Investigação da ONU descobre que 9 funcionários da UNRWA “podem ter” estado envolvidos no ataque de 7 de outubro

CNN , Richard Roth e Mick Krever
6 ago, 15:46
UNRWA

Uma investigação das Nações Unidas descobriu que nove funcionários da sua principal agência de ajuda humanitária aos palestinianos, a UNRWA, “podem ter” estado envolvidos no ataque de 7 de outubro. Os funcionários em causa já não trabalham na UNRWA, que tem 14 mil funcionários em Gaza.

A investigação foi lançada em janeiro, após Israel acusar alguns funcionários da UNRWA de participarem no ataque que causou 1.200 mortes em Israel. Os investigadores da ONU não conseguiram falar com os acusados, embora alguns tenham respondido por escrito.

Alguns dos nove funcionários em causa foram despedidos em janeiro, quando Israel fez as suas alegações. Outros foram demitidos após novas alegações feitas na primavera, revelou à CNN Juliette Touma, porta-voz da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA).

O Escritório de Serviços de Supervisão Interna da ONU (OIOS, na sigla inglesa) investigou um total de 19 funcionários que foram acusados por Israel de participação no ataque.

“As evidências obtidas pelo OIOS indicaram que os funcionários da UNRWA podem ter estado envolvidos nos ataques armados de 7 de outubro de 2023”, disse o OIOS. Em nove outros casos, o organismo disse que as evidências eram “insuficientes” para que os funcionários fossem demitidos, mas que “medidas apropriadas serão tomadas no devido tempo”. No caso final, “nenhuma evidência foi obtida pela OIOS para apoiar as alegações de envolvimento dos funcionários”.

Numa publicação feita na rede social X, um porta-voz das Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla inglesa), Nadav Shoshani, disse: “nove dos seus funcionários podem ter participado do maior massacre judeu desde o Holocausto”.

“A sua agência de ‘alívio’ caiu oficialmente para um novo patamar e está na hora do mundo ver a sua verdadeira face”.

A UNRWA foi fundada pela ONU um ano após a guerra árabe-israelita de 1948, que marcou a criação de Israel e a saída de mais de 700 mil palestinianos das suas casas num evento conhecido pelos palestinianos como Nakba (catástrofe).

A agência fornece uma ampla gama de ajuda e serviços para refugiados palestinianos e os seus descendentes. É uma grande fonte de emprego para os refugiados, que compõem a maioria dos seus mais de 30 mil funcionários em todo o Médio Oriente, e tem escritórios de representação em Nova Iorque, Genebra e Bruxelas.

Numa declaração feita na segunda-feira, o comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, disse que a “prioridade da sua agência é continuar os serviços essenciais e de salvamento para os refugiados palestinianos em Gaza e em toda a região, especialmente perante a guerra em curso, a instabilidade e o risco de escalada regional [do conflito]”.

“A UNRWA está comprometida em continuar a defender os princípios e valores fundamentais das Nações Unidas, incluindo o princípio humanitário da neutralidade, e em garantir que toda a sua equipa cumpra a política da agência sobre atividades externas políticas”.

Financiamento vital foi cortado

Em janeiro, o governo israelita acusou alguns funcionários da UNRWA de envolvimento nos ataques de 7 de outubro. O governo de Telavive não tornou as suas evidências públicas, nem - de acordo com a UNRWA - as partilhou com a UNRWA. No entanto, a agência disse em janeiro tinha rescindido os contratos dos funcionários acusados.

Também em janeiro, o chefe da Diretoria dos Serviços Secretos Militares das Forças de Defesa de Israel, o major-general Aharon Haliva, encontrou-se com altos funcionários dos EUA para partilhar a informação que o seu país tinha sobre os acusados. “Demos-lhes nomes específicos e quais as organizações em que são afiliados, seja Hamas ou PIJ [Movimento da Jihad Islâmica]ou outros, e o que exatamente fizeram a 7 de outubro. Mostramos-lhes que tínhamos informação sólida de diferentes fontes”, disse, à data, um oficial israelita à CNN Internacional.

Israel divulgou em fevereiro alguns detalhes sobre os 12 funcionários que acusou, incluindo os seus nomes, fotografias e supostas funções no Hamas. Os detalhes adicionais também incluíam capturas de ecrã dos telemóveis que Israel disse pertencerem a dois funcionários da UNRWA - um assistente social e um professor de matemática.

O Ministério da Defesa também forneceu fotografias de dez outros supostos membros do Hamas, as suas posições e o suposto envolvimento na incursão mortal, mas não forneceu nenhuma evidência de apoio para respaldar as suas alegações. A CNN não pode verificar de forma independente a identidade dos homens ou as alegações de Israel sobre o envolvimento com o Hamas.

As alegações levaram vários dos mais importantes doadores da UNRWA a retrair o financiamento da agência. A maioria desses países restabeleceu o seu financiamento. Os Estados Unidos - que historicamente é o maior doador da UNRWA - não o fez.

Israel acusou outros funcionários de envolvimento em março e abril.

Os investigadores da OIOS encontraram-se com autoridades israelitas como parte da sua investigação e reviram as suas informações. Também reviram as comunicações os relatórios de redes sociais dos funcionários da UNRWA.

“Por questões de segurança”, não se encontraram com os funcionários acusados da UNRWA ou com testemunhas que os corroboraram.

“Em alguns casos, no entanto, o OIOS conseguiu solicitar e garantir declarações gravadas em vídeo dos indivíduos que responderam a uma série de perguntas definidas, abordando as alegações do seu envolvimento nos ataques armados de 7 de outubro de 2023”, disse a ONU num comunicado.

Médio Oriente

Mais Médio Oriente

Patrocinados