Mais doenças hormonais, quadros de ansiedade e até de depressão. Tentámos perceber quais os fatores que estão a fazer com que isto aconteça
É um momento marcante no crescimento de qualquer rapariga: a primeira menstruação (ou menarca, de acordo com a terminologia médica) é uma expressão natural da puberdade e, regra geral, antecede várias alterações morfológicas próprias desta fase do desenvolvimento do corpo. Mas se, hoje em dia, a primeira menstruação surge na maioria das raparigas entre os 11 e os 12 anos, a verdade é que nem sempre foi assim.
Com efeito, se recuarmos a épocas mais distantes, constatamos que a primeira menstruação surgia muito mais tarde do que agora - no século XIX situava-se por volta dos 15 anos e no século anterior aos 16. Progressivamente, a menarca foi aparecendo cada vez mais cedo. O que nos leva à questão: porquê?
A obesidade parece ser outro ponto-chave e a razão pode estar na produção de leptina. Diversos estudos têm relacionado a leptina, que é produzida pelo tecido adiposo, com o sistema reprodutor e o aparecimento de uma puberdade precoce.
A jornalista norte-americana e especialista em assuntos de Ciência Donna Jackson Nakazawa tem-se debruçado sobre este tema e, numa entrevista à CNN Internacional, acrescenta outra ideia importante: "Alguns neurocientistas afirmam que é possível que a sexualização das raparigas, em idade precoce, seja outra parte da razão pela qual elas estão a passar pela puberdade mais cedo. Se o ambiente diz que uma pessoa é sexual, isso pode estimular os caminhos que desencadeiam a puberdade".
Apesar de haver dados pouco concretos sobre este assunto, a combinação destes fatores parece ser a explicação mais evidente para a evolução da puberdade nas raparigas, ao longo da História. Uma evolução que tem consequências.
Cancro da mama e depressão: os possíveis efeitos
Como menstruam cada vez mais cedo, as mulheres acabam por estar expostas a alterações hormonais durante um período de tempo mais longo. E isto tem efeitos, sobretudo a longo prazo: "As doenças hormonais podem ter mais prevalência, como é o caso do cancro da mama", frisa Irina Ramilo.
Em entrevista à CNN Internacional, Donna Jackson Nakazawa lembrou que a puberdade está a acontecer "num momento em que o cérebro não deveria ser transformado". "Todas essas partes do cérebro que ajudam a discernir o que devemos ou não responder e quando precisamos de ajuda ainda não se desenvolveram", sublinha.
"Isso significa que elas estão a passar por emoções e vivenciam um aumento do stress antes dos seus cérebros estarem desenvolvidos e aptos para lidar com estas transformações. É uma incompatibilidade evolutiva", vincou Nakazawa.
Um cenário que se agrava se se tiver em conta que as famílias podem não estar sensibilizadas para esta temática. "Os pais não estão a pensar que uma menina com oito anos vai ter a menstruação pela primeira vez. Estas meninas são muito novas", frisa a ginecologista Irina Ramilo.
Por isso, Irina Ramilo defende que, aqui, a escola deve ter um papel fundamental. A médica acredita que as informações sobre o aparelho reprodutor feminino devem ser exploradas mais cedo e, a este propósito, acrescenta: "Como a sexualidade também é vivida mais cedo, a própria educação sexual também deve ser implementada mais cedo".