O caso ocorreu em Paris, em França, e lança o debate sobre os cuidados de isolamento que podem ser necessários aplicar para proteção de animais de estimação
Uma equipa de investigadores de Paris detetou o primeiro caso de infeção pelo vírus do Monkeypox num cão.
A notícia foi publicada, a 10 de agosto, na revista científica The Lancet, por uma equipa de investigação da Universidade de Paris. Segundo referem, é provável que tenha existido transmissão de um humano para o animal de estimação.
O caso descrito no artigo indica que dois homens que habitam a mesma casa e que são parceiros não exclusivos recorreram ao Hospital Pitié-Salpêtrière, na capital francesa, com sintomas de doença, em junho. Ambos apresentavam úlcera retal, erupções na pele, fraqueza, dores de cabeça e febre.
No agregado familiar existe ainda um galgo italiano com quatro anos, que, segundo contaram estes homens, dorme com eles.
Passados 12 dias do início de sintomas nos pacientes humanos, também o cão começou a apresentar lesões na pele e na membrana mucosa. Depois de avisados os investigadores, foi realizado um teste PCR ao cão, que confirmou a doença.
A equipa de investigadores sequenciou então os resultados do cão e de um dos donos e comparou com as variantes conhecidas. Ambas as amostras foram compatíveis com a linhagem que tem predominado em países não endémicos desde abril.
A transmissão por um dos donos parece ser a razão mais plausível, uma vez que os donos afirmaram que o companheiro de quatro patas foi isolado de outros animais e de pessoas desde que os primeiros sintomas apareceram nos homens.
"Tanto quanto sabemos, a cinética do aparecimento de sintomas em ambos os pacientes e, subsequentemente, no seu cão sugere a transmissão de humano para cão do vírus da varíola dos macacos", lê-se no artigo.
Depois deste caso, "colocamos a hipótese de uma verdadeira doença canina, não de um simples transporte do vírus por contacto próximo com humanos ou transmissão por via aérea (ou ambas)", acrescentou a equipa.
"As nossas descobertas deveriam suscitar o debate sobre a necessidade de isolar os animais de estimação dos indivíduos com vírus da varíola dos macacos", escreveram, apelando a que sejam concretizadas mais investigações sobre as transmissões secundárias através de animais de estimação.
A doença tem-se disseminado pela Europa e pelos Estados Unidos, entre indivíduos que não estiveram em países onde a varíola é endémica. Como resposta à rápida propagação de surtos, a 13 de julho de 2022, a Monkeypox foi declarada uma emergência global de saúde pública, pela Organização Mundial de Saúde
Daquilo que é conhecido pela comunidade científica, o vírus é transmitido quando existe contacto próximo com as lesões, fluídos corporais e com gotículas respiratórias proveniente de pessoas ou animais infetados. A propagação através de relações sexuais está ainda a ser estudada.
No que diz respeito aos animais, roedores e primatas têm sido identificados como veículos da doença nos países onde a varíola já era endémica. Nos Estados Unidos foi detetada em animais em cativeiro que tinham contactado com animais infetados.