Do exemplo de Rúben Dias aos elogios de Bernardo Silva, João Carvalho esteve à conversa com o Maisfutebol, apontando ao próximo capítulo da carreira. Sem descartar o regresso à Liga, o médio reitera a importância da resiliência psicológica para almejar a felicidade - Parte III
A espreitar o futuro – num período de férias mais extenso do que o habitual – João Carvalho aproveita as semanas entre família e amigos para renovar energias.
Na ambição de se sentir «desejado», e de reencontrar a via da «ribalta», o médio, de 27 anos, continua de olho no futebol nacional e nos colegas de formação. Depois de 15 anos vinculado ao Benfica, João Carvalho acumulou épocas no Nottingham Forest, Olympiakos, Almería e Estoril.
No final da boleia concedida ao Maisfutebol, o criativo lembra que, em casa, em Castanheira de Pera, conta com uma sábia voz sempre ligada ao desporto.
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Parte I: «Faltou tempo a Carvalhal, mas o Olympiakos vive sob enorme pressão».
Parte II: «David Carmo está acima da média e foi uma agradável surpresa no Olympiakos».
Maisfutebol – Numa entrevista concedida em 2021, abordou o momento do futebol português. Depois de passar pelo Estoril, em 2022/23, que avaliação faz da Liga?
João Carvalho – Enquanto campeonato está muito melhor, com uma visibilidade diferente. Há clubes que ambicionam dar um passo idêntico àquele que o Sp. Braga deu. É importante. A minha preocupação é o tempo de jogo. E, depois, há o fator cultural, de todos opinarem sobre erros e polémicas.
MF – E na Grécia é diferente?
J.C. – É igual ou pior [risos]. Temos de olhar para quem está acima, como Inglaterra e Espanha.
MF – Quanto ao Euro 2024, o que tem a dizer sobre a campanha de Rúben Dias? Cresceu com ele no Seixal.
J.C. – Não vi os jogos todos. Foi um Europeu agridoce, porque tínhamos qualidade para mais e merecíamos mais. Mas, não foi pelo Rúben. Esteve ao nível a que nos habituou. É um jogador que merece todo o sucesso, pelo que trabalhou no Seixal e antes de ser titular no Benfica. Sempre trabalhou mais do que os outros. Vejo-o a manter-se no alto nível.
MF – Tendo um pai que foi jogador e treinador [António José dos Santos Carvalho, mais conhecido por Tozé, de 57 anos; jogou Académica na década de '90] é fácil pausar as conversas sobre futebol?
J.C. – Falamos de outros assuntos, mas habitualmente em volta do desporto. Gostamos de várias modalidades, como ténis, Fórmula 1 e motociclismo. Sempre que há competitividade, gostamos de acompanhar.
MF – Em 2017, marcou no Estádio do Dragão, pelo Vitória de Setúbal (1-1). Dias depois, Raphael Guzzo [na imagem acima, no canto superior direito], com quem partilhou balneário na formação, descreveu-o como humilde e com muito potencial. Nessa altura, também Bernardo Silva o elogiou. Em retrospetiva, como analisa este trajeto de carreira?
J.C. – Espero conseguir novos marcos e, sem dúvida, preferia estar noutro patamar. Trabalho por um desafio que me coloque na ribalta, ou, pelo menos, que me faça feliz.
MF – Na entrevista de 2021 referiu o inevitável receio de estagnar.
J.C. – É decisivo trabalhar todos os dias, sobretudo a força psicológica. Sei que, quando era mais novo, descurei um pouco essa parte. Agora, amadureci e estou preparado para o que surgir. Tenho qualidade e tempo para atingir os patamares ambicionados.
MF – Pensa voltar a Portugal?
J.C. – É uma porta aberta, mas terá de ser um bom projeto, onde me possa encaixar e sentir desejado. No final de contas, este poder de escolha é raro numa carreira, é a primeira vez que usufruo de tal.