No domingo os relógios atrasam uma hora e os especialistas ouvidos pelas CNN Portugal defendem que o horário de inverno deveria manter-se todo o ano
A hora vai voltar a mudar na madrugada deste domingo - os relógios vão atrasar uma hora - e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, para quem esta alteração “já não faz sentido”, voltou a trazer à discussão o fim definitivo da mudança de hora na Europa.
A mudança da hora continua a ser tema de debate e continua a dividir opiniões, mesmo entre os especialistas. A pneumologista e especialista do sono Vânia Caldeira explica à CNN Portugal que “seria benéfico não se fazer a mudança bianual, ou seja, devíamos manter-nos sempre no mesmo horário”. O “horário de inverno”, esclarece, é, na verdade, o horário padrão e é o mais adequado do ponto de vista biológico, pois permite uma melhor sincronização do ciclo do sono com a luz solar assim como “um adormecer mais fácil, um sono mais contínuo, menos fragmentado e que permite o contrário no dia a seguir, quando estamos a acordar, que é termos uma exposição à luz adequada durante a manhã”.
A exposição à luz durante a manhã favorece o despertar, enquanto que a menor luminosidade ao final do dia facilita o adormecer e melhora a qualidade do sono. Por isso, para a pneumologista esta mudança “vai ser boa”, principalmente para as crianças e jovens que vão “ficar mais ativos” de manhã e, em princípio, adormecer mais cedo, a não ser que “se inundem de luz artificial proveniente dos dispositivos eletrónicos”.
As consequências da mudança de hora não são apenas momentâneas. “Fazer esta mudança bianual é um esforço adicional para o nosso corpo, que vai ter muitos riscos”, sublinha a especialista, destacando a maior probabilidade de acidentes de viação e o agravamento da privação do sono, que pode aumentar o risco de problemas cardiovasculares, principalmente na mudança da hora que ocorre em março.
As crianças, os jovens e os idosos acabam por sentir um impacto maior no dia a dia com as adaptações que têm de fazer ao sono, visto que “qualquer mudança na rotina é pior para uma criança do que para um adulto” e os adultos, que se ajustam com mais facilidade à rotina do sono, acabam por sofrer mais com a falta de socialização no inverno, acrescenta a psicóloga Carolina de Freitas Nunes.
Relativamente à transição para o horário de verão, o cardiologista Carlos Aguiar esclarece que “alguns estudos dizem que nos dias seguintes à mudança da hora há um aumento do número de incidentes cardiovasculares, como é o caso do enfarte e também do acidente vascular cerebral”, mas deixa claro que pode não ser uma causa da alteração da hora e que “nem todos os estudos confirmam isto”.
Manter um único horário ao longo ano, preferencialmente o de inverno, poderia reduzir os impactos fisiológicos e psicológicos associados à mudança ao promover um sono mais regular que contribuiria para uma menor fadiga e melhor adaptação ao ritmo natural da luz solar, defendem os especialistas.
Carolina de Freitas Nunes complementa esta perspetiva ao afirmar que o horário mais natural é o que está “alinhado com a luz solar”. Refere que o prolongamento da luz até ao final do dia, característico do horário de verão, atrasa a produção de melatonina, a hormona do sono, provocando dificuldades em adormecer e alterações de humor. “É quase um mini jet lag, como dizemos”, refere, salientando que a falta de descanso se reflete em irritabilidade, fadiga e até sintomas depressivos.