Estudo descobre 10.899 micróbios associados a alimentos. Metade destes organismos pertencem a espécies até agora desconhecidas
Aquele que é o maior estudo sobre micróbios e alimentos até agora realizado permitiu traçar a mais completa e detalhada base de dados sobre o genoma de bactérias e fungos dos alimentos que ‘habitam’ no corpo humano. E, de facto, a alimentação é a chave do microbioma intestinal.
Segundo o estudo, publicado esta quinta-feira na revista Cell, 3% do microbioma intestinal de um adulto é composto por microrganismos de alimentos. No caso das crianças, o peso da alimentação é ainda maior: 56% das bactérias que compõem o microbioma têm origem nos alimentos ingeridos.
Para conseguirem chegar a estes dados, investigadores de vários países e membros do consórcio europeu Microbiome Applications for Sustainable Food Systems (MASTER-h2020) sequenciaram metagenomas (conjunto de material genético de uma comunidade microbiana) de 2.533 alimentos de 50 países, incluindo fontes lácteas e bebidas e carnes fermentadas, tendo identificado 10.899 micróbios de espécies até então desconhecidas.
A boa saúde da microbiota intestinal tem sido apontada como chave para a boa saúde em geral e até para a prevenção de algumas doenças e este estudo vem provar que uma boa parte dos micróbios que habitam no intestino humano podem ser adquiridos através da alimentação, reforçando assim, e também, a importância da alimentação saudável e variada, com foco em alimentos fermentáveis (os chamados prebióticos e probióticos, por exemplo).
E isto é importante porque abre portas a mais evidência para a importância que as bactérias e fungos intestinais têm na saúde humana e até na resistência, ou não, a antibióticos, aquele que, segundo a Organização Mundial da Saúde, é um dos maiores flagelos médicos e científicos da atualidade.
Mas não só, o próprio estudo explica que “o isolamento direcionado e a caracterização funcional destes micróbios alimentares que detetamos apenas por metagenómica devem ser o próximo passo para explorar ainda mais o seu papel no processamento, qualidade e segurança de alimentos”, sobretudo no que diz respeito às bactérias patogénicas e potenciais causadoras de doença.