O craque que igualou Ronaldo e Messi e outras coisas a saber sobre a Suíça

6 dez 2022, 09:10
Sérvia-Suíça

Em dez pontos, a Suíça e a comparação com Portugal, do presente ao passado. Passando também pela forte ligação entre os dois países, com a ajuda de um jogador luso-suíço

Portugal defronta a Suíça nesta terça-feira nos oitavos de final do Mundial e agora é a doer: quem perder vai para casa. A seleção nacional procura passar a barreira dos oitavos pela primeira vez desde 2006, frente a uma seleção que também não atinge há muito tempo os quartos de final, mas tem vindo a crescer nos últimos anos e chega aqui com a motivação em alta. Em dez pontos, a Suíça e a comparação com Portugal, do presente ao passado. Passando também pela forte ligação entre os dois países através da extensa comunidade emigrante, com a ajuda de André Ribeiro, avançado luso-suíço que representou as seleções jovens portuguesas. E só lamenta que este confronto aconteça «demasiado cedo».

Não têm Cristianos Ronaldos, mas Shaqiri já igualou um recorde de CR

Foi Xherdan Shaqiri quem fez a comparação, a dizer que a Suíça não tem Cristianos Ronaldos, para reforçar a ideia de que a seleção vale pelo coletivo. Essa é uma das forças da equipa, mas também há qualidade individual. E o extremo a quem chamam Messi dos Alpes, ou XS, por causa da sua baixa estatura, continua aos 31 anos a ser a grande referência de talento e criatividade da Nati, o nome por que é conhecida a seleção helvética. Está no seu quarto Campeonato do Mundo – estreou-se em 2010, quando tinha 18 anos, e soma 10 jogos e cinco golos em Mundiais. Quando marcou no Qatar o golo que abriu caminho à vitória sobre a Sérvia, entrou para um grupo muito exclusivo. Até agora, só mais três jogadores somaram golos nos três últimos Mundiais: Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar. Dessa vez, Shaqiri não simulou a águia de duas cabeças no festejo, como fez com Xhaka no Mundial 2018, mas depois do golo o extremo de origem kosovar mandou calar os adeptos sérvios. Na seleção, Shaqiri tem queda para as grandes competições: marcou golos nas cinco fases finais em que jogou. Depois de se destacar no Basileia, de jogar no Bayern Munique, no Stoke City, no Liverpool e no Lyon, o jogador que já venceu duas Ligas dos Campeões rumou aos Estados Unidos. Continua a brilhar e a marcar golos no Chicago Fire. Soma 111 internacionalizações e 27 golos pela Suíça, mas nunca marcou a Portugal, em quatro confrontos.

Cristiano marcou uma mão cheia de golos à Suíça

Cristiano Ronaldo, pelo contrário, sabe muito bem o que é marcar à Suíça. Depois de ter ficado no banco no confronto do Euro 2008, não marcou em 2017, na vitória que levou Portugal ao Mundial 2018. Guardou-se para a Liga das Nações. Em junho de 2019, foi um «hat-trick» de Cristiano Ronaldo no Estádio do Dragão que derrotou a Suíça (3-1) e levou Portugal à primeira final da história da nova competição da UEFA. E em junho deste ano o capitão bisou na vitória por 4-0, de novo para a Liga das Nações. Tem portanto cinco golos marcados em três confrontos com a Suíça. Para aumentar essa conta já nesta terça-feira, Ronaldo precisa de fazer o que nunca fez: marcar um golo em fases a eliminar do Mundial. William Carvalho, Cancelo e André Silva são os outros jogadores no Qatar que já marcaram ao próximo adversário de Portugal.

Uma Suíça mais versátil e em crescimento

A Suíça tem vindo a ganhar consistência nos grandes palcos, com presenças em todas as últimas cinco grandes competições, depois de ter falhado a qualificação para o Euro 2012. Atingiu os quartos de final do Euro 2020, onde caiu nos penáltis frente à Espanha. E na qualificação para o Mundial 2022 terminou em primeiro no grupo que relegou a Itália para o play-off. Nunca venceu qualquer título a nível sénior, mas conseguiu resultados importantes na formação, com jogadores que formaram a base da equipa para o futuro e são das principais referências no Qatar. Ricardo Rodriguez, Xhaka e Seferovic foram campeões do mundo de sub-17 em 2009 e Shaqiri e o guarda-redes Sommers foram vice-campeões europeus de sub-21 dois anos mais tarde. Tradicionalmente uma seleção que se distingue pela organização e disciplina, tem vindo a acrescentar criatividade e capacidade de transformação ao seu jogo. «A Suíça evoluiu muito nestes dois, três anos, com jogadores jovens também. Tem apostado muitos nos jovens», diz André Ribeiro: «O Shaqiri é um jogador muito importante, mas não só. O Embolo, o Xhaka, o Vargas, são jogadores muito rápidos que podem aproveitar o contra-ataque contra a seleção portuguesa.»

