EUA enviaram mísseis para a Ucrânia e estão com dificuldade em repor o stock

16 mai 2022, 13:50

Sector não consegue responder ao aumento de procura por armamento por causa da guerra na Ucrânia. Faltam mísseis, mas também tanques

A guerra na Ucrânia tem sido marcada por um pedido recorrente de Volodomyr Zelensky (entre outros) aos países do Ocidente: enviem-nos armas. Mas, neste momento, os países do Ocidente poderão estar sem armas, neste caso, sem mísseis para enviar para a Ucrânia. Isto porque, de acordo com o El Mundo, o sector não consegue corresponder ao aumento de procura por armamento e a produção não satisfaz os pedidos feitos pelos países desenvolvidos.

É o caso de Taiwan que encomendou e pagou 250 mísseis antiaéreos Stinger aos Estados Unidos para se defender em caso de uma invasão chinesa, mas não os vai receber porque os EUA estão sem mísseis por causa da guerra na Ucrânia. Mas, nos EUA não faltam apenas mísseis Stinger, Javelin e NLAW (sistemas antiaéreos e antitanque portáteis). Os 40 tanques M109 Paladin que deveriam ser entregues a Taiwan em 2023 poderão chegar só em 2026, uma vez mais por causa da guerra na Ucrânia.

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, na passada quarta-feira, um pacote de 40 mil milhões de dólares (38 mil milhões de euros) para a Ucrânia, reforçando o apoio a Kiev como anunciado pelo presidente Joe Biden. Nesse pacote, 23 milhões estão destinados apenas a armas, o que representa seis vezes toda a ajuda militar que Washinton enviou a Kiev desde que a guerra começou.

De acordo com o senador democrata Richard Blumenthal, os "Estados Unidos entregaram aproximadamente um terço dos seus Javelin à Ucrânia", dizendo mesmo que "o armário está vazio.” O Pentágono, por seu lado, garante que os oito pacotes de ajuda à Ucrânia não prejudicaram a prontidão da Defesa norte-americana e que nunca descerão "abaixo do nível mínimo indispensável do inventário". "Manteremos sempre a capacidade de defender este país e manter os nossos interesses”, garante o Pentágono.

Contas feitas pelo analista Mark Cancian, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, citado pelo El Mundo, os EUA têm entre 20 a 25 mil Javelin, o que significa que terão sido enviados entre 7 a 8 mil mísseis para a Ucrânia. O problema é que as empresas Lockheed Martin e Northrop, que fabricam estes mísseis, só conseguem produzir 6.480 mísseis por ano. Ou seja, um ano não chega para repor os mísseis que os EUA enviaram para a guerra.

Já o Reino Unido terá enviado 6.200 mísseis NLAW, quase metade do seu stock. Os mísseis são fabricados no Reino Unido e o prazo para entrega será semelhante aos do Javelin. 

No caso dos Stinger, as forças armadas dos EUA deixaram de comprar este tipo de mísseis há 19 anos e procuram agora um substituto. A empresa Raytheon, em Tucson, no deserto do Arizona, só consegue fabricar 250 por ano e demora 24 meses a entregar a arma que leva titânio. Ora, a oferta deste metal está reduzida porque o segundo maior exportador do mundo é a Rússia e o quinto a Ucrânia.

Em resumo, o setor da defesa tradicional tem, neste momento, poucas empresas para dar resposta ao aumento de procura de armamento pelos países. Segundo o Financial Times, em 1990, os EUA tinham 51 fornecedores, sendo que atualmente têm apenas cinco. O número baixa quando o armamento em questão são os mísseis táticos: de entre as 13 empresas que os produziam em 1990, já só há três. 

Com a diminuição do número de empresas a produzir, um aumento de produção é impossível e recuperar o fabrico de sistemas como o M109 também. Isto porque os EUA converteram a indústria motorizada de Detroit para produzir o arsenal da II Guerra Mundial mas, atualmente, a cidade vive de serviços e praticamente não tem fábricas.

Os diretores das empresas que fornecem armamento aos EUA - Lockheed Martin, Raytheon Technologies, Boeing, Northrop Grumman e General Dynamics - reconheceram em abril que vão lucrar com a despesa que a guerra obrigou a Defesa norte-americana a fazer, mas os problemas na cadeia de abastecimento podem dificultar os esforços para aumentar a produção.

A falta de armamento nos EUA gera também preocupação na Europa, uma vez que, segundo o FT, que cita especialistas no setor, as empresas europeias produzem uma vasta gama de armamento, mas não têm capacidade industrial suficiente para atingir o número de produção necessário para atender aos pedidos.

Mark Cancian, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, diz mesmo que os países do Leste Europeu estão mais inclinadas a comprar armamento aos EUA porque sentem que "as empresas americanas estão incorporadas nas forças militares e isso dá-lhes outra sensação".

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