"Apontaram-me uma arma à cabeça, atiraram-me os molotovs, peguei fogo. Porquê eu, porquê a mim?": entrevista exclusiva ao motorista atacado no motim em Lisboa (parte II)

27 nov, 20:27

Entrevista exclusiva à TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) do motorista da Carris que foi alvo de um ataque durante os motins na Grande Lisboa - que aconteceram após a morte de Odair Moniz. Reage ainda à detenção do grupo de jovens que o atacou, tendo sido chamado a identificá-los numa linha de reconhecimento (aviso: este artigo contém descrições que podem ferir a suscetibilidade dos leitores)

SAIBA MAIS
"Os meus olhos ficaram fora da cara": entrevista exclusiva ao motorista da Carris atacado nos motins e "acudido por uma senhora" (parte I)

 

Como é que recebeu esta notícia da detenção do grupo que o atacou, a 23 de outubro?
Foi um alívio. Para mim foi um alívio, porque eu todos os dias estou a viver o acidente. Estou à base de comprimidos para dormir, porque eu de cada vez que fecho os olhos, se não tiver os comprimidos, eu vejo o acidente, eu vivo o acidente, sempre.

E o que é que revive?
Revivo eles não me deixarem sair do autocarro, revivo eles a mandarem literalmente os molotovs para cima de mim - e o fogo e a aflição.

Portanto, você teve a consciência plena de que era uma tentativa de homicídio?
Tive, porque eles não me deixaram sair. Eu pedi para me deixarem sair, mas não me deixaram sair. Eu tento fechar as portas, há um indivíduo que entra pela porta do meio, aponta-me a arma à cabeça e diz "tu não sais". E eu no meu lugar. Entretanto, eles começam a mandar cocktails molotov tanto de fora para o vidro do autocarro, como para a porta da entrada do autocarro, para o meu lugar, para cima de mim. Eu sinto logo que fica um cheiro a combustível em mim e foi só um indivíduo fazer faísca no isqueiro... Aquilo derramou, o líquido derramou em direção à rua, porque o autocarro parou numa rua inclinada. Entretanto, ele dá faísca e conforme dá faísca, eu começo a pegar fogo. Quando a memória vem do acidente, eu só fazia uma pergunta: 'Mas porquê eu? Porquê a mim? Porquê que não me deixaram sair do autocarro?'.

E qual é a resposta que dá a si próprio?
Não tenho resposta. Ou é por ser branco, porque os meus colegas no Bairro do Zambujal foram convidados a sair do autocarro - e eles eram de cor e eu era branco.

País

Mais País

Patrocinados