Habitação, TGV e ainda o novo aeroporto: Miguel Pinto Luz continua com os mesmos problemas

4 jun, 17:44
Miguel Pinto Luz (Lusa)

Para os próximos quatro anos, o já anunciado Aeroporto Luís de Camões, a privatização da TAP e a crise da Habitação serão as principais problemáticas com o reempossado ministro terá de lidar

Foi oposição interna a Luís Montenegro, a quem chamou uma “solução de passado” que não trazia “rigorosamente nada de novo para cima da mesa”, durante as eleições internas no PSD, em 2020. Quando saiu derrotado acabou por aproximar-se do presidente eleito, tornou-se vice-presidente do partido, depois de na última legislatura ter sido eleito como cabeça-de-lista do PSD por Faro. Agora chega ao Parlamento como segundo nome pelo círculo eleitoral de Lisboa atrás de Miranda Sarmento - ministro das Finanças - e vai manter-se com a pasta das Infraestruturas e Habitação.

Miguel Pinto Luz foi, mais uma vez, o escolhido de Luís Montenegro para assumir as Infraestruturas. A legislatura até pode ser nova, mas os problemas que tem pela frente são exatamente os mesmos: a crise de Habitação, a privatização da TAP e o novo aeroporto.

Na Habitação, Pinto Luz tem em mãos um mercado que parece estar a ficar a cada mês mais desregulado e a atingir preços que a maioria dos cidadãos é incapaz de comportar. Fenómeno que tem vindo a ser motivado pela escassez de habitação para venda, sobretudo nos grandes centros urbanos, aliado ao crescente número de investidores estrangeiros que começar a olhar para o mercado habitacional português como uma oportunidade de investimento.

A questão da privatização da TAP deverá ficar encerrada durante a próxima legislatura. Entre os principais interessados na compra da companhia aérea portuguesa estão os alemães da Lufthansa, a Air France-KLM e a IAG, que já detém a Brithish Airways e a Iberia. O Governo tem vindo a avaliar vários modelos de privatização, incluindo a venda de uma participação minoritária, mas quer salvaguardar as rotas estratégicas para Brasil, África e América do Norte.

Quanto ao novo aeroporto, os paradigmas com que Pinto Luz vai ter de lidar ramificam-se. Depois de na última legislatura o Governo de Luís Montenegro ter decidido que a infraestrutura iria ser edificada no Campo de Tiro de Alcochete e chamar-se Aeroporto Luís de Camões, Pinto Luz terá agora a tarefa de agilizar a obra da ligação ferroviária de alta velocidade, TGV, bem como uma eventual terceira travessia sobre o Tejo, projetada para ligar Chelas e o Barreiro.

O desenvolvimento da rede de transportes públicos nacionais e a mobilidade sustentável também vão marcar a próxima legislatura e são temas que vão ficar a cargo de Pinto Luz. A transição verde nas Infraestruturas e a execução dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência também deverão ocupar boa parte do tempo do ministro ao longo dos próximos quatro anos

Quem é Miguel Pinto Luz? 

Tem 48 anos, reside em Cascais e é licenciado em Engenharia Eletrotécnica e Informática pelo o Instituto Superior Técnico e tem um mestrado em Rede Informáticas.

Na juventude, Miguel Pinto Luz foi filiado na maçonaria, mas garante que já não tem qualquer ligação há mais de dez anos. Em 2020, confrontado por Rui Rio de ter obediência à maçonaria durante as eleições internas, o então candidato desvalorizou. “Não tem mais [influência] do que o Benfica. Não sou benfiquista, mas acho que o Benfica tem mais influência do que a maçonaria”, disse em entrevista ao Expresso.

No PSD ocupou vários cargos. Foi membro da Comissão Política Nacional do partido, é Conselheiro Nacional do PSD e foi vice-presidente da Câmara de Cascais, de 2017 a 2024. Fez parte do executivo do PSD de Pedro Passos Coelho onde ocupou o cargo de secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações.

É devido a esta experiência que Luís Montenegro atribui a Miguel Pinto Luz algumas dos temas mais sensíveis da governação, que envolvem decisões relacionadas com a venda da TAP, a decisão sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa ou a crise na habitação.

Em 2019, concorreu contra Rui Rio e Luís Montenegro pela liderança do partido, criticando ambos os candidatos como sendo “soluções do passado”, com discursos “bacocos”, e atacou o que disse ser o “medo do politicamente correto” que existia no PSD. No entanto, disse que via em Luís Montenegro a possibilidade de juntar “todas as siglas da direita” para garantir uma maioria, abrindo as portas a uma aliança com o Chega.

“É possível chegar à maioria absoluta, mas temos de ter um discurso novo, sem medo do politicamente correto. Por exemplo, esta coisa de colocar linhas vermelhas em relação ao Chega... Que diabo! Mas quais linhas vermelhas?”, questionou.

Dois anos depois, novas eleições no PSD e Montenegro procura a “unidade” do partido chamando para si o seu antigo adversário. Pinto Luz, que em 2021 apoiou a candidatura de Paulo Rangel contra Rui Rio, aceitou e tornou-se o número dois de Montenegro na eleição interna contra Jorge Moreira da Silva. Desde então passou a aliado indispensável e um dos elementos com o acesso aos grupos de WhatsApp e aos círculos mais restritos das tomadas de decisão do partido.

Esteve no meio de uma polémica interna com a decisão de Montenegro de o tornar cabeça de lista da Aliança Democrática no Algarve, para as eleições legislativas de 10 de março de 2024. Questionado sobre a aparente falta de ligações à região, o político defendeu-se, garantindo que o avô paterno era algarvio e que o pai reside no Algarve.

Para trás parece ter ficado a posição do social-democrata para com o Chega. Numa entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, o vice-presidente social-democrata defendeu a posição do líder do PSD em relação ao Chega, defendo que “não é não”. “Com Luís Montenegro, não é não. Se não fosse assim, estaríamos muito mal (…). Era o início do fim da política como a conhecemos. Luís Montenegro nunca mudou a sua posição. Foi correto, direto e nunca vacilou e não vacilará daqui para a frente”, garantiu.

Relacionados

Governo

Mais Governo