A análise à crise política em Portugal, passando pela intervenção da justiça e olhando para o que vai acontecer quando António Costa sair
"Não há dúvida que várias pessoas próximas do primeiro-ministro, nomeadamente o ministro João Galamba, também o ex-ministro Matos Fernandes, o ministro Duarte Cordeiro, o chefe de gabinete do primeiro-ministro, moveram todas as influências junto da Câmara Municipal de Sines, junto da Agência Portuguesa para o Ambiente, para que obstáculos fossem afastados". Este é o entendimento de Miguel Sousa Tavares sobre a Operação Influencer, que já fez cair o Governo, e que promete dominar a atualidade nos próximos meses.
No Jornal Nacional da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), o comentador disse que "é tudo muito vertiginoso", dizendo que o Ministério Público desconfia do crime de tráfico de influências, parecendo que houve "grandes esforços da empresa Start Campus. Porque é aí que se concentra, não é nem no lítio, nem no hidrogénio verde, nem no Data Center de Sines, para que o seu projeto fosse aprovado, nomeadamente afastando os obstáculos de natureza ambiental que se punham, porque aquilo começou a ser construído à primeira fase, numa zona não edificante, de não construção".
"É muito difícil de distinguir onde é que há crime e onde é que há uma atividade normal, quer das empresas que querem levar o seu negócio avante e têm de negociar com os governos e fazer pressão, fazer lóbi, e onde é que há o empenho do governo em levar a avante projetos que acha que são importantes para o país", explica Miguel Sousa Tavares.
Apesar do avançar das suspeitas, Miguel Sousa Tavares lança várias dúvidas em relação à atuação do Ministério Público. O comentador diz que a justiça "não conseguiu identificar quais eram as contrapartidas recebidas pelos arguidos, ou suspeitos, nenhuma. Portanto, não há aqui uma contrapartida".
"No limite podemos estar aqui perante, digamos, uma falta de mundo da parte dos agentes do Ministério Público, uma falta de saber como é que isto funciona no mundo dos negócios", acrescenta, criticando aquilo que diz ser uma diferença entre a narrativa de que é necessário investimento estrangeiro, enquanto "temos o Ministério Público a dizer que aqui tentam facilitar tudo".
"Quem vem para cá investir este dinheiro necessariamente tem de ter contacto com membros do Governo. Não pode, pois, ser suspeito porque convidou um ministro para almoçar. E há aqui um almoço que custou 7,30 euros por cabeça, mas também há almoços de 21 euros e 30 euros, também estão nos autos. Não pode saber que o seu telefone vai ser escutado só por se encontrar com membros do Governo, que é normal, com membros daquela área. Não pode, pois, ser suspeito de estar a traficar influências ou a corromper ministros", reitera.
Costa de saída
Sobre a saída de António Costa, Miguel Sousa Tavares deixa uma palavra: alívio. Alívio do primeiro-ministro demissionário: "Quando se governa Portugal durante oito anos e se sai, eu acho que se deve sentir algum alívio, sinceramente".
"Eu já estive mais convencido da solução de dissolução da Assembleia, nomeadamente há meia hora atrás - antes do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa -. Porque de facto, eu continuo a achar que o voto é mais do Partido Socialista do que do António Costa", vincou, criticando a opção do Presidente da República.
Miguel Sousa Tavares admite mesmo que, caso o Presidente da República tivesse a oportunidade de fazer uma sondagem aos portugueses, talvez o PS voltasse a ganhar.
"Por outro lado, nós de facto vamos atravessar períodos muito conturbados, muito difíceis. Imaginemos que a guerra do Médio Oriente vai alastrar e que nós vamos ter uma crise de abastecimento de gasolina, por exemplo, com um governo em gestão até 10 de março. Imaginemos como é que isto vai ser. Esse é só um dos exemplos, porque nomeadamente, depois do que aconteceu agora com esta Operação Influencer, o investimento estrangeiro, eu presumo que vai cair a pique em Portugal, porque nós vamos ter problemas graves", termina.