Varíola dos macacos: “Pode ser o início de mais uma epidemia entre os homossexuais ou alastrada a toda a população”, alerta presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia

18 mai 2022, 18:05
Varíola dos macacos (CDC)

Vitor Duque admite que a comunidade médica está preocupada com esta nova infeção que já conta com vários casos em Portugal ligados à comunidade gay

Apesar de ainda se estar a investigar os detalhes do surto da varíola dos macacos, a doença rara que causa lesões na pele, já há algumas certezas quanto à forma de contágio. “Transmite-se através de contactos íntimos, neste momento entre homens”, explica à CNN Portugal Vitor Duque, presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia e diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, acrescentando que é na comunidade homossexual que se estão a registar mais casos, como sucede, aliás, nos doentes detetados em Portugal.   

Segundo o especialista, o facto de existir já um surto em Portugal confirmado pela Direção-geral de Saúde e a doença estar a ser registada em outros países é um alerta que se deve dar atenção. “Pode ser o início de uma epidemia entre os homossexuais que eventualmente se pode alastrar toda a população”, nota Vitor Duque.

O virologista sublinha, no entanto, que o vírus pode atingir qualquer pessoa - homem ou mulher, com qualquer orientação sexual -, mas que, com os dados que há neste momento, tudo indica que tenha tido uma porta de entrada naquela comunidade, e que está a desenvolver-se. 

Também Margarida Tavares, diretora do Programa Nacional para as Infeções Sexualmente Transmissíveis e Infeção por VIH da DGS, referiu esta quarta-feira, em conferência de imprensa, que, entre os casos confirmados em Portugal, estão homens “que fizeram sexo com outros homens”.

De acordo com o diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, já está confirmado pela ciência que a transmissão é feita através do contacto de lesões com a pele, o que pode incluir relações sexuais. Já quanto aos fluídos serem portadores da infeção é uma “hipótese que ainda está em investigação”.  

Apesar de tudo indicar que a transmissão da doença começou por estar ligada à comunidade homossexual, o médico sublinha que nada tem a ver com a Sida. “É totalmente diferente. Na varíola dos macacos, as lesões podem ser eventualmente mais graves nas pessoas imunocomprometidas, como os transplantados, mas a infeção por si só não provoca diminuição da imunidade celular. Já no HIV a imunidade é sempre atingida”, explica o médico.

Vitor Duque admite que a comunidade médica está apreensiva. “Sabe-se que vão surgir vários surtos e epidemias com vários vírus. Prevê-se que existiam muitas infeções com origem em animais.  Mas ninguém estava à espera que o vírus do macaco chegasse assim à Europa”, diz, explicando que os primeiros casos no Reino Unido foram conhecidos este mês. “Em Portugal a comunidade médica sabia o que se passava pela imprensa estrangeira. Quando a Direção Geral da Saúde enviou comunicado para os hospitais já nós sabíamos o que se passava pelos jornais internacionais”.

Nos próximos dias podem surgir novos casos, pois o período de incubação é de duas a três semanas. Além disso, muitos dos doentes podem ser assintomáticos.

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