Diogo Jota, deste-me o primeiro grande momento num estádio de futebol

4 jul, 08:00
Diogo Jota contra o Benfica (Paulo Duarte/AP)

Então não há jogadores imortais? Há, sim

“É do Jota! És especial, Jota! Estás a marcar no Clássico! Estás a levar os teus adeptos à loucura!” - relato de rádio do minuto 50 do FC Porto - Benfica de 2016/17

 

Não é preciso conhecermos uma pessoa para ficarmos tristes quando ela morre. Eu não conhecia o Diogo Jota e estou triste. Acho que estamos todos um bocadinho. Soube-o quando peguei no telemóvel para ouvir música e percebi que não podia ser qualquer uma.

Veio-me imediatamente à memória um dos primeiros - provavelmente O primeiro - grande momento num estádio de futebol. Já tinha ido a um jogo ou outro, mas nunca a um Clássico entre FC Porto e Benfica, muito menos a um Clássico em que se exigia mais que nunca que o FC Porto fosse FC Porto e em que se exigia que o Benfica confirmasse que era melhor e mostrasse porque é que era tricampeão.

A equipa do FC Porto, jogador a jogador, não era pior que a do Benfica, mas parecia faltar um avançado imponente. Lá à frente andava um rapazito, assim meio franganote.

Era o Diogo Jota. Não voava pelos centrais como o Jardel nem fazia calcanhares como o Falcao, mas tinha um raio de um íman esquisito que deixava a bola louca. Foi assim que marcou tantos dos seus 150 golos.

 

“É um grande trabalho individual de Diogo Jota. Estava na cara de Nélson Semedo, arrancou e o remate sai rasteiro. Entra entre o poste e Ederson” - dá para ouvir na transmissão da Sport TV que ainda está disponível

 

Minuto 50 no Estádio do Dragão e autêntica explosão. FC Porto a ganhar um jogo em que tinha mesmo de o fazer e Diogo Jota a brilhar. Marcava ali apenas o segundo golo com a camisola azul e branca, o primeiro em casa.

É um golo à Diogo Jota, acho que o podemos dizer. Não é espetacular, não, mas entra, e é o que é preciso. Na hora da bola passar a linha, ainda para mais num Clássico a ferver, poucos no estádio se perguntam como foi. Foi e pronto.

Não vou a muitos jogos de futebol, é verdade, mas não me lembro de ver uma coisa assim num estádio. Uma polvorosa tal e uma explosão monumental. O benfiquista que viu o golo do Luisão em 2005, o portista que viu o golo do Kelvin em 2013 e o sportinguista que viu o golo de Eduardo Quaresma ainda há meses dirão diferente, naturalmente.

Mas é o momento que mais guardo de um estádio de futebol. Daquela vibração que se solta depois de 50 minutos a ouvir gritos constantes de "baixa a cabeça!"

Eu não queria baixar a cabeça, queria levantá-la para ver aquele piolhito que por ali andava. Que rapaz tão enérgico, ao seu jeito tão sem jeito que faz dele único, que faz dele o único capaz de meter aqueles golos. Uma coisa é certa: Jardel e Falcao não marcavam aquele golo.

Não marcavam tantos outros que este rapaz conseguiu. É aquele jeito sem jeito que ajeita tudo no final. Que deixa os adeptos em êxtase a gritar o nome.

 

"Ah, ele veste o número 20 / Ele vai levar-nos à vitória / E quando estiver a correr pela ponta esquerda / Vai cortar para dentro e marcar para o LFC. / É um rapaz de Portugal / Melhor que o Figo, sabiam? / Ah, o nome dele é Diogo!"

 

E só há músicas para os imortais. É por isso que Diogo Jota não morreu. Ele anda aí com o seu jeito.

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