Carlos Queiroz anunciou o que ia acontecer no Qatar... oito anos antes do Mundial

5 dez 2022, 08:03

A Máquina do Tempo viaja até 2014, para recordar as palavras premonitórias do selecionador do Irão: «Não faz sentido um figurante num Campeonato do Mundo pagar 200 euros para o ser...»

Por muito que as autoridades o tentem esconder, é cada vez mais evidente que há figurantes pagos nas bancadas do Qatar: as notícias sobre fugas de informação nesse sentido têm sido várias, com pormenores que vão até ao ponto de avançar os valores pagos.

Seria muito difícil, de resto, entender que comunidades que vão para o Qatar, com grande sacrifício pessoal e familiar, à procura de melhorar as condições de vida, aceitassem entrar numa festa que não é a deles a troco de nada. Gastando até dinheiro em cachecóis, camisolas, bandeiras e todo o tipo de material de apoio.

Seria muito estranho, não é?

Ora por isso, ninguém tem grandes dúvidas de que o público do Bangladesh, da Índia ou do Nepal está a ser de alguma forma compensado pelo entusiasmo que mostra nas bancadas em todos os jogos. Nem sequer é surpreendente que assim seja.

Curiosamente, há oito anos Carlos Queiroz já tinha anunciado que um dia ia ser assim.

Numa entrevista que deu na altura ao Maisfutebol e à TVI, o então selecionador do Irão garantiu que não fazia sentido continuar a cobrar 200 euros a um adepto para ver um jogo do Mundial, quando ele era peça fundamental para se poder vender o espetáculo a milhões.

«Quando eu cheguei ao futebol, o que contava eram as 60 mil pessoas que estavam aqui dentro do estádio. Hoje estas pessoas já não contam para nada: são figurantes, como nós somos figurantes. Hoje o que conta são os três milhões de pessoas que estão em casa a ver o jogo pela televisão e que pagam o espetáculo através da audiência da publicidade», referia.

«Aliás, até costumo dizer a brincar que não vai passar muito tempo até que o futebol seja como um programa de televisão em que dão 100 ou 150 euros para as pessoas virem ao estádio e fazerem o espetáculo. Eu acho que, por exemplo, no Mundial não faz sentido o adepto pagar 200 euros por um bilhete para fazer um espetáculo que depois é vendido a 30 milhões ou 50 milhões de pessoas. Essa pessoa é figurante do espetáculo, tem de ser paga.»

Ora nesta altura do Mundial do Qatar, em que nos entra pelos olhos a evidência do que Carlos Queiroz dizia há oito anos, a Máquina do Tempo recorda exatamente essas palavras. Que na altura foram muito debatidas, mas invariavelmente com uma sensação a alguma exagero.

Se calhar não havia assim tanto.

«Era como se no filme do Ben-Hur ou dos Dez Mandamentos, em que vão para lá os figurantes, ainda tivessem de pagar... Não», adiantou.

«Isto tudo para dizer que o futebol mudou em muitas coisas e nós, treinadores, temos de nos adaptar a isto, senão morremos. Se não entender que tem de haver uma harmonia entre o que se passa dentro de campo e fora de campo, então quem tem que sair do futebol sou eu.»

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