Mundial 2022: Gana-Uruguai, 0-2 (crónica)

2 dez 2022, 17:37

Lágrimas sem desculpas

Resumindo a campanha uruguaia a estes 90 minutos, é inglório que se despeçam desta forma do Mundial 2022. Mas, por tudo o que (não) fizeram durante a fase de grupos, era expectável. Os sul-americanos foram superiores ao Gana, venceram de forma inequívoca, por 2-0, mas um golo sul-coreano no tempo de compensação derrotou Portugal e eliminou a equipa de Diego Alonso.

O treinador do Uruguai é, sem dúvida, a cara desta eliminação. Embora tenha optado, em boa hora, por regressar à defesa com dois centrais, só agora deu a titularidade a Giorgian de Arrascaeta, que se assumiu como homem do jogo, mas já antes reclamava uma oportundiade.

O Uruguai está com dificuldades em estabelecer a linha da renovação e tem jogadores em clara quebra e fim de carreira. Um deles, Luis Suárez, saiu do Qatar lavado em lágrimas. Mas, agora, chorar pouco importa, porque este cenário há muito que se previa.

FILME DO JOGO

É impossível falar de um Gana-Uruguai sem recordar o encontro entre estas duas equipas no Mundial 2010 na África do Sul. Suárez, na época um futebolista na flor da idade, foi a principal figura desse jogo. Com uma igualdade a uma bola no marcador, os africanos procuravam chegar à vantagem e, no último minuto de prolongamento, dispuseram de uma ocasião flagrante.

Suárez encarnou Maradona e defendeu um remate com a mão, recebendo imediatamente ordem de expulsão. O uruguaio saiu em desespero, com a camisola a limpar o choro, mas ficou à porta do túnel a espreitar o que ia suceder. Ora, Asamoah Gyan desperdiçou, com um remate à barra, e o atacante uruguaio foi à loucura. Nos penáltis, a celeste levou a melhor.

No lançamento da partida, Suárez, visto por muitos no Gana como «o diabo», recusou-se a pedir desculpa aos africanos. Hoje, o Gana não teve vingança, mas sentiu-lhe o cheiro.

O jogo começou da melhor forma para os sul-americanos. Em 2010, foi Gyan, em 2022, a história repetiu-se, mas com Andre Ayew. Por volta dos 20 minutos, Kudus foi derrubado por Rochet na área e, após as imagens do videoárbitro, foi assinalada grande penalidade. Aí, o guardião uruguaio esticou-se e defendeu, dando o ânimo que a equipa precisava.

A partir de então, só deu Uruguai e… Arrascaeta. Suárez até esteve nos dois golos, mas foi o médio do Flamengo quem finalizou as duas jogadas e mostrou que, se calhar, a aposta em lançá-lo a titular só pecou por tardia.

O Uruguai dominava e o Gana pouco se via, sem muita energia. Foi por isso mesmo que Oddo retirou os manos Ayew ao intervalo e lançou homens frescos para o ataque. A entrada ganesa foi promissora, mas rapidamente o Uruguai assentou e começou a dominar o jogo a seu belo prazer, com gestão eficaz da posse de bola.

Os uruguaios estavam tranquilos e a passagem à fase a eliminar já aparentava não fugir. Até que o impensável, aconteceu. Portugal estava empatado a uma bola com a Coreia do Sul, mas sofreu o 2-1 já nos descontos. Ora, assim, os coreanos igualaram os uruguaios em pontos e na diferença de golos, mas tinham mais golos marcados, pelo que passaram para o segundo lugar.

As imagens que se seguiram foram arrepiantes. Adeptos a desesperar nas bancasas, Suárez lavado em lágrimas já no banco de suplentes e a anarquia total no relvado.

Diego Alonso mandou a equipa para o ataque – até Coates jogou a ponta de lança – e obviamente o jogo partiu-se.

Muita cabeça, pouco discernimento, já é um cliché habitual mas voltou a repetir-se.

Antes do apito final, Cavani ainda pediu penálti, não concedido, e os uruguaios perseguiram, em desespero, o árbitro da partida até ao túnel, exigindo justificações.

Uma saída amarga para os uruguaios, que parecem ter chegado tarde ao Qatar e pagaram por isso. Às vezes, ganhar não chega.

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