Muitos são obrigados a desenvencilhar-se na hora da comida quando chegam à vida universitária. Pela carteira apertada ou pela falta de jeito, há ‘clássicos’ na alimentação de um estudante
E se um jovem adulto, acabadinho de começar a vida universitária, não soubesse o que é uma cebola? Pois, acontece em Portugal. É um caso relativamente raro, mas acontece.
“Tivemos um participante num dos nossos workshops práticos que pega numa cebola e nos questiona ‘o que é isto’?”, confirma Joana Sousa, professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa dedicada à área da Nutrição Clínica.
Entre os universitários, dúvidas há muitas. Mas antes de chegarmos às mais extremas - como, por exemplo, para que serve uma cebola - falemos antes de um prato que acompanha todo o imaginário da vida universitária portuguesa: a massa com atum, símbolo da preguiça em cozinhar, mas também dos recursos parcos que esta fase da vida pode implicar.
Pergunta: pode a massa com atum ser saudável? Resposta: sim, pode. Joana Sousa lembra que está lá a fonte de energia, com os hidratos de carbono da massa, bem como a proteína. “O atum, se for ao natural, melhor”.
Mas para atingir o estatuto de saudável e nutricionalmente equilibrado, há algo que falta a este prato: frutas e legumes. “Se fizermos um refogado com tomate e feijão verde - lá está, a cebola no refogado - temos aqui um prato com os princípios da dieta mediterrânica”. Quem fala em feijão verde, também pode falar em brócolos ou naquelas misturas de vegetais que encontramos nos supermercados e que nos fazem poupar muito tempo.
Depois, é tudo uma questão de seguir as regras: metade do prato deve consistir em hortofrutícolas, um quarto para os hidratos de carbono como a massa, o arroz ou a batata, o outro quarto para a fonte de proteína, que tanto pode ter origem animal como vegetal.
Dica: evite é fazer massa com atum todos os dias, até para desenjoar um bocadinho.
Um universo cheio de assimetrias
“Cada vez mais, temos estudantes universitários a entrar no ensino superior com um desvio significativo de uma alimentação saudável, ou seja, do padrão mediterrânico”, conta Joana Sousa.
Daí que nos laboratórios e nos workshops desenvolvidos pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a principal abordagem esteja na literacia alimentar. “É preciso identificar o que vamos fazer para comer, o que vamos comprar, como vamos preparar e como vamos consumir”.
Pelo trabalho no terreno é notória uma diferença entre os estudantes deslocados e aqueles que se mantêm perto de casa. Estes últimos, explica Joana Sousa, acabam por se manter num ambiente familiar que lhes permite o acesso a refeições mais equilibradas e completas.
Nos deslocados, se a comida não tiver chegado através das famosas marmitas para a semana preparadas pelos pais na visita do fim de semana, a coisa torna-se mais difícil. Quando tem de ser o estudante a preparar a própria comida, “a oferta de conveniência torna-se muito mais apelativa”.
“Ou compram as coisas prontas a consumir ou, quando compram para fazer as refeições em casa é numa perspetiva de pronto a comer, que implica pouca confeção. Isso tem impacto no aporte nutricional e na saúde global”, alerta a especialista.
Joana Sousa avisa ainda que há uma conceção errada de que uma alimentação saudável é mais cara do que estas opções mais rápidas. “Isso não é verdade”. E dá uma sugestão simples e económica para aplicar no dia a dia: uma panela de sopa, cheia de legumes, que pode dar para a semana toda, sempre conjugando com outros pratos.
Sejam ou não deslocados, o retrato entre os estudantes universitários é claro: baixo consumo de frutas e legumes, baixo consumo de cereais integrais, alto consumo de produtos de origem animal, sobretudo de carne vermelha.
E uma cervejinha, vai?
Outro dos produtos que está frequentemente associado à vida académica é a cerveja. O tema também gera interesse nos laboratórios de nutrição. Quantas se podem beber? A resposta é que talvez não seja tão animadora.
“Claro que um dia de festa é um dia de festa. Há que haver razoabilidade e bom senso têm de existir. Sempre tendo consciência de que as recomendações são de consumo zero”, conclui Joana Sousa.