O incrível caso de Inter e Bayern Munique e os clubes que dominam o Mundial

13 dez 2022, 09:24
Mundial 82: Oriali (Itália/Inter) e Dremmler (Alemanha/Bayern) na final

Nos últimos 40 anos os dois clubes tiveram sempre um jogador na final. Voltará a acontecer em 2022, no final de um Campeonato do Mundo em que muitos dos clubes mais representados tiveram um apagão e a Premier League também sai de mansinho

O Barcelona foi o clube que teve mais jogadores no Mundial 2022, mas de 17 restam apenas dois à entrada para as meias-finais. E o Manchester City tinha 16, mas só sobra um. Muitos dos clubes mais representados, que cederam ao Campeonato do Mundo craques com fartura, perderam já todos ou a maioria dos seus jogadores. Mas nem todos. A tradição ainda é o que era e prolonga em 2022 uma incrível curiosidade histórica. Aconteça o que acontecer nas meias-finais, Bayern Munique e Inter terão um jogador na final. E isso acontece sempre, em cada Mundial, há 40 anos.

Em resumo, é isto:

Em 2022 o Bayern Munique está representado em três das seleções semifinalistas. Só não tem nenhum jogador na Argentina. O Inter tem um jogador na Argentina e outro na Croácia, que vão defrontar-se, pelo que um deles estará na final do próximo domingo.

Esta é uma tendência histórica que se prolongará portanto em 11 finais de Campeonatos do Mundo consecutivas. Foram até aqui 39 jogadores diferentes em campo, 45 se contarmos todos os convocados de cada uma das seleções finalistas nesses Mundiais. E esta história começou precisamente com um frente a frente Itália-Alemanha, então RFA, na final de 1982. O Inter tinha seis jogadores nessa equipa campeã, enquanto o Bayern tinha quatro no finalista derrotado.

Nove campeões do mundo a dividir por Bayern e Inter em 1990

Oito anos mais tarde, a seleção campeã do mundo tinha jogadores dos dois clubes: na Alemanha do Mundial 1990 havia seis jogadores do Bayern e três do Inter, no tempo em que a Serie A era de longe o principal campeonato da Europa, aquele que atraía as grandes estrelas: o capitão Matthäus, o avançado Klinsmann e Andreas Brehme, o autor do golo que decidiu a final. Matthäus esteve por sinal em finais representando os dois clubes: em 1986 chegou à decisão como jogador do Bayern Munique. Não foi o único a jogar uma final do Mundial pelos dois clubes. O primeiro foi Kal-Heinz Rummenigge, que era jogador do Bayern Munique na final perdida de 1982 e representava o Inter quatro anos mais tarde, quando a Alemanha saiu derrotada do confronto com a Argentina de Diego Maradona.

Depois dos três campeões alemães em 1990, o Inter teve o francês Djorkaeff campeão em 1998 e em 2002 o brasileiro Ronaldo, o Fenómeno. Curiosamente, só tinha um jogador na seleção italiana que venceu o Mundial 2006. Era Marco Materazzi e desde então não voltou a haver um campeão que chegasse ao Mundial como jogador do Inter. Ao todo, foram 12 os jogadores do Inter campeões do mundo nestes 40 anos. A esses, somam-se outros 12 que integraram as equipas italianas vencedoras dos títulos consecutivos em 1934 e 1938, no tempo em que, sob o regime fascista, o clube usava a designação Ambrosiana-Inter.

De 1982 para cá, o Bayern Munique teve mais jogadores em finais e deu mais campeões ao Mundial, 16 no total. Depois dos seis representantes em 1990, no título da Alemanha, teve Jorginho na conquista do Brasil em 1994 e Lizarazu quando a França venceu em casa, quatro anos mais tarde. No tetracampeonato da Alemanha, em 2014, estiveram sete jogadores do Bayern Munique. E em 2018, na festa francesa, lá estava o clube bávaro representado, através de Tolisso. Antes disso, o Bayern já tinha tido um jogador no primeiro título de sempre da Alemanha, em 1954, e seis 20 anos mais tarde, na vitória da «Mannschaft» em 1974.

O clube que já deu mais campeões ao Mundial é...

Mas em absoluto o clube que cedeu mais jogadores ao futuro campeão do mundo é outro: a Juventus. Foram 25 ao longo de toda a história, de acordo com dados da RSSSF, a Federação Internacional de História e Estatística, que até 2002 contabiliza apenas os jogadores utilizados em cada Mundial. Passa a 27, se contarmos com todos os jogadores que integraram uma seleção campeã do mundo provenientes da Juventus. Seguindo este critério, o segundo lugar, aí sim, é do Bayern Munique, com 25. Em terceiro lugar surge o Inter, com os 24 campeões que já deu ao Mundial.

