“Um jovem especialista ir para um determinado local ganhar cerca de 40% mais que o colega que lá está. Não faz sentido”, o sindicato quer medidas para fixar jovens médicos

Agência Lusa , MBM
14 abr 2023, 15:55
Jovens especialistas no SNS, mais 900 vagas. (Paulo Mumia/Getty Images)

A abertura de mais de 900 vagas para médicos de família anunciadas na sexta-feira por Pizarro, não resolvem a "questão de fundo", de acordo com o Sindicato Independente dos Médicos

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) defendeu esta sexta-feira que as medidas anunciadas pelo ministro da Saúde para fixar jovens médicos de família deveriam ser generalizadas e que, para a questão de fundo, não está a ser encontrada solução.

“A questão de fundo é criar condições a todos os médicos do Serviço Nacional de Saúde [SNS], (...) melhorar as suas condições de trabalho, melhorar as condições de remuneração para deixarem de sair do SNS”, disse à Lusa o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha.

O responsável falava a propósito das medidas anunciadas sexta-feira, numa entrevista ao jornal Público, pelo ministro da Saúde, na qual Manuel Pizarro avança com a abertura de mais de 900 vagas para médicos de família e com algumas inovações para os atrair e fixar no SNS, entre as quais uma remuneração majorada em 40% nalguns casos e um modelo que envolve um compromisso de mobilidade por parte dos jovens médicos.

O SIM insistiu que estas medidas devem ser generalizadas a todos os médicos e afirma que “não faz sentido que se continue a persistir numa situação onde se incentiva alguns jovens médicos a irem para determinados locais trabalhar quando há décadas esse trabalho é garantido pelos médicos que lá estão”.

“Nas experiências anteriores, isso tem dado mau resultado”, lembrou Roque da Cunha, insistindo que “o diabo está nos detalhes”.

“Temos de ver (…) que tipo de apoio é que os esses médicos irão ter. Não basta irem médicos, é preciso que existam enfermeiros. Portanto, mais uma vez, em vez de proclamar anúncios, era importante que se concretizassem propostas”, afirmou.

Roque da Cunha recordou que no processo negocial, entre os sindicatos e o Ministério da Saúde, “alguns destes aspetos estão em desenvolvimento”, mas insistiu: “Como se costuma dizer, o diabo está nos detalhes e, muitas vezes, com este afã de anúncio, perde-se em termos de eficácia”.

“As experiências que ocorreram no passado deram mau resultado. Imagine o que é um jovem especialista ir para um determinado local ganhar cerca de 40% mais que o colega que lá está. Não faz sentido”, afirma o secretário-geral do SIM, sublinhando a necessidade de “preparar uma situação global”.

Admitiu também que há soluções que "até podem ter pernas para andar”, nomeadamente a questão do compromisso para que um grupo de médicos vá para determinado local, “com determinados apoios”, para responder a utentes sem médico, mas insistiu que, sem uma nova grelha salarial e melhoria das condições de trabalho, “os médicos vão continuar a sair do SNS”.

“Não adianta abrir 900 vagas quando nós sabemos que só cerca de 600 médicos é que concluíram e, desses, ou 400 é que irão concorrer a este concurso”, acrescenta.

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