Isto vai causar celeuma: algumas surpresas no melhor 11 do Euro 2024

15 jul 2024, 00:09
Lamine Yamal (Getty)

Este é o 11 escolhido pela CNN Portugal. Formação: 4x3x3. O avançado é uma surpresa - os outros jogadores também podem ser, mas nenhuma como o avançado

GUARDA-REDES

ITÁLIA 
GIANLUIGI DONNARUMMA

Depois de Gianluigi Buffon ter assinado os papéis para a reforma podia pensar-se que Itália iria ter dificuldades em encontrar uma nova muralha para a baliza. O substituto foi outro Gianluigi, desta vez com apelido Donnarumma e, neste Euro 2024, comprovou que foi a escolha certa. Com 1,96 metros e 25 anos, o guarda-redes do PSG foi a salvação da Squadra Azzurra. Não fossem as impressionantes intervenções contra Croácia e, sobretudo, contra a Espanha e podíamos ter assistido a um cataclismo semelhante ao que aconteceu no Brasil 1-7 Alemanha no Mundial de 2014. NM

LATERAL DIREITO

ESPANHA
DANI CARVAJAL

A escolha podia ser Koundé (recordista de recuperações até às meias-finais, a par de Rice), podia ser Kyle Walker (que aos 34 anos é o 20.º jogador mais veloz do torneio, 34.8 km/h, à frente de Dembélé, Pedro Neto, Cancelo, Doku, Wirtz e etc), mas é Carvajal, que não tem qualquer estatística super - à entrada para final era o quarto espanhol com mais bolas recuperadas (e nem sequer jogou a meia-final por estar suspenso, provavelmente tinha possibilidade de algo mais super que ser o quarto espanhol nisto), era o quinto em tackles, o oitavo em eficácia de passe, portanto não era o primeiro em nada mas é sempre dos primeiros a sujar os calções, a mostrar os dentes aos adversários, é sempre dos primeiros a empapar a camisola de suor, a fazer uma entrada rija, Carvajal é sempre dos primeiros a mostrar que o jogo vai doer a todos mas sobretudo aos rivais - Carvajal é entrega, empenho, joga sempre mais do que o valor que tem e isso faz dele super, extremamente super, irritantemente super para quem tem de levar com ele pela frente. GO

CENTRAL

ESPANHA
AYMERIC LAPORTE

Deixou o nosso radar quando, de forma algo surpreendente e extemporânea, decidiu trocar futebol a sério por rios de dinheiro e juntar-se ao Al Nassr de Otávio, Alex Telles e Talisca. Pensávamos que o seu nível tivesse baixado, mas, como também mostrou N’Golo Kanté, não é a Arábia Saudita que faz um jogador perder qualidade. Aymeric Laporte foi o grande patrão da defesa espanhola, formando uma dupla discreta, mas formidável, com outro francês, Robin Le Normand, que foi uma das chaves para o sucesso espanhol neste Euro 2024. Não foi por acaso que Espanha venceu todas as suas partidas e, se tanto elogíamos Williams, Lamal e o meio-campo espanhol, também temos de dar créditos à defensiva espanhola. Ao longo deste Europeu, Laporte foi o jogador espanhol com mais recuperações de bola – 37 e tentativas de desarme – 24. Uma bela performance. PF

CENTRAL

FRANÇA
WILLIAM SALIBA

Se França chegou até às meias-finais do Euro 2024 não foi, certamente, devido ao seu ataque. Mbappé esteve muito abaixo do esperado e daquilo que apresentou no último Mundial, e figuras como Dembelé, Thuram e Griezmann também não corresponderam às expectativas. A chave esteve, então, na parte mais recuada da equipa. Uma das peças-chave foi William Saliba, que cada vez mais pode ser considerado um dos melhores centrais do mundo. O jogador francês foi o sétimo do Europeu com mais tentativas de desarme, 25, e o 11.º da competição com mais bolas recuperadas, 31. Liderou uma defesa bem composta por Upamecano, Koundé e Theo Hernández, que foi a responsável por fazer da França a equipa com mais jogos sem sofrer golos, quatro, registados contra Áustria, Países Baixos, Bélgica e Portugal. PF

LATERAL ESQUERDO

ESPANHA
CUCURELLA

Acabou o Euro da melhor maneira possível: a vencê-lo com uma assistência para o golo de Oyarzabal. Cucurella é raça, é calção sujo, é rebolar pelo chão, é atirar-se para a linha de golo para evitar um golo croata, é fazer carrinhos, cargas de ombro, é dar empurrões e compensar taticamente desequilíbrios, Cucurella é jogar primeiro para a equipa, depois para a equipa, a seguir para a equipa e nunca para ele próprio. É um grau de abnegação maior que o talento técnico de que dispõe mas às vezes isso vale muito para um treinador, valeu para Luis de la Fuente - que preferiu dar a titularidade a Cucurella em vez de a Grimaldo e houve gente horrorizada com isso no início do torneiro. Mas os horrores comprovam-se ou anulam-se dentro de campo e Cucurella sai deste Euro como um dos nomes maiores do novo campeão da Europa. Fez por isso, mereceu-o. GO

