Mundial 2022: Marrocos-Portugal, 1-0 (crónica)

10 dez 2022, 17:02

O fim de um sonho

Até ao jogo deste sábado com Portugal, Marrocos só tinha sofrido um golo nos quatro jogos anteriores do Mundial 2022. Fechara a baliza com a vice-campeã em título Croácia, voltara a fazê-lo com a Bélgica (bronze há quatro anos) e sobrevivera a 120 minutos de assédio espanhol. Pelo caminho, só contra o Canadá tinha sido batida e nesse jogo até fora um marroquino (!) a marcar.

Por isso, a equipa das quinas sabia que, talvez mais do que em qualquer outro jogo, era altamente desaconselhável estar em desvantagem contra uma seleção que pode até não ter o talento necessário para fazer campeões do Mundo, mas ganha de goleada em organização a muitas outras e é por isso que, com muito mérito e alguma sorte, tornou-se na primeira seleção africana da história da chegar às meias-finais de um Mundial.

Depois da vitória estrondosa sobre a Suíça (6-1), Portugal voltou a reclamar com propriedade o estatuto de candidato ao título que tinha assumido - mais pela soma das individualidades do que pela força coletiva demonstrada nos últimos tempos - à chegada ao Qatar, mas que se esbateu após a derrota, essa sem consequência de maior, com a Coreia do Sul a fechar a fase de grupos. Neste sábado não faltou vontade, mas faltou quase tudo o que teve de sobra na terça-feira passada: criatividade, irreverência, magia.

Faltou também o rigor que teria impedido que En-Nesyri aproveitasse o erro de Diogo Costa naquela saída fatal da baliza aos 42 minutos.

Antes disso, Portugal foi facilmente decifrável para uma equipa habituada a jogar sem bola, mas igualmente confortável quando a teve: o chutão para a frente foi um recurso adiado até ao limite e o desembaraço e a qualidade técnica dos homens da frente permitiram-lhe espreitar transições perigosas.

Taticamente, o jogo de Marrocos também era facilmente explicado. Fernando Santos dissecara-o na conferência de antevisão, mas aí também ficou claro por que razão os Leões do Atlas têm sido insuperáveis: não dão espaço para jogar dentro do bloco.

Por isso, o selecionador quis ir por outro caminho. Tirou William Carvalho do onze e recuperou Rúben Neves em busca da qualidade de passe a meia/longa distância do médio do Wolverhampton. Não foi por aí que Portugal perdeu o jogo, mas cedo viu-se que também não seria por aí que o venceria.

Para o conseguir, teria de ser eficaz no aproveitamento das poucas oportunidades. Naquela de João Félix a abrir, noutras duas do 11 da Seleção na primeira parte e noutra de Bruno Fernandes logo após o golo de En-Nesyri, que até já tinha ameaçado duas vezes a baliza de Diogo Costa.

Era preciso também agitar mais as águas e após um susto nos minutos iniciais da segunda parte, num novo erro de Diogo Costa, João Cancelo e Cristiano Ronaldo foram a jogo. Sem Rúben Neves em campo, Portugal aproximou-se ainda mais da baliza de Bounou ao mesmo tempo em que ficava mais à mercê das perigosíssimas transições marroquinas.

Portugal arriscou pagar esse preço. Tinha de fazê-lo, no fundo, mas quando parecia ter encontrado o caminho do sucesso pecava na finalização: Gonçalo Ramos atirou ao lado aos 58 minutos e pouco depois Bruno Fernandes também não foi feliz.

Walid Regragui viu nos seus homens sinais preocupantes de falência física e gradualmente foi sacrificando algumas das suas principais unidades em nome da sobrevivência.

Por mérito de Portugal, os marroquinos tiveram de recuar mais e agarraram-se ao coletivo e à tenacidade de Bounou para sobreviverem ao assédio luso e aos minutos finais reduzidos a dez, por expulsão de Cheddira após ver dois amarelos em dois minutos.

No final, Pepe falhou, na pequena-área, um desvio de cabeça que daria o empate e levaria o jogo para um prolongamento que tinha tudo para ser favorável à Seleção. Marrocos teve sorte, mas trabalhou muito para a ter. E quem trabalha tanto, merece tê-la.

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