Uma das 27 vítimas da tragédia no Canal da Mancha vai ser sepultada com o nome X. As outras 26 estão identificadas

14 dez 2021, 21:25
Rezhwan Hassan

Autoridades francesas divulgaram esta terça-feira as identidades das vítimas do naufrágio que ocorreu em novembro e revelaram também algumas das histórias destas pessoas que perderam a vida entre França e o Reino Unido. Vítima que não foi identificada será enterrada com o nome X

Maryam, Rezhwan, Afrasia, Husain, Naeem, Shahwali e Khazal são sete dos 27 migrantes que morreram no maior naufrágio alguma vez registado no Canal da Mancha. Vinte e seis das 27 vítimas mortais foram identificadas esta terça-feira.

O desastre ocorreu a 24 de novembro nas águas que separam França de Inglaterra. As autoridades francesas divulgaram esta terça-feira 26 das 27 vítimas mortais.

Os migrantes tinham partido a bordo de um barco insuflável ao final da noite em Loon-Plage, perto de Grande-Synthe, no norte de França, onde muitos permaneciam acampados no litoral. De acordo com o Ministério do Interior francês, foram resgatados apenas dois homens: um curdo-iraquiano e um sudanês. 

Entre os 27 migrantes que morreram no naufrágio estão sete mulheres, um adolescente e uma menina de sete anos. As autoridades francesas adiantaram que entre as vítimas agora identificadas estão:

  • Dezasseis curdo-iraquianos, incluindo quatro mulheres entre os 22 e os 46 anos, uma adolescente de 16 anos, uma criança de 7 anos e dez homens dos 19 aos 37 anos;
  • Um homem curdo-iraniano de 23 anos;
  • Três etíopes, nomeadamente duas mulheres de 22 e 25 anos e um homem de 46 anos;
  • Uma mulher somali de 33 anos;
  • Quatro afegãos com idades entre os 24 e 40 anos;
  • Um homem egípcio de 20 anos;

Ao contrário do que tinha sido adiantado pelo autarca de Calais à BBC, "nenhuma mulher grávida foi identificada entre as vítimas”, especifica agora a procuradora Laure Beccuau. A procuradoria de Paris emitiu "vinte e sete autorizações de sepultamento, incluindo uma emitida sob o nome X para a única pessoa não identificada até ao momento", acrescenta Laure Beccuau.

 

Maryam Nuri Mohamed Amin, 24 anos, Iraque

A identidade da jovem de 24 anos foi a primeira a ser identificada entre as vítimas mortais do naufrágio. 

Era uma mulher de origem curda e natural do norte no Iraque. Tentava reencontrar-se com o noivo no Reino Unido, mas não conseguiu obter um visto.

Rezhwan Hassan, 18 anos, Iraque 

O jovem de 18 anos era carpinteiro na aldeia de Rania, na região do Curdistão, no Iraque, e sonhava com uma vida melhor no Reino Unido.

Em entrevista à BBC, a família de Rezhwan afirma que o sobrinho ainda o tentou demover da viagem: "Ele dizia que não conseguia aguentar mais viver lá".

A última vez que a família soube do paradeiro do jovem foi na noite do desastre. Rezhwan tinha dito que os iria contactar a partir do Reino Unido. A família implorou ao jovem que voltasse, mas este reiterou que iria chegar ao território britânico "mesmo que isso custasse a sua vida". 

Afrasia Mohamed, 27 anos, Iraque

Amigo de Rezhwan Hassan e também natural da aldeia de Rania, no Curdistão, Afrasia Mohamed, de 27 anos, seguia a bordo da embarcação. 

À BBC, a irmã de Afrasia afirma que o curdo acreditava que o Reino Unido podia dar-lhe um futuro melhor. Os dois amigos pagaram milhares de euros aos contrabandistas para os ajudar a chegar ao país. 

Husain, 24 anos, Afeganistão

De acordo com a imprensa francesa, Husain estaria a viajar com dois amigos, Naeem e Shahwali. Tinha regressado ao Afeganistão durante alguns meses para se casar.

Estaria a regresso ao Reino Unido, onde trabalhava há vários anos na construção civil. 

 

Naeem, 40 anos, Afeganistão

Vivia no Reino Unido desde 2009, onde pediu asilo. Estaria a voltar do Afeganistão, onde regressou para visitar a sua família. Num dos seus últimos telefonemas afirmou que os migrantes tinham tentado chamar a polícia inglesa a bordo da embarcação, mas sem sucesso.

 

Shahwali, Afeganistão

Tinha ido ao Paquistão, onde sua família estava exilada, para se casar. Estaria de regresso a Inglaterra para trabalhar.

 

Khazal, 46 anos, Iraque

A mulher curda, natural de Darbandikhan, no Iraque, e os três filhos, Hadia, de 22 anos, Mubin, de 16, e Hasti, de 7, tinham sido expulsos do campo de Grande-Synthe uma semana antes da tragédia. Tinham perdido tudo durante essa expulsão, incluindo a tenda e sacos-cama.

Quando questionada por um repórter do New York Times sobre uma possível viagem de barco, respondeu: "O pensamento de os meus filhos e eu viajarmos neste barco preocupa-me a cada minuto, mas vejam onde estamos: não podemos ficar aqui".

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