Manifestantes invadem Senado mexicano em protesto contra reforma do sistema judicial

Agência Lusa , AM
11 set, 07:52
México (EPA)

Esta reforma está também a gerar fortes tensões com Washington, o principal parceiro comercial do país, e no próprio país, onde se realizam manifestações diárias há várias semanas

Várias centenas de manifestantes invadiram a sede do Senado mexicano para se oporem à reforma do sistema judicial do presidente cessante, Andrés Manuel Lopez Obrador, obrigando à deslocação dos debates.

"Senadores, parem o ditador", "o poder judicial não vai cair": foram estas as palavras de ordem entoadas pelos manifestantes que na terça-feira conseguiram chegar ao hemiciclo, de bandeiras mexicanas na mão.

Depois de ultrapassarem as barreiras de segurança, obrigaram o presidente do Senado, Gerardo Fernandez Noroña (da maioria presidencial), a suspender a sessão.

Fernandez Noroña anunciou pouco depois que a sessão ia ser transferida para o antigo edifício do Senado, sublinhando: "Haverá uma reforma do sistema judicial".

Os manifestantes, funcionários judiciais e estudantes de direito em greve, opõem-se a esta reforma, que tornará o México no primeiro país do mundo a nomear todos os juízes por “voto popular”, incluindo os do Supremo Tribunal.

Esta reforma está também a gerar fortes tensões com Washington, o principal parceiro comercial do país, e no próprio país, onde se realizam manifestações diárias há várias semanas.

A reforma já tinha sido aprovada na semana passada pelos deputados num ginásio, depois de a câmara baixa ter sido bloqueada por manifestantes.

O chefe de Estado mexicano, que em 01 de outubro vai ser substituído pela Presidente eleita Claudia Sheinbaum, do mesmo partido, afirmou que o sistema judicial mexicano é corrupto e serve apenas os interesses económicos da elite, enquanto mais de 90% dos crimes ficam impunes no México, de acordo com organizações não-governamentais (ONG).

Os opositores consideraram que a reforma vai pôr em causa a independência dos juízes e torná-los vulneráveis às pressões do crime organizado.

Os partidos da oposição, PAN, PRI e Movimento Cidadão, declararam que vão votar contra. "Já o dissemos antes e voltamos a dizê-lo: vamos lutar até ao fim para impedir este ultraje à República e à democracia", escreveu a senadora do Movimento Cidadão Alejandra Barrales.

"A demolição do sistema judicial não é o caminho a seguir", alertou a presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Norma Piña, num vídeo publicado nas redes sociais no domingo.

Lopez Obrador, que tem criticado frequentemente o Supremo Tribunal por travar várias reformas, avisou Piña contra qualquer tentativa de bloquear o processo, o que, considerou, seria uma "violação flagrante" da Constituição.

"O que mais preocupa os que se opõem a esta reforma é a perda dos privilégios, porque o poder judicial está ao serviço dos poderosos (...) e do crime de colarinho branco", declarou Lopez Obrador, cuja popularidade ronda os 70%.

Os Estados Unidos, principal parceiro comercial do México, consideraram a reforma "um risco" para a democracia mexicana e "uma ameaça" para as relações comerciais bilaterais, numa altura em que o México ultrapassou a China como o maior parceiro comercial do vizinho do norte.

De acordo com especialistas, a preocupação dos investidores com esta reforma contribuiu para uma forte queda do peso, que na semana passada atingiu o nível mais baixo em dois anos em relação ao dólar.

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