83% de satisfação, 9% de nojo. O que diz o rosto de "Mona Lisa" e outros mistérios escondidos no quadro mais famoso do mundo

31 mai 2022, 22:01
Mona Lisa. Eric Feferberg/AFP/Getty Images

Um dia depois de ter sido novamente atacada por um visitante do Museu do Louvre, reunimos algumas curiosidades e factos menos conhecidos sobre esta obra de arte que, com mais de 500 anos, continua a fascinar multidões em todo o mundo

É provavelmente o quadro mais popular em todo o mundo e também por isso tem sido alvo de vários ataques ao longo da sua existência - o último aconteceu no domingo. A "Mona Lisa", de Leonardo Da Vinci, atrai milhões de visitantes todos os anos ao Museu do Louvre, em Paris. Esta pintura a óleo emblemática do período do Renascimento italiano ainda hoje guarda muitos segredos e mistérios.

Quem é a mulher retratada?

Tudo indica que será Lisa Gherardini, uma mulher que pertencia à burguesia de Florença e que teria na altura 24 anos. “Mona” era uma abreviatura de madonna (senhora em italiano). O retrato terá sido encomendado pelo marido, Francesco del Giocondo, um comerciante de seda e tecidos. O casal teve quatro filhos e muitos historiadores acreditam que a mulher estava grávida pela segunda vez quando a pintura foi feita: isso é sugerido não só pela posição dos braços cruzados sobre a barriga, como também pelo véu usado sobre os ombros, que era um adereço muito habitual nas mulheres grávidas. O quadro foi pintado entre os anos de 1503 e 1506.

"Mona Lisa" sorri ou está simplesmente aborrecida?

É uma das questões mais debatidas em torno do retrato: a mulher apresenta uma expressão intrigante e enigmática, que tem dividido opiniões. Há mesmo quem afirme que as feições mudam não só de acordo com o ângulo, mas também consoante a distância a partir da qual o quadro é observado. Ainda assim, um estudo feito por investigadores holandeses quis tirar as dúvidas a limpo, utilizando um software informático que memorizou milhares de rostos femininos. O programa revelou que as emoções presentes no rosto de "Mona Lisa" seriam 83% de satisfação, 9% de nojo, 6% de medo, 2% de raiva, menos de 1% de surpresa.

Que técnicas de pintura são utilizadas?

Foi em "Mona Lisa" que Da Vinci celebrizou o sfumato, técnica criada pelo próprio artista italiano e que consiste na suavização dos contornos, gerando suaves gradientes entre as tonalidades. A técnica cria a sensação de que a cena está "esfumaçada", sem linhas ou fronteiras.

Mas há uma série de outras técnicas que fazem desta obra um trabalho notável. É o caso do chiaroscuro (claro-escuro), que joga com o contraste entre a luz e a sombra para representação de um objeto, sem usar linhas de contorno, e da perspetiva atmosférica, que permite a obtenção do efeito de profundidade, através da aplicação de pinceladas mais claras e imprecisas no segundo plano.

Por outro lado, a composição está de acordo com aquilo a que os matemáticos chamam de proporção áurea ou proporção divina: uma proporção presente na Natureza que é esteticamente mais agradável ao olho humano e que foi usada em diversos monumentos e obras de arte. Na prática, quando desenhamos um rectângulo à volta do rosto, o queixo, o topo da cabeça e o nariz ficam perfeitamente alinhados. Esta relação dimensional faz com que a “Mona Lisa” pareça estar sempre a encarar-nos, independentemente do ângulo em que estamos a observar.

Há também um efeito de ilusão de ótica, criado através do desnível da paisagem de fundo (mais alta no lado direito): pode-se ter a impressão de movimento no canto da boca.

Quanto tempo demorou o quadro a ser pintado?

