Os encarnados procuram a primeira vitória no Mundial de Clubes, frente à equipa com mais presenças no torneio, desde a viragem do século
O Benfica, do alto de um plantel que conta com os atuais campeões do mundo pela Argentina, Di María e Otamendi, joga esta sexta-feira com o Auckland City, do alto do orgulho que é levar a Nova Zelândia para o mapa do futebol mundial.
É a segunda jornada do Grupo C do novo Mundial de Clubes, um torneio reformulado para reunir os melhores do planeta e dar palco também aos campeões dos cantos mais longínquos do futebol. E é aqui, nesta equação quase impossível, que se cruza o Benfica com o Auckland City. Um clube da Europa com ambições de passar à fase de grupos, frente a uma equipa que, apesar do nome “City”, joga muito mais com o coração do que com o orçamento.
O Benfica chega a este jogo depois de um empate a duas bolas frente aos argentinos do Boca Juniors num jogo em que os encarnados até estiveram a perder por dois, mas conseguiram empatar através dos golos marcados, precisamente, pelos campeões mundiais pela Argentina, Di María e Nicolás Otamendi. Para o encontro desta sexta-feira, Bruno Lage não poderá contar com o internacional italiano Andrea Belotti, mas terá à disposição um leque de talento e experiência raro no torneio: Di María, um dos melhores jogadores da sua geração; Otamendi, líder dentro de campo; e um núcleo duro de jogadores com qualidade e ambição, constituído por Carreras, Aursnes, Pavlidis ou Kerem Aktürkoğlu.
Do outro lado, o cenário não poderia ser mais diferente. O Auckland City iniciou a sua campanha com uma derrota pesada de 10-0 frente ao Bayern Munique, um dos grandes favoritos ao título. A goleada não foi apenas expressiva: foi um choque com a realidade. O ritmo, a intensidade e a capacidade técnica e física dos bávaros mostraram claramente o que separa uma equipa profissional do topo europeu de uma formação amadora vinda da Nova Zelândia.
Mas o Auckland não desiste. Nunca desiste, tanto que é a equipa com mais participações nesta competição no novo século, com 12 presenças. Já provou a sua resiliência em edições anteriores da antiga versão do torneio, onde já conseguiu passar a fase de grupos em 2009 e em 2014, quando conseguiu ser medalha de bronze, depois de vencer o Cruz Azul. A força dos neozelandeses reside menos na tática e mais no espírito numa espécie de resistência emocional alimentada pelo orgulho de estar presente. A prova disso mesmo é facto de alguns elementos da comitiva de Auckland ter tirado férias - como o guarda-redes Conor Tracey ou o adjunto Ivan Vicelich - para poder defrontar Boca, Bayern e, esta sexta-feira, o Benfica.
E há algo de comovente nas histórias que esta equipa carrega. Ryan De Vries, avançado de 32 anos, é polidor de carros. Passa os dias em Auckland a dar brilho a chapas metálicas, antes de trocar o pano pelas chuteiras ao fim do dia. Jerson Lagos, médio colombiano, é barbeiro. Há ainda, no plantel neozelandês, estudantes, professores e um técnico de piscinas, entre outras profissões. Nem todos vivem do futebol, mas todos vivem para o futebol - maior motivação é impossível.
Bruno Lage não terá dificuldades em motivar os seus jogadores. Não se trata de subestimar o adversário, mas de assumir a responsabilidade de que um resultado que não uma vitória confortável será motivo de alarme num grupo que ainda tem de enfrentar o Bayern de Munique. O Benfica precisa de pontos, mas também de golos e o fator decisivo deste grupo pode passar pelo que cada uma das equipas faz contra o Auckland City. Precisa de fazer valer a diferença não só nos nomes, mas nos golos marcados e sofridos, no fim das contas do grupo C.
No entanto, é difícil olhar para este jogo sem sentir uma ponta de compaixão pela equipa de amadores. O Auckland City sabe que não tem armas comparáveis depois de Gerard Garriga, médio dos Navy Blue, até já ter admitido que são o conjunto “mais fraco”. Mas jogará, certamente, com a leveza de quem não tem nada a perder e com a dignidade de quem já ganhou só por estar presente no Inter&Co Stadium, em Orlando, Flórida, às 17:00.