Ainda não acabou e já tem aqui um resumo: o Mundial 2022 de A a Z

18 dez 2022, 08:30
Seleção brasileira (AP)

Messi, Ounahi, Modric, Ronaldo, Mbappé: conheça os nomes, equipas e palavras que marcaram a competição no Catar

A- Argentina

Começou este Mundial da pior maneira, com uma derrota frente a uma das seleções teoricamente mais fracas da competição, mas soube-se recompor nos cinco jogos seguintes. Com um ataque construído em torno do génio de Lionel Messi e uma grande consistência defensiva, a albiceleste conquistou merecidamente o lugar na final, passando por apuros apenas nos minutos finais do tempo regulamentar do embate contra os Países Baixos. Frente aos gauleses, procuram a terceira estrela, a primeira do século XXI, 36 anos após Maradona ter “carregado” os companheiros às costas rumo ao segundo título argentino.

B - Braçadeiras arco-íris

Antes do Mundial, muito se falou sobre estas braçadeiras, destinadas a apoiar os direitos da comunidade LGBT, reprimida no Catar. Várias federações, como as da Alemanha e da Inglaterra, prometeram usá-la durante toda a competição. No entanto, uma ameaça da FIFA, que assegurou que iria punir os jogadores que a usassem no decorrer do torneio, levou as equipas a abandonar essa intenção. No entanto, as braçadeiras estiveram presentes de outras formas: uma ex-jogadora e agora comentadora usou-a, assim como, por exemplo, a ministra alemã do Interior.

C - Cristiano Ronaldo

É inevitável falar do jogador de 37 anos, que concentrou mais atenção mediática que os restantes companheiros lusos todos juntos. A entrevista a Piers Morgan, dada pouco antes de a seleção iniciar a sua concentração, colocou-o de imediato debaixo de críticas. As suas ações durante o Mundial também não ajudaram. Desde o incidente do primeiro golo de Bruno Fernandes frente ao Uruguai, o qual o número 7 pareceu reclamar para si, até às palavras para Fernando Santos durante a substituição frente à Coreia do Sul, tudo pareceu tornar Ronaldo uma espécie de vilão deste Mundial. Durante a fase a eliminar, começou os dois jogos no banco, e o seu clã digital, composto pela tríade Cátia-Elma-Georgina, depressa atacou os “ingratos” e o “amigo” que o deixou entre os suplentes. Salva-se o penálti marcado frente ao Gana, que o tornou no único jogador da história a marcar em cinco Mundiais. Após uma carreira decoradíssima pela seleção, não seria este o final com que Cristiano Ronaldo sonharia. Ou será que ainda não acabou?

D - Dominik Livakovic

Como é que este rapaz ainda está no Dinamo Zagreb? Eu não sei e duvido que o leitor também. Após a retirada de Danijel Subasic e performances algo sombrias de Lovre Kalinic, coube ao jogador de 27 anos assumir a baliza da seleção croata, algo que fez com tremendo sucesso. Para a história desta campanha dos axadrezados, que terminou com um brilhante terceiro lugar, ficam a exibição frente ao Japão e a ainda mais monumental prestação frente a um fortíssimo Brasil, de Neymar, Vinícius Jr e Richarlison. Homem do jogo nestas duas partidas, é quase unanimemente considerado, a par de Yassine Bounou, um dos melhores guarda-redes deste torneio. Adivinha-se uma transferência para um dos grandes do futebol europeu – e merece-o.

E - Enzo Fernández

É uma das principais armas da Argentina e uma das caras que Lionel Scaloni lançou para refrescar a equipa após a humilhação frente aos sauditas. Apresentou-se logo com um grande golo frente ao México, e nunca mais largou a titularidade. É o maestro que pauta aquele meio-campo, contrastando com a agressividade de De Paul e MacAllister. Uma ascensão meteórica, que começou no Benfica (que esfrega as mãos de contente) em agosto e pode terminar com um título mundial em dezembro.

F - França

Segunda final consecutiva, a quarta em sete Mundiais desde 1998. Sem Benzema, Nkunku, Kimpembe, Maignan, Kanté e Pogba, para não falar de Lucas Hernández, lesionado diante da Austrália. Não há muito a dizer sobre aquela que é maior potência futebolística do século XXI, que é capaz de formar fornadas e fornadas de jogadores de qualidade como nenhum outro país. Comandados por Didier Deschamps, um grande gestor de egos, os jogadores franceses apresentaram o melhor futebol desta competição, quebrando a “maldição” que os próprios estabeleceram em 2002, a de que um vencedor europeu seria eliminado na fase de grupos no Mundial seguinte.