O guia da Suíça no Mundial 2022

Expectativas e confiança ao alto

O percurso da Suíça nos últimos anos alimentou expectativas. Se Portugal assumiu desde o início ambições altas para este Mundial, a atitude da seleção helvética é também de muita autoconfiança, expressa por exemplo nas palavras do selecionador Murat Yakin na antevisão do jogo. «Já conseguimos provar que podemos vencê-los. Queremos progredir no torneio», afirmou: «Esta equipa já fez um grande progresso, podemos ser a equipa dominante. Podemos adaptar-nos ao que o jogo pedir. Já perdemos por 4-0, já vencemos por 1-0.» Depois de ter gerido algumas limitações na fase de grupos – Shaqiri, com queixas físicas, foi poupado frente ao Brasil, enquanto o guarda-redes Sommer e o central Elvedi não defrontaram a Sérvia – a equipa está na máxima força para defrontar Portugal.

Duas seleções com muita experiência ao mais alto nível

Portugal e Suíça são duas seleções formadas essencialmente por jogadores a atuar nos grandes campeonatos. Dos 26 que estão no Mundial, há sete jogadores da seleção nacional provenientes da Liga portuguesa, enquanto todos os outros jogam nas cinco principais Ligas europeias. A Suíça só tem cinco jogadores a atuar no campeonato doméstico e a maior parte dos restantes também jogo nas Big 5. As exceções, além de Shaqiri, são Seferovic, que está no Galatsaray, bem como Okafor e Kohn, que jogam no RB Salzburgo. São duas equipas que misturam experiência e juventude, também com média de idades semelhante: 27 anos para a Suíça, contra 26.8 de Portugal. «São duas grandes equipas, duas seleções muito fortes, que estão a mostrar isso neste Mundial, com jogadores de muito talento e muita experiência também», observa André Ribeiro: «Acho que a seleção portuguesa tem uma equipa mais completa a nível de posições, mas não vai ser fácil. Não posso antecipar qualquer resultado, porque são duas equipas muito diferentes, mas igualmente fortes, seja tática ou individualmente.»

Percursos paralelos também no Qatar

Na primeira fase, Portugal venceu os dois primeiros jogos e, já com o apuramento garantido, perdeu com a Coreia do Sul na última jornada. A Suíça começou por vencer os Camarões, depois perdeu com o Brasil na segunda jornada e acabou a garantir o apuramento com uma vitória frente à Sérvia num jogo de emoções fortes, em que marcou primeiro mas depois sofreu dois golos e acabou a dar a volta ao resultado. Portanto, ambas têm até aqui duas vitórias e uma derrota, com seis golos marcados e quatro sofridos para Portugal, contra 4/3 da Suíça. Embolo, com dois golos, é até aqui o melhor marcador da Suíça no Mundial do Qatar. João Cancelo e Diogo Costa são os únicos totalistas da seleção nacional, utilizados em todos os minutos, enquanto Rui Patrício e José Sá foram os únicos que ainda não jogaram. A Suíça, que levou quatro guarda-redes para o Qatar, ainda não utilizou três jogadores: os guardiões Kohn e Omlin, e ainda o médio Jashari. Tem de resto quatro totalistas: o lateral Ricardo Rodríguez, o central Akanji e os médios Freuler e Xhaka.

O perfil dos 26 jogadores da Suíça no Mundial 2022

A história começou mal para Portugal

São duas seleções que se defrontaram por duas vezes nos últimos seis meses e se conhecem muito bem. Mas também têm um longo passado comum. Depois de Espanha, França e Itália, a Suíça é a seleção que Portugal defrontou mais vezes, um total de 25 jogos. No saldo global há ligeira vantagem da Suíça, que venceu 11 jogos, para nove triunfos de Portugal e cinco empates. No saldo de golos o equilíbrio é total: 34 para cada lado. A história de Portugal com a Suíça começou mal. O primeiro jogo deixou logo a seleção nacional fora de um Mundial. A 1 de maio de 1938, tudo se decidiu num confronto único em Milão, que a Suíça venceu por 2-1, apesar de uma boa exibição de Portugal. Naquela que foi apenas a sua segunda internacionalização, um então jovem Peyroteo marcou de penálti o seu primeiro golo com a camisola de Portugal. Só em 1989 a seleção venceu pela primeira vez a Suíça em jogos oficiais, um 3-1 na Luz, na qualificação para o Mundial 90.