MÉDIO

ESPANHA
RODRI

Rodri é muito provavelmente o melhor médio defensivo do mundo, neste momento. O trinco do Man. City foi considerado o melhor jogador do Euro 2024 e as estatísticas mostram porquê: em seis jogos, Rodri recuperou a bola 33 vezes, correu quase 70 quilómetros e tem uma eficácia de passe de 92.84%. Foi fulcral na fase defensiva espanhola e a pedra basilar no início da fase de construção. Numa seleção repleta de novos talentos, o trinco foi essencial para manter o equilíbrio tático e uma das melhores armas do arsenal de Luis De La Fuente. No entanto, é necessário fazer-se referência a outro trinco: N’Golo Kanté - a anomalia deste Euro 2024, porque não contava para Deschamps até à última convocatória, ele que é um médio defensivo com apenas 1,68 metros. O tempo parece não ter passado por Kanté, que se manteve como um dos jogadores mais consistentes dos Les Blues. NM

MÉDIO

ESPANHA
FABIÁN RUIZ

Candidato a melhor do torneio, o que é surpreendente sem o ser: Fabián Ruiz tem uma maneira discreta de ser essencial - o impacto na equipa é óbvio nos números, dois golos e duas assistências, o impacto também óbvio na maneira como une os setores defensivo e ofensivo da seleção mais completa deste Euro, mas Fabián Ruiz não tem o futebol explosivo que faz de jogadores como Nico ou Yamal candidatos a prémios e a elogios loucos (mas merecidos). Fabián Ruiz é outra coisa, é o municiador de granadas e de todo o género de armamento para Nico e Yamal e Dani Olmo irem lá à frente causar danos maciços nas defesas adversárias, Fábian Ruiz é portanto o mentor dos acontecimentos - qualquer equipa que queira fazer mal a Espanha tem de começar por anular Fábian Ruiz, se falhar nisso vai correr mal - que foi como correu genericamente a todas as equipas que defrontaram Espanha. Fábian Ruiz tem um futebol do tamanho dele, 1.89 metros, ou até maior do que isso. GO

MÉDIO

SUÍÇA
GRANIT XHAKA

Transportou a boa forma da época no Bayer Leverkusen para este Europeu e foi o pulmão de uma poderosa Suíça, que mais uma vez caiu apenas no desempate por grandes penalidades nos quartos de final, desta vez frente a Inglaterra. Boa parte da qualidade das exibições dos helvéticos passou pela segurança que Xhaka deu ao meio-campo, tanto a nível ofensivo como defensivo. Foi o 9.º jogador deste Euro com mais passes tentados, 401, e o 4.º médio com mais passes completados, 371, apenas atrás de Toni Kroos, Declan Rice e Rodri. A percentagem de passes completos é, então, de 90,8%, muito acima da média. Percorreu também uma média de 11,8 quilómetros por jogo. Com 31 anos, ainda vai a tempo de competir a bom nível em, pelo menos, mais um Mundial e um Europeu. PF

EXTREMO-DIREITO

ESPANHA
LAMINE YAMAL

Lamine Yamal, o pequeno grande génio espanhol que ainda nem sequer tem idade para ter a carta de condução, foi a grande revelação deste campeonato da Europa. Impôs-se no um para um, desequilibrou, assistiu e marcou - por vezes nos momentos mais delicados para a seleção de Espanha, como aconteceu na meia-final contra França. Por tudo isto e por nos ter feito acreditar no regresso dos românticos ao futebol moderno, Lamine Yamal entra para esta lista. E o que há mais a dizer sobre Yamal? É incrível, mas só o tempo ditará se vai acabar por conquistar um lugar no hall of fame do desporto rei ou cair no esquecimento como tantos outros jovens que pareciam ter tudo para serem um dos melhores de sempre. NM

EXTREMO ESQUERDO

ESPANHA
NICO WILLIAMS

Só há três jogadores mais velozes que Nico neste Euro, um deles é também de Espanha - trata-se de Ferran Torres, os outros são Sesko e Mbappé. E ser veloz é importante para Nico - o futebol dele é técnico, é imprevisível, é elaborado, é simples quando tem de ser e criativo quando a equipa precisa de soluções adicionais para abater os muros defensivos mais resistentes, mas é quando Nico injeta velocidade no seu talento e inteligência que tudo à volta dele se torna inferior a ele. Falta-lhe ainda um pouco de golo - só um até à meia-final é insuficiente para o que ele sabe rematar, mas compensou ao marcar no jogo decisivo. Dizem que vai rumar ao Barcelona depois deste Euro mas para começar já rumou ao nosso 11 do Euro - e tem do futebol mais alegre que é praticado pelos nossos titulares. GO

AVANÇADO

ESLOVÁQUIA
IVAN SCHRANZ

Penso que o leitor não estava à espera desta, mas, olhando para o panorama geral dos atacantes deste Euro 2024, é difícil escolher um que não Ivan Schranz. Poderíamos ter optado por Harry Kane, mas o inglês não se apresentou no topo da sua forma. Mais impressionante que os golos é a forma como os conseguiu. Ao serviço da modesta Eslováquia, Schranz fez apenas cinco remates em todo o torneio. Quatro foram enquadrados, um foi intercetado. Dos quatro que foram enquadrados, três deram golo, contra Bélgica, Ucrânia e Inglaterra, este último quase eliminando a seleção dos Três Leões. Em termos percentuais é absurdo: 60% dos remates de Schranz neste Europeu fizeram mexer o marcador. Na lista de melhores goleadores, apenas Georges Mikautadze, com 42%, se aproxima, mas o jogador georgiano beneficiou da marcação e conversão de duas grandes penalidades. É ainda mais impressionante quando nos apercebermos que Mbappé converteu apenas um dos 24 remates que fez – novamente um penálti – e nenhum dos 23 remates de Cristiano Ronaldo deu golo. Schranz fez muito melhor a jogar num contexto mais difícil, sempre contra equipas superiores na teoria. PF

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