G – Gvardiol

Para os adeptos do desporto-rei está longe de ser uma revelação, sendo, sim, uma confirmação. As exibições imperiais de Josko Gvardiol no centro da defesa croata ajudam e muito a explicar o terceiro lugar da Croácia neste Mundial. Merece fazer parte do melhor 11 do torneio, ainda que o seu nome tenha ficado associado ao terceiro golo da Argentina na meia-final, numa jogada onde foi completamente “comido de cebolada” por Lionel Messi. Gvardiol tem de ver pelo lado positivo; foi preciso um dos melhores jogadores da história do futebol sacar um coelho da cartola para alguém o superar.

H - Harry Kane

Mundial 1990, Euro 1996, Mundial 1998, Euro 2004, Mundial 2006, Euro 2012, Euro 2020. São quase incontáveis os desaires dos ingleses no desempate por grandes penalidades em grandes competições. Desta vez, os quartos de final frente aos franceses resolveram-se em 90 minutos, mas com mais um penálti à mistura. Harry Kane até cobrou bem o primeiro castigo máximo de que dispôs na partida, mas o segundo saiu muito por cima da baliza de Hugo Lloris. Após os anos de Lampard, Gerrard, Owen, Beckham e Rooney, a atual geração de futebolistas ingleses, seguramente uma das melhores da sua história, continua apenas a “cheirar” os títulos internacionais. Harry Kane será, talvez, o expoente máximo: ainda não tem qualquer título em seu nome.

I – Infantino

Será que, um mês depois, Gianni Infantino ainda se sente gay, deficiente e árabe? O discurso ridículo do presidente da FIFA antes do Mundial e o seu comportamento durante a prova não ajudaram a melhorar a sua reputação. Foi visto nas bancadas em todos os jogos, quase sempre a olhar para o seu telemóvel, não querendo muito saber da ação em campo. Considerar o Mundial do Catar como “o melhor de sempre” após ter apresentado os históricos lucros da FIFA com a competição também não caiu bem, mas vamos poupá-lo a mais críticas: afinal de contas, sofreu de bullying na infância por ser ruivo, algo que comparou à discriminação sofrida pela comunidade LGBT. 

J – Julián Álvarez

Já aqui elogiámos Enzo, mas o que dizer deste menino, também saído da cantera do River Plate? Começou o Mundial no banco, mas depressa substituiu definitivamente um titubeante Lautaro Martínez. Com Messi, forma uma dupla atacante que leva nove golos neste Mundial. Tal como o médio do Benfica, teve uma ascensão meteórica, impondo-se não só na albiceleste como também em Manchester, ainda que tapado pelo grande ausente desta competição, Erling Haaland.

K- Kylian Mbappé

Se Messi comanda a Argentina com a sua experiência, Mbappé lidera os Bleus com a sua irreverência digna de um jovem. Está em quase todos os lances capitais da França neste Mundial, quer seja a fazer arrancadas espetaculares pela esquerda, quer seja a finalizar em grande estilo com o seu habitual remate em arco (que o diga Szczesny). Já campeão do Mundo, poderá juntar ao seu pecúlio um segundo título na maior competição do futebol mundial, juntando-se a nomes como Ronaldo, Garrincha e Giuseppe Meazza, ficando a apenas um título de Pelé, tudo isto antes de completar 24 anos. Independentemente do que faça daqui para a frente, que acreditamos que seja muito, ficará sempre na história do futebol.

L - Luka Modric

Outro que ficará para sempre nos livros dourados da modalidade é aquele que é por muitos considerado o melhor futebolista croata de todos os tempos. Aos 37 anos, Luka Modric continua a espalhar magia pelos campos e a jogar ao mais alto nível com uma intensidade louca. Capitanear uma seleção como a da Croácia, um país com menos de quatro milhões de habitantes, a dois pódios em Mundiais é um feito digno de registo. Quase de certeza que 2022 marcou a sua última presença em Mundiais, mas levá-lo-emos sempre nos nossos corações. Poucos jogadores conseguem aguentar mais de 10 anos no topo e Modric foi um deles.

