Mundial 2022: França-Marrocos, 2-0 (crónica)

14 dez 2022, 21:47

Gauleses matreiros caçam com a fórmula de sucesso da presa

Os franceses é que tinham a fama, alimentada pelas histórias aos quadradinhos de Asterix e Obelix, mas o mundo do futebol ainda não tinha visto tamanha prova de resistência contínua como a de Marrocos.

Por vezes, a realidade parece superar a ficção. Marrocos foi exemplo disso ao longo do último mês no Qatar. Prova de maturidade, de inteligência, de sacrifício. De muita qualidade, também, porque a fórmula do sucesso da melhor seleção africana da história também a teve.

Mas a França entrou no jogo decidida a não passar pelo mesmo de Portugal, de Espanha e até da Bélgica na fase de grupos. Nenhuma delas, pesos pesados do velho continente, encontrou o caminho do golo diante de Marrocos.

França encontrou-o: duas vezes. E, mais importante do que tê-lo encontrado, será tê-lo encontrado apenas cinco minutos depois do mexicano César Ramos ter apitado para o início do jogo.

O golo de Theo Hernández, que aproveitou uma sobra de um remate de Kylian Mbappé, resolveu a maior dor de cabeça de qualquer adversário dos marroquinos neste Mundial: marcar um golo à única das 32 seleções que nunca tinha estado a perder nesta prova.

Forçado a assumir mais riscos, Marrocos deu também mais espaço e aos 17 minutos Giroud acertou no poste direito.

A França não foi mais autoritária do que Portugal no passado fim de semana. Foi, aliás, o primeiro oponente que teve menos posse de bola do que Marrocos: nem Canadá!

E isso leva-nos ao óbvio. Foi mais inteligente, porque levou o adversário para um terreno pouco conhecido. Desceu do seu trono senhorial, foi ao terreno e preparou ela própria o engodo.

Mas, a perder, Marrocos tinha de seguir em frente, até porque a qualidade técnica permitia-lhe criar problemas ao setor defensivo dos campeões do Mundo.

A meio da primeira parte, Walid Regragui rasgou o plano A para travar França. Tirou do jogo o defesa Saiss (aparentemente limitado) e fez entrar o médio Amallah, voltando ao sistema de 4x3x3 do jogo anterior.

Marrocos cresceu e acabou a primeira parte em cima do adversário e com um remate de bicicleta de Yamiq ao poste.

Os minutos iniciais da segunda parte jogaram-se mais perto da baliza de Hugo Lloris, mas o avançar do tempo tornava evidente que as reservas de energia da estóica seleção marroquina estavam quase esgotadas.

Como em jogo anteriores, Regragui não teve pejo em sacrificar algumas das principais figuras. Mazraoui, primeiro, En-Nesyri e Boufal depois. Mas desta vez a história seria diferente.

Quase sempre equilibrados – quando não estavam, Koundé aparecia para resolver os problemas que Varane e Konaté não solucionavam – os franceses também souberam ser um pouco o que Marrocos foi ao longo do último mês: resistentes como Asterix e Obelix. E oportunos.

E aos 79 minutos aplicaram a sentença final, quando o recém-entrado Kolo Muani apareceu ao segundo poste para finalizar para o 2-0. Nesse golo, à semelhança do primeiro, foi Mbappé a atrair o foco total dos marroquinos, que o impediram de marcar, mas não de ser, ainda que de outra forma, decisivo.

Pela primeira vez desde o Brasil em 1998, o campeão em título chega à final do Mundial seguinte e pela primeira vez desde 1962 o campeão pode guardar a taça por mais do que quatro anos. A Argentina também tem a palavra.

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