Braima Seidi, marido da mulher e pai da bebé que morreram no Hospital Amadora-Sintra, afirma em exclusivo à CNN Portugal que a esposa foi acompanhada em várias consultas e não tinha qualquer doença. Garante que ninguém do hospital falou com a família e exige que seja feita justiça
O tom de Braima Seidi é firme. Em entrevista exclusiva à CNN Portugal, o marido da mulher de nacionalidade guineense que morreu no Hospital Amadora-Sintra, juntamente com a filha recém-nascida, diz que quer “justiça” e “responsabilização” de quem tiver falhado.
“Ninguém do hospital falou comigo. Ninguém me procurou até agora. Queremos trazer os restos mortais para Bissau e depois queremos justiça. Só quero que seja feita justiça”, afirmou, emocionado, através de videochamada a partir da Guiné-Bissau.
Segundo contou à CNN Portugal, a mulher, grávida de nove meses, foi acompanhada desde o início da gestação em Portugal. “Confirmo que a minha esposa passou duas vezes no [centro de saúde de] Agualva-Cacém, fez duas consultas, depois foi transferida para o Amadora-Sintra, onde também fez consultas. A última foi no dia 29 de outubro, era uma consulta de rotina”, recorda.
"Tudo correu bem. Disseram que podia voltar para casa"
Braima explica que, nas consultas, os médicos confirmaram que a mulher tinha tensão alta, mas garantiram que estava controlada.
“Ela disse-me que correu bem, estabilizaram a tensão e disseram que podia voltar para casa. Marcaram o parto para dia 12 de novembro e explicaram que, se tivesse sintomas antes, devia chamar uma ambulância”, relata.
O marido sublinha que a esposa não tinha qualquer doença prévia, e que o problema de hipertensão surgiu apenas durante a gravidez. “Foi só agora. Antes nunca teve nada”, garante.
"Ninguém do hospital falou comigo"
A notícia da morte chegou-lhe por telefone.
“Soube através de uma chamada da minha irmã. Ninguém do hospital me ligou. Até agora, ninguém falou comigo. Este é o primeiro contacto”, denuncia.
Braima Seidi afirma que quer levar o corpo da mulher para a Guiné-Bissau e que a família já está a tratar do repatriamento por conta própria.
“Ninguém nos disse que ia ajudar. É uma iniciativa da família. Queremos trazer os restos mortais para Bissau”, explica.
O casal tem três filhos. O mais novo tem quatro anos. Vivem todos juntos na Guiné-Bissau. “Só Deus sabe como vai ser agora. A mãe estava em Portugal sozinha”, lamenta.
"A ministra fala em nome de um país. Tem de saber do que está a falar"
O marido reagiu também às declarações da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que inicialmente afirmou que a mulher não tinha sido seguida durante a gravidez, uma informação que mais tarde foi corrigida, depois de terem sido apresentadas provas pela família de Umo Cani.
“A função da ministra não é para qualquer pessoa. Fala em nome de um ministério, em nome de um país. Para falar tem de ter provas, tem de saber do que está a falar. Não é falar e depois voltar atrás e pedir desculpa. Como é possível dizer que uma mulher com este nível de gravidez não teve consultas? Inaceitável”, sublinha.
Braima Seidi lembra que já há quatro investigações em curso, incluindo uma do Ministério Público.
“O Ministério Público já começou a investigar. Queremos responsabilizar quem deve ser responsabilizado”, explica.
Questionado sobre o que espera de Portugal nesta fase, é claro: “O mínimo é caráter. E apurar responsabilidades. No resto, vamos ver”, conclui.
A morte da mulher guineense e da filha recém-nascida no Hospital Amadora-Sintra levantou uma onda de indignação pública. O caso está ainda a ser investigado pela administração hospitalar, pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS).
A Fita do Tempo
31 DE OUTUBRO, SEXTA-FEIRA DE TARDEA ministra da Saúde, Ana Paula Martins, afirma que a mulher que morreu trata-se de "uma grávida que, efetivamente, não teve acompanhamento até à data em que entrou pela primeira vez no Amadora-Sintra, já com 38 semanas”.
2 DE NOVEMBROO hospital corrige a informação inicialmente dada pela ministra e esclarece que Umo Cami tinha sido afinal acompanhada pelo SNS.
3 DE NOVEMBROPresidente do conselho de administração do hospital apresenta a demissão.