"Estou desolado, devia ter ligado": amigos reagem à morte de Eunice Muñoz

15 abr 2022, 09:26

Atriz não foi indiferente para ninguém com quem se cruzou ao longo dos 80 anos de carreira

Eunice Muñoz morreu esta sexta-feira em Lisboa, aos 93 anos. Com 80 anos de carreira, a atriz não foi indiferente a ninguém em Portugal e já se multiplicaram as homenagens após a notícia da sua morte.

O primeiro a manifestar pesar pela morte de Eunice foi Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República enalteceu as "décadas inesquecíveis", em nome de todos os portugueses, lamentando a sua morte com profunda consternação.

"É profundamente consternado que tomo conhecimento da morte de Eunice Muñoz, uma referência nacional, admirada e respeitada por todos os portugueses", declarou o chefe de Estado.

O amigo e também ator, Diogo Infante, publicou um vídeo da atriz na rede social Instagram. Na publicação, Diogo Infante agradeceu à atriz e disse estar desolado por não ter conseguido falar com a atriz nos dias antes da sua morte.

"Eunice…estou tão triste. Ando para lhe ligar há vários dias e depois mete-se uma coisa e outra. Quando a Lídia me ligou, algo em mim pressentiu. Estou desolado, devia ter ligado. Para ouvir o seu fio de voz a perguntar, como estás? O telefone já começou a tocar. Querem reações mas eu não consigo falar… é como se não falando não tivesse acontecido, percebe não é? Pensamento mágico… Se eu guardar os anéis, talvez ela volte…Mas verdadeiramente a Eunice não partiu, porque é eterna. O seu lugar há muito que está reservado nos anais da história. A maior atriz Portuguesa de todos os tempos! Eunice. Obrigado por tudo, sobretudo pelo enorme privilégio de ter feito parte da minha vida", escreveu o ator.

 

Pedro Zegre Penim, diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, lembrou a altura em que conheceu a artista e como sempre foi "a base" do teatro.

"Em 1993, tinha eu 18 anos, ouvi a voz da Eunice no palco do antigo Teatro Aberto. Estava sentado na plateia a assistir a um espetáculo extraordinário, O Tempo e o Quarto de Botho Strauss, dirigido pelo João Lourenço. No centro de cena, marcando o cenário, como que sustentando todo o teatro, estava uma coluna. De dentro dessa coluna saía a voz da Eunice.

Na minha cabeça esta imagem nunca mais se iria descolar de como olho para a Eunice. E foi na primeira coisa que pensei quando hoje acordei com a tristíssima notícia do seu desaparecimento. A Eunice é de facto a coluna, sustentáculo de uma carga estrutural imensa e maravilhosa que é o teatro português, parecendo ora demasiado esbelta no seu prumo para tanto peso, ora robustíssima e capaz de ser base, fuste e capitel desta herança.

No Teatro Nacional Dona Maria II estreou-se aos 14 anos, no dia 28 de novembro de 1941 na peça Vendaval de Virgínia Vitorino. Em novembro passado, 80 anos depois dessa data, tivemos o privilégio de voltar a recebê-la e homenageá-la. Era sempre especial para o teatro receber a Dona Eunice, esperar que o ocupasse o seu camarim. Foi lá que a vi pela última vez, feliz, recebendo os seus convidados, sorrindo para todos, confortando-nos com a sua existência basilar. Quando a Eunice vinha ao Dona Maria havia um rumor jubilante no ar, os trabalhadores estremeciam, o teatro zunia, os dourados trepidavam. Porque a Eunice é a coluna. Para sempre alicerce do teatro português, para sempre eixo da nossa história contemporânea.", lê-se no texto partilhado no Facebook.

"Eunice é sinónimo de teatro", diz encenador Tiago Rodrigues

"Muitas vezes lhe disse que deviam mudar os dicionários. Ela ria, generosa, jovem, sempre a mais jovem de todos nós", escreve o autor de "By heart" numa mensagem publicada na sua página pessoal da rede social Facebook.

"Quando cheguei ao Teatro Nacional D. Maria II, [Eunice Muñoz] deu-me as boas-vindas e pediu que tomasse conta da 'nossa casa' que, sabemo-lo bem, será sempre a 'sua casa'", prossegue o ex-diretor artístico do Nacional D. Maria, que assumirá a direção do Festival de Avignon, em França, a partir de setembro.

"Ajudou-me, aconselhou-me, aceitou-me. Assentiu sempre aos desafios que lhe lancei ou aos pedidos de ajuda que lhe fiz", prossegue o encenador, referindo-se aos anos em que esteve à frente da direção artística do Teatro Nacional (2015-2021).

A atriz Fernanda Serrano também deixou uma homenagem a Eunice Muñoz, dizendo que "a estrela maior subiu" e agradecendo todas as partilhas e ensinamentos.

"A Nossa Estrela Maior subiu… obrigada pelos ensinamentos, pelo talento, pela beleza, pelos tantos anos de interpretações brilhantes e únicas! Privilégio de termos partilhado momentos… obrigada por tudo o que nos ofereceu! Respeito. Admiração. Gratidão. Até sempre nossa querida Eunice", escreveu.

Cristina Ferreira escreveu "a maior" para descrever Eunice na publicação que fez no Instagram.

"Um dia triste para o teatro, que hoje ficou um pouco mais pobre". Foi desta forma que a atriz Paula Neves assinalou a morte de Eunice no Instagram.

"Querida Eunice, um aplauso de um país inteiro. Obrigado", escreveu o ator Lourenço Ortigão.

"Um palco que será eternamente dela", enalteceu a atriz Carolina Carvalho. 

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