Leonardo Da Vinci não terá cumprido os prazos combinados com Francesco Del Giocondo e devido à demora, o mercador ter-se-á recusado a pagar. Da Vinci terá acabado por levar a obra para França em 1516, quando foi convidado para um trabalho pelo rei Francisco I. Muitos historiadores acreditam que o artista italiano terá continuado a aperfeiçoar o quadro, ente 1516 e 1517, que terá sido comprada pelo rei Francisco I. Depois, Napoleão Bonaparte também terá ficado rendido aos encantos da pintura que, no século XIX, acabaria integrada no acervo do Museu do Louvre.  

A paisagem em segundo plano é real?

O local que serve de paisagem a este retrato foi identificado recentemente pela historiadora Carla Gori e pelos arquitetos Angelo e Davide Bellochi: trata-se de uma panorâmica vista do Castello Malaspina dal Varme, na cidade de Bobbio, na região de Emilia- Romagna, norte de Itália. É uma localidade próxima de Milão, onde Da Vinci viveu e trabalhou. No cenário destaca-se uma ponte de três arcos, a Ponte Gobbo (ou Ponte Vecchio).

É verdade que este quadro esconde "outros quadros"?

Uma investigação feita por cientistas canadianos em 2006, que recorreu às tecnologias de infravermelhos e laser, descobriu esboços rudimentares escondidos na obra. Mais tarde, em 2015, o engenheiro francês Pascal Cotte usou técnicas semelhantes e desvendou as várias "camadas" da pintura. Debaixo do retrato visível, há quatro imagens, incluindo a pintura de uma mulher mais jovem com pequenos traços faciais e sem sorriso.

Quanto vale a "Mona Lisa"?

Estamos perante uma das pinturas mais valiosas do mundo. O quadro detém o recorde do Guinness para a maior avaliação de seguro de uma pintura, no valor de 100 milhões de dólares em 1962. Considerado o valor da inflação, isso seria o equivalente a 870 milhões de dólares atualmente - cerca de 810 milhões de euros.

A obra já foi roubada?

Em 1911 o quadro foi protagonista de um roubo histórico, realizado por um funcionário italiano do Louvre, chamado Vincenzo Perugia. O italiano estava convencido de que a obra tinha sido roubada em Florença por Napoleão e estava determinado a levá-la para Itália. "Mona Lisa" esteve desaparecida durante dois anos. Em 1913, acabou por ser recuperada depois de Perugia ter exigido dinheiro ao governo italiano, em troca do transporte do quadro para Florença. Acontece que neste roubo Perugia teve ajuda de um conhecido falsificador de arte, o que deu azo a várias teorias de que "Mona Lisa" tinha sido roubada para a realização e venda de várias cópias.

E desde então, quantos ataques já foram registados?

Em 1956 “Mona Lisa” foi alvo de dois ataques: um com ácido, que danificou a parte inferior do quadro, outro com uma pedra que também causou pequenos danos. A pedra foi atirada pelo estudante boliviano Ugo Unzaga Villegas, que acabou detido e encaminhado pelas autoridades francesas para tratamento psiquiátrico. A obra foi restaurada.

Em 1974, a pintura esteve em exposição em Tóquio, onde uma mulher tentou borrifá-la com tinta spray vermelha.

Décadas mais tarde, em 2009, já o quadro estava protegido com um vidro, um turista russo foi detido depois de ter atirado uma chávena de chá vazia contra a obra. O ataque apenas danificou o vidro de proteção.

Este domingo, o quadro voltou a ser atacado por um visitante que lhe atirou um bolo com creme para cima. A obra não ficou danificada pois o bolo bateu no vidro que protege a pintura a óleo. Os funcionários do museu limparam rapidamente o vidro.

Como é que a pintura está protegida?

A "Mona Lisa" é um dos quadros mais procurados pelos visitantes do Louvre, sendo que é frequente vermos fotografias em que uma multidão se junta em torno da obra. Por ser tão popular, a pintura está protegida por um painel de vido multilaminado e muito resistente, à prova de bala. Ao mesmo tempo, este material é ainda mais transparente, permitindo a total visibilidade do quadro pelos visitantes do museu.

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