Morreram 13 migrantes por dia entre 1/1/2021 e 10/12/2021

10 dez 2021, 20:57
Crise migratória na fronteira da Polónia com a Bielorrússia (ASSOCIATED PRESS)

Organização Internacional para as Migrações deixa o aviso: situações de migrantes envolvidos em “grandes tragédias” estão a ser “cada vez mais normalizadas”

São números do mais recente relatório da Organização Internacional para as Migrações: morreram 13 migrantes por dia, em média, ao longo deste ano - são 4.470 mortes no total, mais do que as 4.436 registados em todo o ano de 2020. 

Só esta quinta-feira, e num só local, morreram mais 54: um acidente com um camião de mercadorias que transportava mais de 100 migrantes tirou a vida a estas pessoas e feriu outras 59 no sul do México. 2021 é já um dos anos mais mortíferos para migrantes desde que há registos. 

O balanço deste ano é já superior ao de 2020 e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), liderada pelo português António Vitorino, teme que possa vir a ser ainda “mais elevado”, tendo em conta a frequência com que estes eventos mortais têm sido registados em 2021.

Desde 2014, a OIM registou a morte de mais de 45.400 migrantes a nível mundial. Segundo a organização, o número de mortes e desaparecimento de migrantes aumentou em muitas rotas migratórias este ano, incluindo na Europa e nas Américas. 

650 mortes: EUA/México

Em muito poucos sítios esta realidade mortal foi tão visível como nos Estados Unidos da América. A crise migratória na fronteira americana com o México não é nova e, durante a presidência de Donald Trump, tornou-se um dos assuntos centrais da vida política norte-americana.

No entanto, é no ano de 2021, durante a liderança de Joe Biden, que se registou o maior número de mortes na fronteira desde que há registo, com cerca de 650 pessoas a morrerem ao tentar entrar de forma ilegal nos Estados Unidos da América.

Associated Press

42 mortos: Colômbia/Panamá

Na região de Darién, uma zona remota de selva entre a Colômbia e o Panamá, morreram pelo menos 42 pessoas, mas a OIM considera que as mais de 125.000 travessias irregulares deste ano podem significar que o “verdadeiro número de mortes é provavelmente muito superior”.

1315 mortos: “um grande cemitério” chamado Mediterrâneo

No final de novembro, o Papa Francisco referiu-se à região do Mediterrâneo como “um grande cemitério” para migrantes, que, em muitos casos, acabam por ser recebidos com hostilidade em terra. E os números dão razão a Francisco. O ano de 2021 foi um dos mais mortíferos para quem tentou entrar na Europa por esta rota, com 1.315 pessoas a perder a vida.

“A travessia do Mediterrâneo Central [que sai da Líbia, da Argélia e da Tunísia em direção a Itália e a Malta] já reclamou pelo menos 1.315 vidas até agora este ano”, pode ler-se no relatório da Organização.

937 mortos: Ilhas Canárias                                

O arquipélago espanhol das ilhas Canárias parece ser cada vez mais uma rota escolhida para se entrar na Europa. Pelo menos 937 pessoas morreram na rota atlântica para as ilhas espanholas, mais do que em qualquer outro ano anterior durante pelo menos uma década.

Além disso, são várias as embarcações que desaparecem sem deixar rasto, podendo fazer com que o número de óbitos seja, na realidade, superior aos números oficiais.

Associated Press

As saídas da costa marroquina em direção à Europa, em particular às Ilhas Canárias, têm aumentado recentemente, através das rotas marítimas no Atlântico ou no Mediterrâneo, apesar do reforço dos controlos.

Entre 12 e 15 de novembro, a guarda costeira marroquina havia prestado assistência a cerca de 330 migrantes no Atlântico e no Mediterrâneo, de acordo com fonte militar.

41 mortos: Grécia/Turquia

Foram, durante largos anos, o epicentro da crise migratória que se viveu na Europa a seguir ao estalar da guerra civil síria. De acordo com os números oficiais, 41 migrantes morreram na fronteira terrestre entre a Grécia e na Turquia este ano, o maior registo desde 2018, quando 59 pessoas perderam a vida.

98 mortos: Corno de África/Iémen

Outra rota difícil de documentar é a travessia entre o Corno de África e o Iémen, onde morreram pelo menos 98 pessoas este ano, em comparação com 40 em 2020.

“Tragédias em massa envolvendo migração têm-se normalizado cada vez mais. A OIM insta os Estados a desenvolverem políticas e práticas para reduzir os riscos que muitas pessoas em movimento são forçadas a correr durante as viagens de migração”, acrescenta a organização.

27 mortos: naufrágio no Canal da Mancha

Este ano ficou também marcado pelo naufrágio de 27 migrantes que tentaram atravessar o Canal da Mancha, entre a França e o Reino Unido, naquele que foi o pior naufrágio a ocorrer naquele braço de mar.

A tragédia levou a uma resposta conjunta imediata entre os líderes dos dois países para evitarem que o canal se transforme “num cemitério”, apontando as culpas aos traficantes que vendem a viagem aos migrantes que querem entrar no Reino Unido, após meses de espera em Calais.

21 mortos: Bielorrússia/Polónia

Foi um dos eventos migratórios mais mediáticos do ano de 2021, quando milhares de migrantes ficaram encurralados na fronteira da Bielorrússia com a Polónia sob temperaturas muito baixas, à espera de entrar na União Europeia depois de terem sido utilizados como arma pelo líder bielorrusso, Alexander Lukashenko.

O governo polaco registou milhares de tentativas de entrada no país - 21 migrantes acabariam por perder a vida.

Associated Press

A OIM deixa o aviso: situações de migrantes envolvidos em “grandes tragédias” estão a ser “cada vez mais normalizadas”. Por isso, a OIM apela aos Estados para desenvolverem políticas e práticas que reduzam os riscos que muitas pessoas “estão forçadas a fazer” quando iniciam estes percursos. “As opções de migração segura não devem ser um privilégio apenas para uns”, apela a organização.

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