Uma derrota no Europeu, uma vitória na meia-final da Liga das Nações

O único confronto em fases finais aconteceu no Euro 2008, quando a Suíça venceu por 2-0 um jogo em que Portugal já estava apurado e que Scolari aproveitou para rodar a equipa. Recorde aqui como foi. Os dois golos helvéticos foram apontados por Hakan Yakin, antigo avançado que é irmão do atual selecionador suíço, Murat Yakin. Houve ainda o duelo da meia-final da Liga das Nações, no triunfo que levou Portugal à final e à conquista da primeira edição da competição. Na era Fernando Santos, de recordar ainda a qualificação para o Mundial 2018, que para Portugal começou com uma derrota na Suíça (2-0), ainda na ressaca da festa da conquista do Euro 2016. Mas a partir daí Portugal embalou para nove vitórias seguidas, acabando a vencer a Suíça na Luz (2-0), para garantir o primeiro lugar e o apuramento direto. Na presente edição da Liga das Nações, Portugal conseguiu em junho, no Estádio de Alvalade, o seu maior triunfo de sempre frente à Suíça (4-0), já perante esta seleção orientada por Murat Yakin, que assumiu a seleção após o Euro 2020, sucedendo a Vladimir Petkovic. Mas em Genebra a vitória foi helvética, num jogo decidido por um golo do ex-benfiquista Seferovic.

Mais presenças no Mundial do que Portugal, mas pior registo

Portugal está na sua oitava participação no Campeonato do Mundo e a Suíça tem mais uma. Mas ao contrário de Portugal, que tem um terceiro e um quarto lugar, nunca conseguiu melhor do que os quartos de final, e mesmo assim já lá vai muito tempo. Atingiu essa fase por três vezes: em 1934, 1938 e 1954. Depois de ser presença regular nas primeiras edições dos Mundiais, atravessou um longo período de ausência. Mas, tal como Portugal, tem um percurso muito consistente de apuramentos neste século: está na sua quinta participação consecutiva, tendo em quatro delas chegado aos oitavos de final. Com a particularidade de em 2006 ter sido eliminada nos oitavos de final sem ter sofrido um único golo em toda a competição: foi afastada pela Ucrânia nos penáltis.

Um jogo especial para tantos luso-suíços

Há uma ligação forte entre Portugal e a Suíça, desde há muito um dos principais destinos de emigração para os portugueses. Nesta altura são cerca de 255 mil os portugueses a viver na Suíça, a terceira maior comunidade imigrante no país. Essa ligação começa desde logo na seleção nacional – o guarda-redes Diogo Costa nasceu na Suíça e mudou-se para Portugal aos sete anos. André Ribeiro é outro desses exemplos. O avançado é natural da Suíça, onde viveu desde sempre, com uma passagem pelo Sp. Braga, entre 2017 e 2019, tendo representado Portugal nas várias seleções jovens e jogado o Mundial sub-20 de 2017. «É um jogo especial para mim, porque eu tenho dupla nacionalidade. E também porque vou ver amigos, colegas que jogaram comigo, tanto na seleção portuguesa como na Suíça, como o Diogo Dalot, o Rúben Dias, ou o Embolo e o Djibril Sow. Falo muito com eles. Vai ser muito especial para mim ver esses amigos defrontarem-se», diz, lamentando apenas que não aconteça mais tarde na competição. «Estou muito contente e curioso para ver estas duas equipas defrontar-se nos oitavos. Gostava mais de as ver mais para a frente, foi muito cedo. Como suíço e português gostava de ver as duas equipas seguir mais em frente.» André Ribeiro vai ver o jogo «em casa, com amigos e família», partilhando um sentimento que é especial, diz, para todos «os portugueses que estão a trabalhar ou a viver na Suíça»: «Podemos ser portugueses ou ter raízes portuguesas, mas vivendo cá no país onde nos acolheram e onde também nos ajudam, é um sentimento muito bom para essas pessoas.»

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