Mundial 2022: Dinamarca-Tunísia, 0-0 (crónica)

22 nov 2022, 15:16

Vertigem nórdica esbarra no espírito tunisino

A Dinamarca deparou-se com uma combativa Tunísia e não foi além de um empate a zero (o primeiro deste Mundial 2022) com os norte-africanos, no primeiro jogo da história entre as duas seleções. Um resultado justo, que premeia o espírito e entrega dos tunisinos, perante uma equipa europeia reconhecida pela sua vertigem ofensiva, mas que esbarrou no crer africano.

A julgar por estes 90 minutos, a Tunísia, que já tinha demonstrado muita solidez na qualificação, promete ser uma seleção a ter em consideração nas contas do Grupo D, onde estão ainda a desfalcada França e a Austrália. Já a Dinamarca, que já contou com a principal figura, Christian Eriksen, depois do episódio em que caiu inanimado no Euro, tem de se apressar em recuperar os índices exibicionais desse torneio, bem como dos êxitos recentes perante a seleção gaulesa.

FILME DO JOGO

Nem os cerca de cinco mil quilómetros que separam a Tunísia do Qatar impediram os adeptos tunisinos de se fazerem representar em massa em Doha. As bancadas do Education City Stadium estiveram completamente pintadas de vermelho e não eram assim tantos aqueles que torciam pelos escandinavos.

Isso ficou bem patente logo nos instantes iniciais. Ainda se cumpria o segundo minuto de jogo quando Aissa Laidouni mostrou ao que vinham. O médio tunisino desarmou Eriksen no meio-campo dinamarquês e festejou efusivamente com as bancadas, que foram ao delírio. A Dinamarca certamente pressentiu aí que não seria tarefa fácil vergar os norte-africanos.

E não foi. O futebol vertiginoso do Euro 2020 e da fase de qualificação pouco se viu. Faltou velocidade no pensamento e na execução, além de alguma alma, um capítulo em que esta equipa que encantou a Europa ficou alguns níveis abaixo dos tunisinos.

O primeiro tempo foi algo «mastigado», com poucas oportunidades de golo e até alguma anarquia. A Dinamarca não conseguiu controlar o ímpeto tunisino, traduzido no espírito combativo de Issam Jebali. O avançado, que até joga nos dinamarqueses do Odense, deu muito trabalho à linha defensiva nórdica, tendo somado um golo anulado na primeira parte, além de Kasper Schmeichel lhe ter negado, com a luva direita, a oportunidade de ser herói para o povo tunisino.

Ainda antes do intervalo, o substituto do agora renascido Eriksen no Europeu, Damsgaard, rendeu o lesionado Thomas Delaney, na tentativa até de imprimir mais velocidade ao jogo dinamarquês. Ora, depois da recolha aos balneários, os tunisinos voltaram entusiasmados, pressionaram o adversário e somaram uma sucessão de bolas paradas que deixaram Schmeichel em sentido.

Depois de cerca de uma hora a deixar-se ludibriar pela emoção norte-africana, a Dinamarca recompôs-se e colocou em prática os princípios que Kasper Hjulmand tanto preconiza. Viu-se uma seleção nórdica com olhos focados na baliza adversária e a recuperar algum do seu perfume futebolístico. 

Já após um golo invalidado, o selecionador dinamarquês desfez a linha de três centrais e enveredou pelo 4-3-3 que derrotou a França em dois jogos antes deste Mundial.

A partir de então, a seleção europeia esteve mais igual a si própria, aproximou-se do golo e não desistiu até ao final. Já desgastados após largos minutos de total entrega e solidariedade, os tunisinos enveredaram pelo caminho da contenção e por fechar os espaços para a baliza de Dahmen. Ainda sofreram um susto, quando o árbitro foi ver as imagens no monitor após um braço na bola dentro da área, mas houve ordem para seguir o jogo e o marcador não desatou do nulo.

Não foi um jogo brilhante, faltaram golos e certamente não veremos os lances deste encontro nos resumos da prova. Mas, algo ficou provado. Num momento em que tanto se discute a artificialidade da prova e como o dinheiro pode comprar muita coisa, ainda se denota (alguma) paixão, quer nas bancadas, quer no relvado. Desfrutemos, na medida do possível.

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