No Qatar, a Juventus esteve representada por 11 jogadores, dos quais restam três ainda em competição no Qatar: os argentinos Di María e Paredes e o francês Rabiot. É um de 23 clubes ainda representados nas meias-finais, uma lista liderada pelo Bayern Munique.

Mesmo com a eliminação da Alemanha logo na primeira fase, onde tinha sete jogadores, o Bayern mantém seis representantes em prova, mais de um terço dos 16 que tinha à partida. E teriam sido 17 se Sadio Mané não tivesse caido da lista do Senegal por lesão. Mais notável ainda é o caso do Inter, que no total teve apenas seis jogadores no Mundial – também com uma baixa de última hora, o argentino Correa -, mas consegue manter dois até ao fim.

O apagão dos jogadores do Barcelona, do City, do United...

A seguir ao Bayern Munique, Atlético Madrid e Sevilha são os clubes com mais jogadores nas meias-finais, cinco cada um. Segue-se o Dínamo Zagreb,a aproveitar a boa campanha da Croácia, onde tem quatro jogadores, e depois Juventus, PSG, Tottenham, Wydad Casablanca e Real Madrid, todos com três. Os «merengues» podiam ter um quarto jogador, mas Benzema foi riscado das opções da França ainda antes do arranque da competição. Depois há 13 clubes com dois jogadores, uma lista onde se inclui o Benfica, que tem Otamendi e Enzo Fernández na Argentina e é o único clube português representado nesta fase.

Clubes com mais jogadores nas meias-finais do Mundial 2022:

6 - Bayern Munique

5 - Sevilha e At. Madrid

4 - Dínamo Zagreb

3 - Juventus, PSG, Real Madrid, Tottenham e Wydad Casablanca

2 – Angers, Barcelona, Benfica, Betis, Chelsea, Inter, Manchester United, Marselha, Milan, Mónaco, Rennes, Villarreal e West Ham

Num Mundial que teve muitas surpresas e mandou vários dos potenciais favoritos cedo para casa, isso reflete-se na evolução do número de representantes de alguns dos maiores clubes europeus. Como o Barcelona, que foi o clube mais representado, mas nesta altura tem apenas os franceses Koundé ou Dembelé. Ou o Manchester City, que partilhava o segundo lugar com o Bayern, num contingente que englobava três portugueses – Rúben Dias, Cancelo e Bernardo Silva. O único jogador dos Citizens ainda em competição é o argentino Julián Álvarez. Mas também o Manchester United, que tinha 14 jogadores e já só conta com dois – o francês Varane e o argentino Lisandro Martínez.

Depois há Ajax e Borussia Dortmund, que tinham 11 representantes à partida, mas já não têm nenhum entre os quatro semifinalistas. Além de casos específicos de clubes que dominavam seleções eliminadas logo na primeira fase, como o Al Sadd, do Qatar, que tinha 15 jogadores, ou os sauditas do Al Hilal, com 12.

Premier League entrou em grande, mas perdeu liderança

À partida para o Mundial, a Premier League era de muito longe o campeonato mais representado, com 134 jogadores, num total de 163 oriundos dos vários escalões do futebol britânico. Mas essa hegemonia não se prolongou para as fases mais adiantadas da competição no Qatar.

Restam apenas 16 jogadores da Premier League em prova e o campeonato mais representado nas meias-finais é a Liga espanhola, com 22 jogadores – eram 87 à partida. Seguem-se Itália e França, ambas com 14. Além da hegemonia da Espanha nesta fase, para mais sustentada não nos gigantes Barça e Real, mas sobretudo em Sevilha e Atlético Madrid, é relevante a dimensão da representação italiana. A Serie A já não é o que foi nos anos 90, mas a sua representação nesta fase, num Mundial de que esteve aliás ausente a seleção transalpina, é significativa. Surge à frente da Alemanha, que tem 13 jogadores nesta fase e completa o top das Ligas que têm mais futebolistas nas meias-finais.

São as «Big 5», naturalmente, com 80 dos 103 jogadores ainda em competição. À exceção da Liga croata, representada por seis jogadores, mais nenhum campeonato europeu tem mais de dois representantes nas meias-finais.

Quanto às seleções ainda presentes, a França é a única que apenas tem jogadores a atuar nas cinco principais ligas europeias. A Argentina tem 22, mais os dois benfiquistas, o guarda-redes Armani (River Plate), o único jogador a atuar no campeonato nacional, e ainda o médio Thiago Almada, que joga na MLS. A Croácia e Marrocos têm maior diversidade. Ainda que a maiora dos jogadores atue nas principais Ligas, entre os 26 de ambas as seleções há dez campeonatos representados.

Patrocinados