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A mulher que usou a braçadeira arco-íris no Catar e a mulher que aplaudiu o silêncio no hino iraniano

21 nov 2022, 18:12
Alex Scott

A FIFA proibiu os capitães de algumas seleções de entrarem em campo com uma mensagem que ainda incomoda muita gente, mas nenhum cartão podia impedir Alex Scott de "jogar" ao mais alto nível. Tal como aquela adepta que apareceu nas câmaras a chorar, por poder estar a ver na bancada um jogo a que não poderia assistir no seu país

Uma delas sabemos quem é: chama-se Alex Scott, ex-internacional inglesa que agora comenta jogos de futebol para a BBC. A outra não: apenas sabemos que é iraniana, e que chorou e aplaudiu os jogadores da sua seleção, quando estes se calaram perante o hino do seu país.

Uma usou uma braçadeira arco-íris, a tal braçadeira que a FIFA proibiu os capitães das seleções de Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos e Suíça (onde estás tu, Portugal?) de usarem durante o Mundial no Catar, ameaçando-os com cartões. A outra usou um lenço a tapar o cabelo, o tal cabelo que tanto tem incomodado o regime iraniano desde que há um país revoltado com a morte de Mahsa Amini.

Uma tinha uma mensagem para o Catar: "One Love", este sim um verdadeiro gesto pela inclusão, quando ainda ontem nos tentaram falar tanto dela. A outra nem precisou de falar, porque há gestos que dizem tudo.

Uma já jogou em muitos estádios, foi estrela do Arsenal e da seleção feminina inglesa, e hoje recebeu a braçadeira que Kane tanto queria ter usado e mostrou-a na televisão, a BBC, que tem tratado o Mundial do Catar de forma especial (no domingo, por exemplo, não transmitiu a cerimónia de abertura). A outra não pode entrar em estádios no Irão, pelo que viu no Catar a liberdade que lhe resta para assistir a um simples jogo de futebol, enquanto era apanhada pelas câmaras da televisão um pouco por todo o mundo.

Alex Scott e a adepta iraniana, duas mulheres que marcaram este dia de Mundial, não foram as únicas. Se os jogadores iranianos aproveitaram o momento simbólico do hino para se calarem - e, assim, mais uma vez, demonstrarem a sua solidariedade com os manifestantes que continuam a ser mortos no seu país -, os ingleses colocaram um joelho no chão - foi a única forma que encontraram de poder protestar de alguma forma. 

Harry Kane não desistiu completamente e apresentou-se no relvado com uma braçadeira com as palavras "Não à discriminação". Foi o protesto possível, lá está, e até inspirou Van Dijk a fazer o mesmo no jogo seguinte.

Capitão dos Países Baixos também usou a braçadeira autorizada pela FIFA no jogo frente ao Senegal.

Fora dos estádios também nem tudo está a decorrer assim tanto quanto a FIFA desejaria. Esta segunda-feira, por exemplo, a equipa de reportagem da CNN Portugal captou em exclusivo o momento em que um adepto iraniano estava a ser levado pela polícia catari e impedido de entrar no estádio. Ao que parece, o problema estava na bandeira que levava, a antiga bandeira persa, considerada "política" pelas autoridades. 

Política, é isso. É isso que ingleses, iranianos, inglesas e iranianas fizeram hoje. O futebol também não foi nada mau, já agora.

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