M - Messi

Já se esgotaram todas as palavras possíveis e imaginárias para descrever Leo Messi. Muitos já o consideram o maior de todos os tempos, superando Pelé e Maradona, mesmo apesar de não ter um Mundial. No entanto, a meio da tarde deste domingo, essa realidade pode mudar. Se Messi ganhar este troféu, de longe o seu melhor a nível individual, apesar dos 35 anos de idade, começarão a faltar argumentos para não o considerar o melhor de sempre.

N - Neymar

Para a imprensa e adeptos brasileiros, a conquista do hexa seria, tal como em 2018, uma mera formalidade. No entanto, as ambições dos comandados de Tite voltaram a esbarrar numa seleção europeia que ainda não conquistou qualquer título internacional, desta vez a Croácia. O foco em 2022 esteve, mais uma vez, em Neymar, novamente bafejado pelo azar. Lesionado contra a Sérvia, só voltou a jogar frente à Coreia do Sul nos oitavos de final, um jogo marcado pelas danças dos jogadores brasileiros e do selecionador, incluindo o célebre “pru-pru” de Richarlison. Aos 30 anos, continua sem conquistar uma grande competição pelo Brasil, e está novamente debaixo de fogo, por ter organizado uma festa poucos dias após a eliminação no Catar. Para já, não figura ao lado de Ronaldo e Pelé, mas sim de Zico: um outro grande jogador que falhou um título pela seleção.

O – Ounahi

Quem joga Football Manager deveria conhecê-lo, mas era um anónimo para a esmagadora maioria dos adeptos. Tão desconhecido que nem o próprio Luis Enrique, depois da eliminação da Espanha aos pés de Marrocos nos oitavos de final, sabia dizer o seu nome. Pois aqui fica: Azzedine Ounahi. Após as imperiosas exibições no Mundial, não ficará muito tempo no Angers, o último classificado da Ligue 1, a quem calha, verdadeiramente, a sorte grande. Mourinho está rendido e fala-se numa proposta de 45 milhões de euros do Leicester para rumar à Premier League. Em menos de um mês, Ounahi mudou completamente a sua vida.

P – Protestos

Foram dois momentos que marcaram o início deste Mundial: o primeiro, no desafio do Irão frente a Inglaterra, no qual os jogadores do estado teocrático se recusaram a cantar o hino, em protesto contra a violência policial durante os protestos no país, espoletados pela morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, também às mãos das autoridades.

Dias mais tarde, antes do embate frente ao Japão, os titulares alemães pousaram para a fotografia com a mão a tapar a boca, uma manifestação motivada pelo facto de o capitão, Manuel Neuer, não poder usar a famosa braçadeira com o arco-íris, denominada One Love. Ambos os gestos acabaram ofuscados pela competição em si, mas marcaram e muito os primeiros dias de competição.

Q – Queiroz

Não podíamos deixar de falar de Carlos Queiroz, que pela terceira vez consecutiva comandou a seleção iraniana num Mundial. Tal como em 2014 e 2018, falhou o apuramento para os oitavos de final, mas, desta vez, enfrentava um ambiente bastante mais adverso. Foi a hostilidade da imprensa internacional, foram os iranianos que vaiavam a própria seleção, sem esquecer a pressão que o governo de Teerão exerceu, com quase toda a certeza, sobre si. Pode ter saído mal visto em algumas ocasiões, mas a vitória contra o País de Gales provou que tinha todo o balneário consigo, e essa é, por vezes, a missão mais difícil de um treinador.

R – Ramos

Poucos esperariam que assumisse a titularidade frente à Suíça e sentasse Ronaldo no banco, mas a verdade é que o fez. O jogo deu razão a Fernando Santos: na sua primeira titularidade fez um hat-trick, e logo num Mundial. A exibição mais tímida frente a Marrocos, onde, diga-se, todos os utilizados estiveram uns furos abaixo do necessário, não apaga o facto de ser o único, ainda faltando o último jogo, a ter marcado três golos num jogo neste Mundial.

S – Santos

A saída de Fernando Santos da seleção era algo que muitos portugueses pediam há anos. Se, em 2016, o futebol mais modesto pareceu adaptar-se ao plantel escolhido, também parece ser consensual que Fernando Santos não soube aproveitar o elevadíssimo potencial da seleção nos anos seguintes. A saída surpreende poucos. A seleção deixou de ser eliminada por futuros finalistas e vencedores dos torneios para passar a cair perante equipas longe de serem as mais fortes, como é o caso do Uruguai, da Bélgica e de Marrocos. Apesar disso, o balanço é positivo: deu a Portugal os únicos dois títulos internacionais da sua história.

