Miguel Sousa Tavares garante que a invasão terrestre do Líbano por Israel é uma inevitabilidade e destaca que "o exército libanês está paralisado". O comentador lançou ainda duras críticas ao voto contra de Marta Temido e de dois outros socialistas ao reconhecimento de Edmundo González Urrutia como presidente da Venezuela
No seu habitual espaço de opinião no Jornal Nacional, 5.ª Coluna, Miguel Sousa Tavares disse não ter dúvidas de que Israel irá invadir o Líbano com forças terrestres. “Eu penso que infelizmente vai haver uma invasão terrestre”, sublinhou, destacando que será a terceira vez que Israel invade o Líbano, que é uma espécie de quintal das traseiras de Israel.”
Para o comentador, a disposição com que Netanyahu chegou a Nova Iorque é elucidativa disso mesmo. “Aliás, a própria visita de Netanyahu à Assembleia Geral das Nações Unidas é curiosa”, porque “Netanyahu tem um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional, que é um órgão das Nações Unidas, e vai discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, cujo tribunal passou um mandado de captura contra ele”. Contudo, acrescenta, “é evidente que o edifício das Nações Unidas é território neutro, não é território americano, e os Estados Unidos também não são subscritores do Tribunal Penal Internacional, tal como Israel”.
Ainda assim, “não deixa de ser uma provocação que mostra até que ponto é que Netanyahu se preocupa pouco com o que diz o direito internacional e menos ainda com o que dizem as Nações Unidas”.
Sousa Tavares aponta ainda que o Líbano, sendo um país independente, não o parece - “de facto, é um joguete nas mãos de Israel e nas mãos do Hezbollah”. No entanto, “como país independente o Líbano tem um exército, tem um exército de 85 mil homens, que é mais do que o exército do Hezbollah, que são 40 a 50 mil, segundo se calcula”. Simplesmente, continua o comentador, “o exército do Líbano reflete a própria composição étnica do Líbano, que é um país dividido entre várias etnias”.
Dessa forma, conclui, “o exército libanês está paralisado, porque lá dentro tem drusos, tem cristãos maronitas, tem palestinianos e não se mexe”. Aliás, explica, a resolução 1701, que ditou que o exército libanês desarmasse o Hezbollah, nunca foi cumprida. “É claro que nunca o fez, nem nunca o fará, porque entraria em guerra aberta com o Hezbollah e eles não o querem fazer.”
Portanto, destaca, “vamos assistir, no caso de uma invasão terrestre, provavelmente todo o exército libanês ficar de braços cruzados a ver o seu país a ser destruído”.
Sousa Tavares refletiu ainda sobre as medidas de apoio decretadas esta quinta-feira pelo Governo para apoiar as populações e as empresas que foram vítimas dos incêndios que assolaram uma grande parcela do país na última semana. Sobre essas medidas, o comentador destaca que “o Governo respondeu depressa, articuladamente, e que o desenho das medidas parece ser adequado à situação e a verba envolvida também parece ser suficiente”.
O comentador aproveitou ainda para criticar o voto contra dos socialistas Marta Temido, Ana Catarina Mendes e Bruno Gonçalves em relação ao reconhecimento de Edmundo González Urrutia como presidente legítimo e democraticamente eleito da Venezuela. Este voto desalinhou com a restante bancada socialista e Sousa Tavares diz não perceber “o que é que falta mais para que os que votaram contra reconheçam que houve uma chapelada nas eleições venezuelanas”.
“Marta Temido disse que faltavam provas, mas a oposição venezuelana apresentou provas, apresentou as contagens de mesas de voto, enquanto do lado governamental, Maduro, até hoje não apresentou os resultados das mesas de voto que disse que ia apresentar”, lembra, acrescentando que, no fundo, “temos aqui um Partido Socialista fiel aos valores da liberdade, que é o de Mário Soares, e um Partido Socialista que facilita, que é o Partido Socialista de Pedro Nuno Santos”.