Os humanos não são feitos para se lembrarem de tudo. Aqui ficam cinco dicas para não esquecer as coisas importantes

CNN , Andrea Kane
19 jun, 18:00
Homem a apontar tarefas para realizar. (Pexels)

A maioria de nós está familiarizada com a frustração de esquecer - seja a luta com uma palavra na ponta da língua, a perda de itens importantes como chaves ou óculos, ou até mesmo o esquecimento de que por motivo entrou numa sala.

Como podemos fazer qualquer coisa além de esquecer - especialmente numa época em que somos submetidos a uma enxurrada de informações a cada minuto, entre a nossa vida no mundo físico e o que chega até nós eletronicamente através de smartphones, televisões, computadores e muito mais?

O americano médio é exposto a cerca de 34 gigabytes - ou 11,8 horas - de informações todos os dias, começa por explicar Charan Ranganath no seu mais recente livro “Why We Remember: Unlocking Memory’s Power to Hold on to What Matters” (Porque é que nos lembramos: desbloqueando o poder da memória para reter o que importa, em tradução livre), ainda não editado em Portugal. Este número veio de um relatório de 2009 do Global Information Industry Center da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos.

"Da última vez que pesquisei, a estimativa aumentou ainda mais desde então", adianta Ranganath ao correspondente médico da CNN, Sanjay Gupta, numa recente conversa no seu podcast Chasing Life. Ranganath lidera o Laboratório de Memória Dinâmica da Universidade da Califórnia, Davis, onde também é professor de psicologia e neurociência.

Longe de se lembrar de todas estas informações, o especialista garante que a ciência da memória mostra que os humanos são projetados para esquecer. De facto, o livro de Ranganath faz referência ao trabalho do psicólogo cognitivo George Miller, que concluiu num artigo de 1956 que só conseguimos manter sete itens (mais ou menos dois) na mente de cada vez. (Estudos subsequentes, escreveu Ranganath, mostram que o número está mais próximo de três ou quatro itens.)

“Acho que um dos equívocos por aí… é que deveríamos absorver tudo o que está ao nosso redor”, diz, mas apressa-se a contrariar: “Na verdade, os nossos cérebros operam com base neste princípio de economia: obter o mínimo de informação possível e extrair o máximo dessa informação”.

“É tudo uma questão de economia e de poder usar a atenção como um grande filtro para poder focar nas coisas que são mais importantes”, esclarece.

“Às vezes, são as coisas que a pessoa espera, e às vezes são as coisas que contrariam as expectativas - e é aí que reside o maior significado”, continua. “Mas também significa que às vezes deixamos passar coisas, e acabamos frustrados porque a nossa atenção estava direcionada para o lugar errado na hora errada”

Melhorar a memória não significa tentar acumular mais informações na cabeça. "O que eu gosto de dizer é: não tente lembrar-se de mais, [mas] lembre-se melhor", brinca Ranganath, explicando que "às vezes, lembrar melhor significa memorizar menos"

Uma forma de fazer isso, adianta Ranganath, é com um processo chamado chunking - ou agrupamento de muitas coisas numa só. Dessa forma, lembramos do alfabeto, assim como do nosso número de contribuinte e, no caso dos norte-americanos, dos nomes dos Grandes Lagos (a sigla HOMES para Huron, Ontário, Michigan, Erie e Superior). Ao agrupar estes itens, a pessoa reduz o número de coisas das quais precisa de se lembrar: em vez de 26 itens separados, o alfabeto torna-se um só.

Da mesma forma, atletas de memória - que competem para memorizar o máximo possível de dígitos de pi ou a ordem de um baralho de cartas - "desenvolvem estratégias que lhes permitem encaixar significativamente as informações que estão a tentar lembrar nessa estrutura maior, de modo que 10 coisas possam tornar-se uma coisa só", diz Ranganath.

E o que pode fazer se sofre de esquecimento? Aqui estão as cinco dicas de Ranganath para ajudar a formar memórias para eventos importantes. Tudo o que precisa de fazer é lembrar de "chamar um MÉDIC[O]!", vinca o especialista

M é para significado (meaning, em inglês)

Associe o que quer lembrar a algo importante. “Pode lembrar-se de informações como nomes se puder vinculá-las a informações que tenham significado para si”, começa por dizer, passando a exemplos: se é um fã da mitologia grega, pode associar o primeiro nome de Ranganath, Charan, a Caronte, o barqueiro do submundo que, por um preço, transporta as almas dos mortos através do Rio Estige. “E [ pode] imaginar-me a transportar as pessoas através do rio dos mortos ”, diz. Essas imagens vívidas podem ajudar a lembrar um nome.

E é para erro

Faça o seu próprio teste. Mesmo que cometa um erro, Ranganath explica que o método de tentativa e erro é uma das melhores maneiras de se lembrar de algo. “Se estiver a aprender um novo nome ou uma palavra numa língua estrangeira, tente adivinhar qual poderia ser o nome ou o significado da palavra”, sugere.

Quando aprende a resposta, adianta, o cérebro pode "ajustar essa memória para garantir que esteja mais associada à resposta certa e [que seja] menos provável de ser associada a respostas concorrentes".

D é para destaque

“Assim como é mais fácil encontrar um post-it rosa-choque numa mesa cheia de notas amarelas, é mais fácil encontrar memórias que tenham características que se destaquem de outras memórias”, vinca Ranganath.

E dá um exemplo: “Quando pousar as chaves, reserve um momento para prestar atenção a um detalhe, como um som ou uma indicação visual única”, algo que, garante, ajudará muito a lembrar onde as colocou enquanto corre freneticamente para sair de casa.

I é para importância

Aproveite o facto de que o cérebro se adaptou para sinalizar momentos significativos.

Ranganath diz que “retemos memórias de eventos importantes - num sentido biológico”, mas “quando temos experiências gratificantes, assustadoras ou constrangedoras, substâncias químicas como dopamina, noradrenalina ou serotonina são libertadas, promovendo a plasticidade”. Esses neurotransmissores ajudam a consolidar um pouco mais a experiência na memória.

A curiosidade também pode desempenhar um papel aqui: “Descobrimos que a curiosidade tem um efeito semelhante na memória”, explica, observando que a curiosidade ativa “áreas do cérebro que transportam dopamina” e promove a aprendizagem. E deixa uma dica: “Então, antes de aprender, fique curioso sobre o assunto!”.

C é para contexto

Use os seus sentidos para viajar um pouco no tempo. “As nossas memórias de eventos, ou memórias episódicas, estão ligadas ao local e à época em que o evento ocorreu”, explica o especialista e autor. É por isso, continua, “que ouvir uma música que tocou durante o seu verão na faculdade ou sentir o cheiro da comida que a sua avó costumava fazer pode transportá-lo  imediatamente de volta no tempo”.

“Se estiver a tentar lembrar-se de um evento passado, imagine-se naquele lugar e naquele momento - como se sentiu, em que é que estava a pensar, as imagens e os sons do lugar - e perceberá que está a puxar muita coisa [para a memória]”, conclui.

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