Na semana passada, a propósito de um incêndio na Mouraria (Lisboa) que matou duas pessoas, Carlos Moedas defendeu que se deve estabelecer limites por sectores à imigração e criticou que seja possível atualmente a entrada de imigrantes em Portugal sem contrato de trabalho. Marcelo pediu bom senso
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), afirmou esta segunda-feira que não aceita lições “de ninguém” sobre emigração e imigração, realçando a experiência pessoal nesta matéria - e afirmou que Portugal precisa de uma política de imigração digna.
“Eu fui emigrante, sou casado com uma imigrante, o meu sogro é marroquino, a minha sogra é tunisina, por isso há algo que gostaria de deixar muito claro: não aceito lições de ninguém nesta matéria, de ninguém”, declarou Carlos Moedas numa reunião da Assembleia Municipal de Lisboa.
Na apresentação da atividade do executivo municipal nos últimos três meses, entre novembro e janeiro, o autarca social-democrata disse que Portugal “precisa de imigrantes”, começando por deixar “uma palavra muito sentida, muito profunda, de pesar pelo trágico falecimento de duas pessoas” num incêndio num prédio no bairro da Mouraria, na freguesia de Santa Maria Maior, que ocorreu a 4 de fevereiro.
“Apesar de a investigação ainda estar a decorrer, sabemos, infelizmente, que estes dramas acontecem e têm acontecido na nossa cidade. Todos nos lembramos de vários destes tipos de dramas e ainda bem que nos lembramos […] porque temos de mudar as coisas. Lembro-me perfeitamente, ainda em julho de 2021, também na Rua Morais Soares, quando duas pessoas perderam a vida”, indicou Carlos Moedas.
O presidente da câmara reforçou que conhece “a emigração e a imigração na primeira pessoa, como poucos em Portugal”, e defendeu que “o país precisa de uma política de imigração digna”.
“Aquilo que nós temos em Portugal hoje não é digno e é isso por aquilo que irei lutar. Irei lutar exatamente como político por essa dignidade da nossa imigração, exatamente porque conheço, exatamente porque quero que isso mude e porque é um desafio para todos”, declarou.
Nesse âmbito, o autarca pediu aos vereadores da Habitação, Filipa Roseta (PSD), dos Direitos Humanos e Sociais, Sofia Athayde (CDS-PP), e da Proteção Civil, Ângelo Pereira (PSD), “que reunissem o mais rápido possível com o SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras]”, para se trabalhar em conjunto, para se encontrarem “soluções entre todos”
Carlos Moedas deixou ainda um apelo a todos os presidentes de juntas de freguesia para colaborarem na resposta necessária, uma vez que estes autarcas “são essenciais no papel que têm de proximidade junto de todas estas comunidades”.
O social-democrata frisou que as comunidades de imigrantes “são bem-vindas, são lisboetas", e que o município lutará "por elas, mas com dignidade”.
Marcelo pediu "bom senso" a Montenegro e Moedas sobre imigração
Na semana passada, a propósito do incêndio na Mouraria que matou duas pessoas, Carlos Moedas defendeu que se deve estabelecer limites por sectores à imigração e criticou que seja possível atualmente a entrada de imigrantes em Portugal sem contrato de trabalho. Já Luís Montenegro considerou que o país deve receber imigrantes "de forma regulada” e “procurar pelo mundo” as comunidades que possam interagir melhor com os portugueses.
"Declarações muito emocionais feitas em cima de casos correm o risco de ser irracionais e de irem a reboque de posições mais emocionais que essas terão sempre mais sucesso em termos de captar a opinião pública", comentou o Presidente da República, esta terça-feira.
O Presidente assinalou que Portugal "tem emigrantes espalhados pelo mundo e portanto não pode ter dois pesos e duas medidas", nomeadamente o discurso de que "quando são os nossos são bons, quando são os outros são maus, mesmo que os outros estejam a fazer coisas sem as quais a economia não funcionava, que é o que se passa em muitos casos, vêm fazer e ter a seu cargo atividades profissionais que os portugueses não querem".
Questionado se falta bom senso ao presidente do PSD, o Presidente da República apontou que esta "é uma reflexão genérica mostrada pela prática" e que "é muito simples: manter a cabeça fria e não ir a correr atrás do prejuízo, pensando que se pode cobrir quem tem posições mais emocionais".
Questionado também se constitui uma colagem do PSD ao Chega, Marcelo recusou fazer mais comentários.
Montenegro diz que pedido de Marcelo não foi para si “de certeza absoluta”
Por sua vez, o presidente do PSD recusou que o pedido de bom senso do Presidente da República sobre imigração tenha sido dirigido a si, salientando não admitir qualquer acusação de xenofobia e rejeitou que haja qualquer aproximação ao Chega.
“Não ouvi as declarações do Presidente da República, mas posso ter a certeza absoluta de que não se dirigiam a mim porque o Presidente da República é uma pessoa sensata, que me conhece bem, os meus valores morais, éticos e humanos”, afirmou Luís Montenegro, questionado pelos jornalistas no final de uma iniciativa do PSD sobre habitação em Lisboa.