Sem ter ficado surpreendido com os resultados nos Estados Unidos, Miguel Sousa Tavares deita um olhar ao que aí vem
Miguel Sousa Tavares nunca teve muitas dúvidas: mais fácil ou dificilmente, Donald Trump ganharia as eleições presidenciais nos Estados Unidos e seria eleito o 47.º presidente norte-americano, ele que vai voltar à Casa Branca quatro anos depois.
Mas não da mesma forma. Antes com um poder reforçado, algo que o comentador da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) chama de ter “o poder todo aos seus pés”, já que não é apenas a presidência, mas também o Senado, o Supremo Tribunal federal e, a julgar pelo correr da contagem dos votos que ainda faltam, também a Câmara dos Representantes.
“É a época das trevas devido ao facto de coincidirem estas coisas. Além disso ganhou no voto popular, o que lhe dá legitimidade política. Tem o poder todo aos seus pés e isso põe em causa o funcionamento da democracia americana como a conhecemos”, afirmou no espaço 5.ª Coluna, que assina no Jornal Nacional.
E o problema chega ao lado de lá, já que Miguel Sousa Tavares não vê capacidade nos democratas para conseguirem reunir os instrumentos necessários para combater o “poder imenso de Donald Trump”.
Com os democratas quase arredados, o presidente eleito conta antes com um grande nome: o homem mais rico do mundo - que até usufruiu, e muito, desta eleição -, Elon Musk.
Independentemente do excêntrico dono da Tesla, SpaceX e Twitter poder vir a ter ou não um cargo governamental, como lhe foi prometido, Miguel Sousa Tavares alerta para a aparição de um homem “perigosíssimo”, e que até pode ser “mais perigoso fora da Casa Branca que dentro”.
Sobre a forma como Donald Trump conseguiu chegar à presidência pela segunda vez, Miguel Sousa Tavares garante que não foi surpreendido pelo resultado, atribuindo a votação maciça do norte-americano médio à vitória.
Mas há também culpa do lado Democrata. “Porque a saída de Joe Biden foi muito tardia, Kamala Harris teve muito pouco tempo para se preparar, estava mal-preparada e, sobretudo, porque os democratas também não souberam atacar os dois campos onde se sabia que Trump ia bater mais, imigração e economia”, acrescenta.
Isto apesar de um cenário de praticamente pleno emprego, de uma economia a crescer três vezes a da Zona Euro e de uma inflação finalmente controlada.
Assim, remata Miguel Sousa Tavares, Donald Trump ganhou fora das elites, que não é uma questão estritamente norte-americana: “Está a atravessar todas as democracias e não só, é uma questão candente, muito graças à desinformação que corre nas redes sociais, que alimentam populismos. Há revolta das massas contra as elites, viu-se nos Estados Unidos, mas não apenas”.
Sobre as primeiras medidas da nova administração, que toma posse a 20 de janeiro, o comentador da TVI antecipa uma amnistia a si mesmo, na tentativa de se livrar dos processos judiciais que o perseguem, mas também uma possível supressão de direitos civis e garantias constitucionais.