Porque é que hoje em dia é tudo tão pequenino?

CNN , Ramishah Maruf
5 out 2024, 10:00
Este saco em miniatura da Trader Joe’s agitou as redes sociais, de tal modo que os revendedores estão a tirar partido disso (Christina Paciolla/AP)

O saco em miniatura da Trader Joe’s - que ilustra este artigo - agitou as redes sociais, de tal modo que os revendedores estão a tirar partido disso 

Não é apenas o leitor. Está tudo a encolher.

A Trader Joe’s voltou a disponibilizar neste mês de setembro os sacos em miniatura que custavam 2,99 dólares (2,68 euros) mas que estavam a ser revendidos no eBay por quase 500 dólares (cerca de 448 euros) no início deste ano. As lojas apostam em força, nas suas montras, em produtos de cuidados pessoais, cremes e maquilhagem com tamanhos de viagem. E os TikToks com malas em miniatura recheadas de produtos bem pequenos acumulam milhões de visualizações. Até a marca de chá gelado Snapple lançou uma garrafa com cerca de 240 mililitros, que anunciou como ideal para caber numa miniatura de mala.

Para muitas pessoas, os produtos em tamanho miniatura poderão não fazer muito sentido. Contudo, apesar de um preço por litro ou quilo mais elevado, do aumento do número de embalagens e do potencial para estimular um consumo excessivo, as marcas estão a apostar em produtos com tamanhos mais pequenos, que saciam a nostalgia dos clientes e permitem uma porta de entrada mais acessível ao mercado do luxo.

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(Cortesia Snapple)

Shawn Carter, professor de gestão no Fashion Institute of Technology, explica que, desde a pandemia de covid-19, as lojas estão a dar mais espaço de prateleira aos produtos em miniatura, numa tentativa de combater os preços altos e de atrair clientes mais jovens, das gerações Z [nascidos a partir de 1995] e Alpha [nascidos a partir de 2010].

Os produtos de moda em miniatura começaram na década de 1960, lembra Carter. Com a introdução da minissaia, veio a “clutch” em tamanho mini ou a mala a tiracolo também com dimensões reduzidas.

Tal como acontece com outras tendências do mundo da moda, também os produtos em miniatura estão de regresso. “Essa tendência acelerou em 2022, de tal maneira que poderíamos dizer que se alimentou de esteróides”, vinca o especialista. Para concluir: “já não é uma tendência, está aqui para ficar”.

É o caso da Trader Joe’s. Matt Sloan, vice-presidente da área de marketing e anfitrião do podcast da marca, chamado “Inside Trader Joe’s”, afirmou num episódio em março que a empresa não tinha “a mais pequena ideia” de que os sacos em miniatura se iam tornar tão virais. 

“Para ser honesto, vendemos centenas de milhares de malas numa sala”, disse.

Encontrar um nicho

Mesmo que não esteja a comprar coisas em tamanho pequeno, esta é uma tendência difícil de escapar nas redes sociais.

A conta de Joe Barker no TikTok, chamada The Little Bean, acumulou 3,2 milhões de gostos. Aí, a influenciadora procura colocar o maior número possível de produtos dentro de malas de luxo em miniatura.

Num dos vídeos mais populares, Joe Barker consegue encaixar numa numa mala em minatura Coach Tabby (que custa 195 dólares, cerca de 175 euros) estes produtos: um batom Charlotte Tilbury, um rímel Chanel, um corretor de olheiras Tarte Shape Tape, um pó compacto da Chanel e um perfume da Versace, todos em tamanho mini. Sem esquecer, claro, outros objetos essenciais. Outras das malas que mostra nos vídeos são de marcas como Gucci, Prada ou Louis Vuitton.

Barker começou a sua conta em 2021, como uma forma criativa de conhecer outras pessoas no mundo da moda de luxo. A pandemia de covid-19 fê-la perceber que não precisava de andar carregada com tanta coisa, como costumava fazer. E foi então que mergulhou na tendência das malas em miniatura.

