Os clubes portugueses que deram mais estrangeiros ao Mundial e como se escreve esta história

17 nov 2022, 09:11
Estrangeiros da Liga no Mundial

No Qatar vai atingir-se a centena de presenças de jogadores estrangeiros oriundos do futebol português no Campeonato do Mundo. Quem mais contribuiu, numa história que não passa só pela primeira divisão

No Mundial 2022 vai atingir-se a centena de presenças de jogadores estrangeiros oriundos do futebol português no Campeonato do Mundo. A liderar a lista de jogadores que ao longo da história saíram de Portugal – e não apenas da Liga – para representar outras seleções na maior competição do planeta está o FC Porto, com 27 jogadores, seguido de perto pelo Benfica, com 25. O Sporting, num total de 18 jogadores, completa o pódio.

No Qatar estarão 12 jogadores da Liga a representar outras seleções que não Portugal. O clube que cede mais estrangeiros é o Sporting, que não tem nenhum jogador na seleção nacional mas tem quatro representantes noutras seleções, um novo máximo para os «leões»: no Uruguai terá Ugarte e Coates, que estará no segundo Mundial como jogador do Sporting, no Japão tem Morita e no Gana, adversário de Portugal, o jovem Fatawu.

FC Porto e Benfica contribuem com três representantes cada um: as águias têm Enzo Fernández e Otamendi na Argentina e Bah na Dinamarca, os dragões têm Taremi no Irão, Eustáquio no Canadá e Grujic na Sérvia. Os outros dois jogadores representam estreias: o sérvio Racic é o primeiro estrangeiro do Sp. Braga na competição, enquanto o Desp. Chaves coloca o seu primeiro jogador de sempre num Mundial, com Steven Vitória.

A lista dos jogadores que saíram de Portugal para jogar um Mundial é obviamente dominada pelos chamados três «grandes». Essa história começou em 1974, com um grande nome. Nesse verão, Hector Yazalde partiu de Alvalade para representar a Argentina. O avançado chegou à Alemanha depois de uma época de sonho em que conquistou com o Sporting o campeonato e a Taça de Portugal, marcou 46 golos e ganhou a Bota de Ouro para o melhor marcador europeu. Na Alemanha, o «Chirola» jogou três jogos e marcou dois golos, num bis frente ao Haiti. A Argentina seria eliminada na segunda fase de grupos.

Não houve qualquer jogador oriundo de Portugal no Mundial seguinte, em 1978, mas a partir daí a Liga esteve sempre representada, mesmo quando a seleção nacional não se apurou. O FC Porto cedeu os primeiros jogadores – o argelino Madjer e o polaco Mlynarczyk – em 1986, enquanto o Benfica estreou-se quatro anos depois, logo com cinco jogadores: Aldair, Ricardo Gomes e Valdo no Brasil e Thern e Magnusson na Suécia. O Brasil tinha aliás cinco «portugueses» nesse Mundial, em que ficou pelos oitavos de final, eliminado num clássico com a Argentina decidido numa grande jogada de Maradona concluída pelo futuro benfiquista Caniggia.

O primeiro dos «portugueses» a chegar à final de um Mundial foi Doriva, o médio do FC Porto que fez parte da seleção do Brasil na caminhada até à final do Mundial 1998, perdida para a França. Foi apenas utilizado num jogo, saindo do banco frente a Marrocos. Em 2014, os benfiquistas Garay e Enzo Pérez, mais o sportinguista Marcos Rojo, avançaram até à grande decisão frente à Alemanha, que conquistou o título numa vitória por 1-0, graças a um golo de Gotze. São portanto quatro os vice-campeões do mundo que sairam do futebol português.

É preciso recuar mais tempo para recordar um Mundial de muitas memórias a cruzar-se com a Liga portuguesa. Em 1994, no Mundial que teve os Países Baixos de Valckx nos quartos de final e a Nigéria de Yekini a passar aos oitavos, a Bulgária de Balakov, Kostadinov e Iordanov fez uma caminhada épica até às meias-finais do Mundial 1994, tal como a Suécia de Stefan Schwarz. As duas equipas defrontaram-se no jogo pelo terceiro lugar e a Suécia venceu o trio «português» por 4-0.

Da expulsão de Zahovic ao recordista Maxi Pereira

Também houve momentos mais insólitos. Em 2002, quando a Eslovénia se estreava no Mundial, o benfiquista Zahovic foi expulso da seleção após o primeiro jogo, com a Espanha, em que foi substituído a meia hora do fim. A Federação emitiu um comunicado a detalhar uma extensa lista de motivos disciplinares, que incluíam insultos ao selecionador, tratamento «rude» ao presidente federativo e declarações «incorretas». De volta ao Benfica, Zahovic disse que não merecia o que tinha acontecido, mas aprendera a lição. Ainda voltou à seleção eslovena. 

E depois houve o caso de Diego Reyes, que foi convocado para o Mundial 2018, depois de já ter representado o México como jogador do FC Porto quatro anos antes, mas lesionou-se na véspera do arranque da competição.

O Mundial 2014 foi aquele que teve mais estrangeiros oriundos do futebol português. Foram 15 no total, entre eles o guarda-redes iraniano Alireza Haghighi, que Carlos Queiroz levou ao Brasil e pôs o Sp. Covilhã no mapa do Campeonato do Mundo. Não foi o único clube do segundo escalão nacional a dar jogadores ao Mundial. Isso já tinha acontecido em 2006, por via da presença de Angola, que levou jogadores de quatro clubes então na II Liga: Varzim, Barreirense, Portimonense e Moreirense.

O estrangeiro com mais participações no Mundial jogando no futebol português é o uruguaio Maxi Pereira, que esteve na competição duas vezes como jogador do Benfica e uma quando estava no FC Porto. Ao lado de vários companheiros de seleção que também jogavam na Liga, ajudou a sua seleção a chegar às meias-finais em 2010, aos oitavos em 2014 e não foi utilizado quatro anos mais tarde no Mundial da Rússia, quando o Uruguai eliminou Portugal nos oitavos de final e perdeu depois com a França nos quartos de final. Há outro jogador que jogou o Mundial representando dois clubes portugueses diferentes: o argelino Rafik Halliche, por Nacional e Académica, em 2010 e 2014.

São no total 102 as chamadas de jogadores estrangeiros a partir do futebol português, embora se reportem a 93 futebolistas. Além de Maxi e Halliche, também Iordanov, Luisão, Fucile, Hector Herrera e Diego Reyes repetiram a convocatória em mais do que um Mundial como «portugueses».

Estes dados contabilizam o clube que cada jogador representava aquando da chamada ao Mundial, o critério que é definido nas listas oficiais da FIFA e que serve de referência para enquadrar vários casos. Desde logo os jogadores que estão entre clubes quando decorre a competição – um exemplo, o de Paulo Silas, que estava de saída do Sporting ainda antes do final da época 1989/90, mas só passou a representar outro clube depois do Mundial -, mas também jogadores que estiveram emprestados na época que antecedeu o Campeonato do Mundo e que para efeitos das listas oficiais são enquadrados não no «clube-mãe», mas naquele onde jogaram e onde justificaram a chamada ao Mundial.

Os estrangeiros que Portugal deu ao Campeonato do Mundo:

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