quem depois do desastre calhou o suplício adicional de ir à «flash-interview». O defesa era o rosto da desolação, após uma humilhação nunca antes vista. Sim, contando com a derrota no Maracanã na decisão do Mundial 1950. O Brasil, de novo treinado pelo campeão do mundo Scolari, já vinha dando sinais de fraqueza, em campo e no controlo emocional dos jogadores. «Chorem menos e joguem mais», dizia dias antes o histórico Cafu. Para a meia-final não havia Neymar, lesionado, nem Thiago Silva, suspenso, mas nada explica o descalabro da equipa, cilindrada pelo rolo compressor daquela Alemanha rubro-negra, de equipamento alternativo inspirado na camisola do Flamengo. O primeiro golo chegou aos 11 minutos e menos de vinte minutos mais tarde tinham entrado cinco na baliza de Júlio César. Terminou 7-1 no Mineirão.

Número

16 golos para um recorde

Os 7-1 do Mineirão assinalaram outro momento histórico. Miroslav Klose apontou o segundo golo do jogo e tornou-se o maior marcador de sempre da história dos Mundiais, ultrapassando o brasileiro Ronaldo. Era o quarto Mundial de Klose, avançado nascido na Polónia – que aliás teve oportunidade de representar, antes de optar pela Alemanha – e que conseguiu com a seleção muito maior notoriedade do que no futebol de clubes. Estreou-se em Mundiais precisamente em 2002 e apresentou-se logo com cinco golos. Quatro anos mais tarde, foi o melhor marcador do Mundial 2006, de novo com cinco golos, e em 2010 voltou a dizer presente na África do Sul, com mais quatro golos. Em 2014, aos 36 anos, começou por aumentar a conta na primeira fase, frente ao Gana, antes de fixar o seu recorde naquela meia-final com o Brasil. Terminou a carreira internacional como campeão do mundo, além de um segundo e dois terceiros lugares em Mundiais.

 

Histórias

A substituição para a história

Países Baixos-Costa Rica, quartos de final. Faltava um minuto para o fim do prolongamento na Arena Fonte Nova, em Salvador, quando Jasper Cillessen viu levantar-se as placas com o seu número e o de Tim Krul. Van Gaal surpreendia o mundo, trocando de guarda-redes para os penáltis. Correu como ele planeara. Krul defendeu os remates de Bryan Ruiz e de Michael Umaña, os Países Baixos seguiram em frente. No final, Van Gaal explicou que já estava previsto, por Krul ser mais fiável nos penáltis, mas que não tinha dito nada a Cillessen «para não atrapalhar» a concentração do guarda-teles. Na meia-final, Cillessen voltou a ser titular. Ironia, o jogo com a Argentina voltou a decidir-se nos penáltis. Mas dessa vez os Países Baixos já tinham esgotado as substituições e Krul não pôde entrar.

A mordidela de Suarez

Suarez voltou a atacar. Depois de ter sido herói com um bis frente à Inglaterra, o avançado uruguaio fez-se vilão no jogo decisivo da fase de grupos com a Itália. Num lance na área, a dez minutos do final, mordeu Chiellini no ombro.  Não era a primeira, nem a segunda vez. Enquanto o italiano mostrava ao árbitro a marca no ombro, o uruguaio ficava sentado, agarrado… aos dentes. Ficou impune em campo e em cima disso Godín ainda marcou logo a seguir o golo do apuramento, que eliminou a Itália. Mas o Mundial acabou ali para Suárez, que receberia o maior castigo de sempre em Mundiais: nove jogos de suspensão, mais quatro meses sem poder jogar. «La Mordida» deu pano para mangas, muitas reações indignadas e, claro, muitas piadas, no primeiro Campeonato do Mundo que se jogou em força na era das redes sociais.

 

O voo de Van Persie

A derrocada da Espanha começou naquele mergulho de Van Persie, um dos golos mais extraordinários que o Mundial já viu. O avançado descobriu o movimento perfeito para receber um grande passe de Daley Blind e voou para dar início a uma goleada histórica. A Espanha até tinha marcado primeiro num penálti de Xabi Alonso, mas acabou cilindrada pelos Países Baixos, que venceram por 5-1. O movimento de Van Persie até ganhou nome próprio nas redes sociais, que se encheram de gente a tentar fazer um #perseing. Até o avô dele, aos 93 anos.

Todos os Mundiais:

1930, a aventura da primeira vez

1934, Itália na Coppa do regime

1938, de novo a Itália entre os ventos da Guerra

1950, quando o Uruguai gelou o Maracanã

1954, quando a Alemanha travou a magia

1958, com o menino Pelé o Brasil enfim deu certo

1962, o génio de Garrincha à solta no bicampeonato do Brasil

1966, Eusébio para a lenda na festa inglesa

1970, a perfeição no tri do Brasil e de Pelé

1974, quando a Alemanha ganhou mas a revolução foi o Futebol Total

1978, a primeira vez da Argentina e muito para lá de futebol

1982, da fiesta aos choques e de Sarriá ao tri da Itália

1986, o recreio de Maradona

1990, e no fim ganhou a Alemanha

1994, o tetra do Brasil na festa made in USA

1998, um Fenómeno perdido na primeira vez da França

2002, o Fenómeno renascido no penta do Brasil

2006, a epopeia de Portugal, a cabeça de Zidane e o tetra da Itália

2010, um novo continente e um novo campeão

Leia aqui mais informação sobre os Mundiais, os resultados e as histórias contadas no livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», do Maisfutebol

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