“Sempre que vou sair, geralmente tenho uma mala mais pequena comigo. Não levo sacos ou malas grandes, porque isso simplesmente não combina com o meu estilo de vida”, justifica.

Há muitas maneiras de aderir a esta tendência das miniaturas, diz. Barker também prepara a sua maquilhagem em miniatura, colocando porções dos produtos que costuma utilizar em frascos pequeninos.

Marcas como a Sephora ou a Ulta também oferecem amostras aos clientes quando estes fazem compras, em troca de pontos de fidelização ou nos aniversários. Barker argumenta que acaba por ser uma ótima forma de incentivar os clientes a gastarem mais nessas lojas, uma vez que muitos dos produtos em miniatura estão disponíveis apenas como uma forma de reconhecimento para os clientes mais assíduos.

Porque é que as pessoas gostam tanto de miniaturas?

Até pessoas que não usam produtos em tamanho miniatura acabam por se viciar nos conteúdos de Barker. Ver alguém enfiar muitas garrafas minúsculas num saco é o tipo de conteúdo relaxante que acaba por consumir muito tempo no TikTok. Nesta rede social, Barker tem mais de 100 mil seguidores, no Instagram são 400 mil.

“O que quero dizer é que há um lado fofo nisto, certo?”, atira.

Pense nas bonecas Polly Pocket com que deve ter brincado quando era criança ou nos lanches que costumava levar para a escola. As marcas estão a evocar essas memórias, explorando a nostalgia.

“Os humanos sempre adoraram objetos muito pequeninos. E este fenómeno é apenas uma repetição funcional disso”, descreve Anna Keller, analista principal na Minter.

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(Jeremy Moeller/Getty Images)

Alguns consumidores também preferem as versões em miniatura porque se torna mais fácil acabar o produto.

E, apesar de o preço por quilo ou litro ser geralmente mais alto, os objetos em miniatura acabam por custar menos do que os seus homólogos nos tamanhos tradicionais.

Os objetos de moda e beleza em tamanho reduzido podem também ser, frequentemente, uma porta de entrada no mercado do luxo, sem ter de recorrer a réplicas ou cópias das marcas mais caras, defende Keller.

“As pessoas estão a encontrar formas de entrar no verdadeiro mercado de luxo”, acrescenta.

A produção de miniaturas pode tornar-se cara para marcas de menor dimensão, devido aos custos operacionais adicionais e à necessidade de trabalhar a logística de outra forma com os fabricantes. Contudo, o esforço pode ser compensado, uma vez que os consumidores podem acabar a experimentar outros produtos, especialmente quando as miniaturas já são em si uma tendência.

“Pode ser uma ferramenta de marketing muito valiosa”, resume Keller.

Aderir a qualquer tendência de moda ou beleza que hoje enchem as redes sociais pode acarretar o risco de aumentar o desperdício de plástico: há mais embalagens a circular e implica um esforço adicional na produção, uma vez que se mantém o fabrico dos tamanhos a que estamos habituados.

Melissa Valliant, diretora de comunicações do grupo ambientalista Beyond Plastic defende que as empresas precisam de começar a apostar em produtos reutilizáveis e recarregáveis, para que a proliferação de “embalagens e produtos mais pequenos não acabe a implicar uma maior produção de plástico, quando comparado com os produtos maiores ou reutilizáveis”.

A Association of Plastic Recyclers, que representa o setor da reciclagem de plástico nos Estados Unidos da América, recomenda comprar produtos nos tamanhos habituais, recorrendo depois a embalagens reutilizáveis quando os produtos em miniatura são necessários, por exemplo, durante uma viagem. Isto porque embalagens com menos de cinco centímetros não podem ser recicladas no sistema daquele país.

Já o valor é algo subjetivo para os maiores fãs desta tendência.

“Até posso comprar a versão maior. Sim, pagava mais, mas também tinha mais tecido. Contudo, nunca vou comprar uma mala grande, porque não se encaixa no meu estilo de vida”, justifica a influenciadora Joe Barker. “Se alguém comprar uma coisa que custe mais, mas acabe por usá-la mais vezes, talvez valha a pena o investimento”.

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