Fotógrafo capta imagens fascinantes dos flamingos que se tornaram moda

CNN , Rebecca Cairns
3 jul 2022, 17:00
Fotógrafo de conservação captura imagens fascinantes dos flamingos do México (Claudio Contreras Koob / Nature Picture Library - CNN)

Desde os quatro anos de idade que o fotógrafo Claudio Contreras Koob é obcecado por flamingos: as suas penas rosa vibrantes, bicos curvos em forma de chifre e pescoços elegantes e bem aprumados. 

Nascido e criado na Cidade do México, Koob visitava anualmente a Península de Yucatán durante as férias da escola. O pai construiu uma casa nas dunas da aldeia portuária de Chuburná, entre o mar e o pantanal, e juntos observavam colónias de flamingos a agruparem-se nas lagoas e pântanos lamacentos que se estendiam por quilómetros atrás da sua casa. 

“Era uma belíssima imagem quando conseguíamos avistar ao longe um grupo de pássaros rosa e laranja”, recordou Koob. “Ficou para sempre na minha memória”. 

O flamingo das Caraíbas é "emblemático" da Península de Yucatán, local de origem do pai, diz Koob. A espécie aparece em toalhas de praia, insufláveis de piscina, mobiliários de jardim, e até mesmo em embalagens de sal rosa. Contudo, apesar da sua popularidade, em Yucatán e outros países, pouco se sabe sobre os seus movimentos e biologia, diz. 

O flamingo das Caraíbas vive em zonas pantanosas salgadas e em águas costeiras em redor do México, dos Estados Unidos e das Caraíbas. Créditos: Claudio Contreras Koob / Nature Picture Library 

Décadas após os primeiros avistamentos deste “pássaro icónico”, Koob partilha a sua paixão num novo livro de fotografia, "Flamingo", publicado no mês passado. O fotógrafo torce para que os seus retratos íntimos do pássaro ajudem outros a “apaixonarem-se por flamingos” e os inspirem a preocuparem-se com as zonas pantanosas onde eles habitam. 

Do laboratório à fotografia 

O fascínio de Koob pela natureza em criança levou-o a estudar biologia da vida selvagem na Universidade Nacional Autónoma do México, onde fez um curso de microfotografia e descobriu “o poder da linguagem da fotografia”, afirma. 

Combinando as suas paixões, Koob concentrou-se na fotografia de conservação quando deixou a universidade. Juntou-se à Liga Internacional de Fotógrafos de Conservação que, em 2009, solicitou-lhe que capturasse a marcação de filhotes de flamingo em Yucatán. 

Com o apoio do Programa de Conservação de Flamingos do México, gerido pela Fundación Pedro y Elena Hernández desde 2015, Koob dedicou vários anos à recolha das imagens que compõem o seu livro. Ele diz que o maior desafio era aproximar-se das aves reprodutoras. 

“Se incomodarmos um flamingo, eles começam a gritar e a voar para longe, e isto pode causar pânico. Consequentemente, podem deixar todos os ovos para trás, e abandonar a colónia”, diz Koob. 

Durante anos, Koob trabalhou para ganhar a confiança dos flamingos para poder fotografar as suas colónias de criação e os seus filhotes. Créditos: Claudio Contreras Koob / Nature Picture Library 

Koob revela que a sua "abordagem lenta" relativamente à fotografia possibilitou-lhe a recolha de imagens íntimas dos flamingos. Ele utilizava frequentemente camuflagem, rastejando em terrenos lamacentos para se aproximar dos pássaros sem os assustar. 

Em algumas ocasiões, o fotógrafo levava um barco para as lagoas antes do amanhecer, para que as aves se habituassem à sua presença ao nascer do sol, e ficava até depois do anoitecer. “É difícil, com o sol e 40 graus de calor”, comenta Koob. “É muito desgastante para o corpo”. 

Vestidos de rosa 

Ao contrário dos seres humanos, os flamingos estão bem-adaptados ao seu meio ambiente extremo. 

Reunindo-se em grupos designados pelo nome “flamboyance”, os flamingos vivem tipicamente em água salobra, mas alguns habitam “lagos de soda” que possuem água tão rica em carbonato de sódio que irritariam ou queimariam a pele da maioria dos animais. 

Em termos de alimentação, os flamingos têm poucos predadores ou outras aves que competiriam por comida. Os flamingos precisam de consumir 10% do seu peso corporal diariamente, informa Koob. Deste modo, é importante que estes animais tenham tempos de alimentação longos e tranquilos. 

A sua dieta inclui algas, camarões e moluscos que contêm grandes quantidades de carotenóides, o pigmento que dá cor às frutas e vegetais, tal como cenouras, abóboras e tomates, e que também é responsável pela sua coloração rosa, refere. 

Pântanos sob ameaça 

A preservação dos flamingos é uma das grandes prioridades do México desde os anos 70 e 80, quando estabeleceu duas reservas federais de zonas pantanosas na península de Yucatán, mais tarde designadas como Reservas da Biosfera da UNESCO. 

A Ría Lagartos encontra-se a leste do país, onde os flamingos se aninham e reproduzem, enquanto na fronteira ocidental de Yucatán, a Ría Celestún é um local de alimentação importante. As reservas adicionais estabelecidas pelo governo local de Yucatán significam que quase todas as zonas pantanosas da península estão protegidas, informa Koob. 

O número de flamingos tem vindo a aumentar desde o estabelecimento destas reservas, diz. Com base no número de ninhos na colónia de reprodução da Ría Lagartos, a National Commission of Natural Protected Areas (CONANP) estima que existiam cerca de 30.000 aves adultas em 2021

No entanto, estas reservas não proporcionam uma proteção integral, diz ele. Os agroquímicos utilizados nas regiões montanhosas fluem através dos sistemas fluviais submarinos e poluem as zonas pantanosas, e embora as reservas devam ser protegidas contra o desenvolvimento urbano, Koob diz que ainda há casos de construção ilegal e eliminação de lixo

As alterações climáticas e a subida do nível do mar ameaçam o habitat dos flamingos, e o turismo também. Apesar de a colónia de nidificação estar fechada aos turistas, cerca de 50.000 visitantes deslocam-se todos os anos a Celestún para ver os flamingos, o que perturba os seus hábitos alimentares. Por conseguinte, as autoridades introduziram regulamentações para limitar o número de turistas, informou Koob, acrescentando de seguida que é demasiado cedo para saber se estas regras serão suficientes. 

De momento, Koob está de volta a Yucatán a viver na sua casa de férias de infância em Chuburná, enquanto fotografa as zonas pantanosas. Desta vez, os caranguejos-ferradura são o seu foco, e espera poder continuar a chamar mais atenção para a vida selvagem e as comunidades que nela vivem.  

“Para muitos, pântanos são um lugar fedorento, escuro e arrepiante. Mas está cheio de maravilhas e o flamingo é uma delas”, diz. 

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