T - Treinadores

Fernando Santos não foi o único a sofrer uma “chicotada psicológica” neste Mundial. Tite saiu do Brasil, Roberto Martínez abandonou a Bélgica e Luis Enrique disse adeus à Roja e aos streams no Twitch. Gerardo Martino, argentino que treinava o México, falhou aquilo que os aztecas conseguiam desde 1994, chegar aos oitavos de final, e também deixou o cargo desocupado.

Nota, também, para quem manteve a confiança das federações após uma prestação desastrosa, como é o caso de Hansi Flick, pela Alemanha, e Kasper Hjulmand, treinador da equipa favorita dos hipsters, a Dinamarca.

U – Ultras

Salvo alguns grupos de adeptos, como o do Senegal, poucos foram aqueles que proporcionaram um grande ambiente nos estádios. Faltaram as claques, os ultras, para dar alguma cor ao espetáculo. A este facto não é alheia a proibição do consumo de álcool no Catar para a maioria dos adeptos, aqueles que não pagam por bilhetes VIP. Pela primeira vez, não se registou a detenção de qualquer cidadão britânico durante uma grande competição, um dado possivelmente trágico para este país. 

V - Van Gaal

A competente prestação dos Países Baixos deve-se, em grande parte, ao seu treinador, que extraiu o máximo potencial de um plantel algo limitado em termos de talento. Tal como em 2014, não perdeu nenhum jogo, mas acabou eliminado pela Argentina no desempate por grandes penalidades e, tal como após a competição no Brasil, despede-se da seleção. Com 71 anos, não é certo que volte a treinar. Tem à sua espera aquilo que denominou de “paraíso” no Algarve.

W - Walid Regragui

Ao contrário de Louis Van Gaal, Regragui tinha muito a provar neste torneio. Chegou à seleção em agosto, sucedendo a Vahid Halihodzic que, apesar de qualificar Marrocos para o Mundial, semeou o caos na seleção e alheou a sua maior estrela, Hakim Ziyech. Em poucos meses, conseguiu unir o grupo e convencer o extremo do Chelsea a regressar. O estilo de jogo conservador, assente na organização defensiva, produziu excelentes resultados e, em menos de um mês, entrou para a história do futebol africano como o primeiro treinador a levar uma seleção do continente às meias-finais de um Mundial. Com esta prestação, poderá ter aberto as portas ao futebol europeu.

X - Xhaka

O médio suíço surge algo deslocado nesta lista, beneficiando largamente de não haver muita coisa a começar com um X. No entanto, o jogador de raízes albanesas voltou a ser protagonista de um momento controverso na partida contra a Sérvia. Se, em 2018, a águia que fez com as mãos enfureceu os adversários, desta vez foi um gesto ainda menos simpático dirigido ao banco que instalou uma confusão generalizada no relvado. Não havendo a hipótese de termos um escaldante Albânia-Sérvia numa grande competição, contentamo-nos com esta “solução”, também satisfatória em termos de espetáculo extra-futebol.

Y - Youssef En-Nesyri

Em 2018 foi Cavani, em 2020 foi Thorgan Hazard, e agora foi En-Nesyri. O carrasco de Portugal decidiu imitar Ronaldo e subir ao segundo andar para se antecipar a Diogo Costa e Rúben Dias e colocar Marrocos em vantagem frente a Portugal, num golo semelhante ao de Angelos Charisteas na final do Euro 2004. En-Nesyri mostrou-se muito mais competente do que os seus colegas e concorrentes, Walid Cheddira e Abderrazak Hamdallah, este último sempre mais preocupado em rematar à baliza do que servir os companheiros e a equipa. Caso o Sevilha desça de divisão, não terá dificuldades em encontrar uma equipa de topo.

Z – Zelensky

Se pensava que o presidente ucraniano não iria aparecer nesta lista estava muito enganado, ele está em todo o lado. Bem, em todo o lado menos nos ecrãs gigantes do Estádio Lusail neste domingo, uma vez que a FIFA recusou a transmissão de uma mensagem de paz na final da competição. No entanto, a Ucrânia foi entretanto incluída na candidatura ibérica ao Mundial 2030.

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