Cromo do dia: Saiss, o capitão que lavava pratos num restaurante

13 dez 2022, 12:29
Romain Saiss

Pilar defensivo de Marrocos jogou como amador até aos 21 anos, gostava mais de ver Busquets que Messi e sofreu racismo no primeiro jogo em Inglaterra: «Seu porco árabe»

Romain Saiss tem sido uma das grandes figuras da seleção de Marrocos ao longo do Campeonato do Mundo de 2022. O defesa-central enfrenta problemas físicos - como foi notório no duelo com Portugal -, mas não quebra. No fundo, esse é um reflexo da sua personalidade e a justificação para ostentar a braçadeira de capitão. 

Há dois tipos de capitães: os que são altos e gritam com árbitros, adversários e colegas; e depois há Saiss, que lidera pelo exemplo e usa poucas palavras.

Nascido em França há 32 anos, o pilar defensivo de Marrocos jogou como amador até aos 21. Por isso, enquanto representava o Valence no quinto escalão do futebol gaulês, via-se obrigado a fazer horas-extra no restaurante do pai.

«O dinheiro era curto. Ganhava 500 euros e isso só me dava praticamente para o combustível. Portanto, trabalhava no restaurante do meu pai, para o ajudar. Mas só me era permitido lavar pratos e entregar as ementas. Ele pagava-me algum dinheiro, mas foi importante para saber o quão duro é aquele trabalho. Fiz isso por um par de anos. Por vezes, depois dos treinos, também fica a fazer babysitting ao meu irmão, porque os meus pais iam para o restaurante às 18h00 e só voltaram de madrugada», recordou Saiss, já em 2019, ao jornal Express & Start.

Romain Saiss tornou-se profissional em 2011, ao assinar pelo Clermont da Ligue 2. Jogava como médio defensivo e acompanhava o Barcelona para observar todos os movimentos de Sergio Busquets, ignorando outros nomes mais sonantes, como o Lionel Messi. Porém, nos clubes e na seleção de Marrocos, acabaria por recuar para o centro da defesa.

Filho de um marroquino e de uma francesa, Saiss emigrou pela primeira vez em 2016, para representar o Wolverhampton. Lamentavelmente, foi alvo de racismo logo no primeiro jogo que realizou em Inglaterra. «Seu porco árabe», disse Jonjo Shelvey, do Newcastle. 

O defesa superou o período de adaptação e tornou-se uma figura no balneário do Wolves - daí o longo abraço a Rúben Neves no final do Portugal-Marrocos -, destacando-se pela consistência no seu jogo. Em junho de 2022, após seis temporadas no clube inglês, Saiss assinou contrato com o Besiktas.

Este texto foi baseado no perfil de Romain Saiss, que pode ler no dossier dedicado à seleção de Marrocos, um dos vários conteúdos publicados no âmbito da Guardian Experts’ Network, a rede de meios de comunicação que tem o Maisfutebol como representante português, para partilha de informação relativa ao Mundial 2022.

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